Full text of "Veritas"
REVISTA
PONTIFICIA UNIVERS1DADE CATÓLICA
DO RIO GRANDE DO SUL
DOM VICENTE SCHERER — Discurso sobre
liberdade de enslno . 3
|
DR. OLYNTHO SANMARTIN — Arte Mo¬
derna . 9
j P. CARLOS BORROMEU C. PP. S. — Um
perfil intelectual de nossa época .... 18
PROF.0 HILDEGARD HILTMANN — Le test
de pyramides des couleurs et les résul¬
tats cliniques obtenus . 23
IR. IGNACIO JOSÉ — El Idioma Español . . 38
IR. ELVO CLEMENTE — Lobo da Costa !
Satírico . 53
PROF.a RUTH CABRAL — Monografía da
Profissao de Técnico em Educacao . . 65
PROF.a BETTY B. B. FORTES — Dionisio ¡
Fuertes Álvarez . 77
PROF. IR. JUVÊNCIO — Fixacao de dunas 84
Bibliografía . 94
ANO II! — Marco de 1958
N.° 1
VERITAS
Publicaçâo Periódica-T rimestral
EXPEDIENTE:
Diretor-responsável
Irmào José Otáo
Secretario
Irmào Elvo Clemente
i
Comissâo de Redacao
3
Prof. Irmào Faustino Joào
Prof. Antonio César Alves
Prof. Francisco da Silva Juruena
Prof. Des. Celso Afonso Pereira
Prof. Manuel Santana
Professôra Elsa Helm
ADMINISTRAÇÂO
Pontificia Universidad0 Católica do RGS — Praga Dom Sebastiáo, 2
PÔRTO ALEGRE (Brasil)
Prero anual. . Cr$ 100 00
Número avulso . . Cr$ 30,00
Exterior . $2 dó^res
Professóres e alunos da Univ. assinatura anual Cr$ 50,00
Formas de pagamento: Vale postal, va’or declarado ou che¬
que pagável em Porto Alegre.
— Rúa Cons. Travassos, 518 —
gráfica polaco
Fone 2-45-23
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
DO RIO GRANDE DO SUL
TOMO III
1958
PORTO ALEGRE (RGS)
BRASIL
Digitized by the Internet Archive
in 2018 with funding from
Princeton Theological Seminary Library
https://archive.org/details/veritas3119unse
DISCURSO DO SR, ARCEB1SPO METROPOLITAN O
POR OCASIÂO DO SEU ll.? ANIVERSARIO BE
SAGRAÇÂO EPISCOPAL — 23-2-1958
A Direçâo da «VERITAS» so honra cm publicar o moimmental
discurso de S. Ex. a Rev. ma D. Vicente Scherer, cm defesa da
educaçâo crista e do ensino particular
A tribu o a esta solenidade, com palavras empregadas em recen¬
te documento por Pió XII, a significaçao de um «testemunho de
unidade e de caridade». Testemunho de unidade das forças, das ini¬
ciativas, das vontades e dos coraçoes em torno da pesso'a do Bispo,
como penhora de ortodoxia na doutrina e de fecundidade na açâo;
testemunho de caridade, compre :nsáo, amor fraterno que necessà-
riamente, na familia diocesana crista, manifestam e caracterizam a
presença e o espirito de Deus. Nao é como «príncipe da Igreja» que
apraz ao Bispo ser definido e tratado, mas como Pastor e Pai, que
nâo conhece preocupaçoes e alegrías outras que o bem espiritual e
material das ovelhas de Cristo confiadas à sua solicitude, à sua vi-
gilância e ao seu govêrno. Aos presentes, pois, e a todos que bon¬
dosamente se associaram a êste expressivo testemunho, principalmen¬
te ao generoso intérprete dos sentimentes da coletividade católica,
a segurança do nosso sincero reconhecimento.
Acrescentou o Santo Padre às palavras citadas que «para o Bispo,
responsável pelo apostolado em sua diocese e pela doutrina que nela
se ensina, todos os esforços devem convergir. Faltando esta inser-
çâo profunda nos empreendimentos comuns da Igreja em tal re¬
gido em tal meio, o ministério particular arrisca-se bem depressa a
perder sua fecundidade sobrenatural, como um rio desligado de
sua nascente nâo tarda em secar». (Carta ao Cardeal Feltin, 25-3-
1957).
TRIGO El JOÏO
Consola-nos sobremodo o exuberante florescimento das obras
de religiâo, de apostolado, de assistência e caridade que o zêlo e a
generosidade do clero e de leigos operosos por tôda parte promovem
e aperfeiçoam, dominados pelo amor de Cristo, obedientes aos apelos
da Igreja, angustiados pela miséria moral e espiritual dos esqueci-
dos de Deus e pela penuria económica dos abandonados pela justiça
social dos homens.
4
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
Mas, observamos igualmente a açâo destruidora das forças da
negaçâo e do mal. O ateísmo também entre nós conta com apóstolos
e evangelistas que desdobram atividade tenaz e articulada que, sob
ésse aspecto, a muitos de nós, apáticos e comodistas, poderia servir
de exemplo e incitamento.
Na sementeira do trigo da verdade e da virtude, segundo a pa¬
rábola do Senhor (Mt. 13), surpreendemos o adversário, o «inimicus
homo», que, na calada da noite ou até sem disfarces, à plena luz do
dia, vai passando e espalhando o joio e a cizánia da falsa doutrina.
ORIENTAÇAO MATERIALISTA DE ORIENTADORES DE ENSINO
Queremos hoje referir-nos a um grupo poderoso que, — impÓe-
se-nos a renovada denúncia à consciência católica e crista do País — ,
instalado no Ministério da Educaçâo e Cultura do Rio de Janeiro,
está promovendo nao só o laicismo do ensino mas também a laici-
zaçâo e o materialismo da vida. Sistemáticamente pro'cura-se reali¬
zar um plano de orientaçâo materialista e ateísta do ensino nacional
e se move urna campanha ardilosa contra as escolas particulares, em
favor do monopolio estatal do' ensino. Os patrocinadores désse pro¬
grama de açâo apres entam e defendem urna doutrina de desenvolvi-
mento nacional inspirada e baseada na mesma filosofía em que se
abeberou Carlos Marx para elaborar as teses fundamentáis da sua
interpretaçâo materialista da historia e a sua teoria económica, viga
mestra do comunismo.
MONOPOLIO ESCOLAR
O Sr. Prof. Anísio Teixeira, a figura mais destacada do referido
grupo, apresenta a escola pública, universal e gratuita do Estado
como remédio para os males da educaçâo do Brasil (Educaçâo nao
é privilégio, 1957). Em artigo publicado em CAPES, boletim infor¬
mativo da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nivel Superior, afirma: «Obrigatória, gratuita e universal, a educa¬
çâo só poderia ser ministrada pelo Estado. Impossível deixá-la con¬
fiada a particulares, pois, estes somente podiam oferecé-la aos que
tivessem posses (ou a protegidos) e daí operar antes para perpetuar
as desigualdades sóciais que para remové-las» (n.s 48, 1956, pg. 3).
Corn desprêzo soberano e preconcebido, o Professor fala do ensino
ministrado pela Igreja na Idade Média (A Educaçâo, pg. 24).
A mentalidade hostil ao ensino particular, dominante em certas
esferas oficiáis, ficou evidenciada igualmente no recente congela-
mento, pela COFAP, das anuidades escolares.
EDUCAR, DIREITO DA FAMILIA
Mas, a voz da natureza e da razáo, o consenso unánime dos povos,
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
5
as leis positivas de todos os Estados civis democráticos, o ensino da
Igreja, proclamam concordemente que a educaçâo dos filhos é um
dever natural de quem lhes deu a vida. O direito de educar decorre
da própria geraçâo dos filhos. Depois que estes atingiram seis ou
sete anos, a familia nécessita de urna escola para dar-lhes formaçâo
completa. A escola deve ser, pois, considerada um prolongamento e
um aperfeieoamento da familia. E os pais, confiando os filhos à esco¬
la, nao podem renunciar ao seu direito inalienável de educar mas sá¬
mente o delegam, na medida reclamada pelo bem dos filhos e da co-
letividade.
OS MESTRES, MANDATARIOS DOS PAIS
Realmente, se a educaçâo dos filhos é um direito natural e in-
tangível da familia, as pessoas associadas a esta obra educativa, mes-
tres e dirigentes dos institutos escolares, sao mandatários e repre¬
sentantes des pais. E como a escola tem essencialmente urna funçào'
educativa, escolher urna determinada escola significa preferir urna
certa forma de educaçâo escolar: informada de especiáis principios pe¬
dagógicos, moráis e religiosos. Decorre dai um primeiro e fundamen¬
tal aspecto da liberdade escolar: a livre escolha da escola por par¬
te dos pais. Os direitos da familia sao anteriores e superiores aos
do Estado e da comunidade política que se constituí pela uniáo de
familias existentes antes déle.
Nao reivindicamos o direito de educar sámente para os pais
católicos; aos adeptos de qualquer crença e mesmo ás familias pagas
assiste êle igualmente, com fundamento nas razóes apontadas. O mono¬
polio estatal do ensino é um violento atentado a prerrogativas insu-
primíveis da familia.
A PALAVRA DOS PAPAS
Multiplicaram os Sumos Pontífices nos últimos setenta anos as
manifestaçoes do seu magistério sobre éste ponto. Aínda há poucos
meses, em novembro do ano findo, Pió XII, falando ao l.° Congresso
Internacional das Escolas Particulares da Europa, insistiu: «Um Es¬
tado que atribuí a si exclusivamente a tarefa da educaçâo e proíbe aos
particulares ou aos grupos independentes de assumir nesse setor
responsabilidade própria, manifesta urna pretensáo incompatível com
as exigencias fundamentáis da pessoa humana. Assim a idéia da
liberdade escolar é admitida por todos os regimes políticos que re-
conhecem os direitos do individuo e da familia» (Oss. Rom. 13-11-57).
O MONOPOLIO E OS REGIMES TOTALITARIOS
O monopolio estatal do ensino é tese essencialmente totalitária
e antidemocrática. Nos países satélites da Rússia, os dirigentes so-
6
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
viáticos iniciaram, cm todos êtes, a supressâo dos direitos politicos c
a perseguiçâo religiosa com o fechamento das escolas da Igreja. Hi¬
tler, desde 1935, movimentou a tremenda máquina publicitária do
nazismo contra as escolas confessionais, até su a total extinçao. Mus¬
solini, em 1929, preparou o golpe destruidor do ensino particular na
Itália e foi esta a ocasiâo que motivou a publicaçâo da monumental
encíclica de Pió XI «Divini Illius Magistri», verdadeira Carta Mazna¬
da educaçâo crista da juventude.
A socializaçâo dos meics de produçâo, postulado básico do comu¬
nismo, estabelece e firma a tiranía económica do Estado sobre os
cidadáos e trabalhadores; espoliaçâo pior, em certo sentido, vem a
ser a socializaçâo ou monopolio do ensino, porque escraviza as inte-
ligéncias ao Estado que pretende impor aos súbditos a opiniáo de
alguns poderosos do momento sóbre o sentido e a orientaçâo da vida.
TENDENCIA GENERALIZADA
Observamos que em toda parte, nao só nos países totalitários,
os povos como os individuos acham-se em nossos dias constantemen¬
te ameaçados pelas tendencias crescentes do Estado moderno de
impor a sua dominaçâo absoluta em quaisquer setores da vida e das
atividades humanas. O pcrigo de tornarem-se totalitários constituí
tentaçâo permanente dos governso em nossos tempos. Ésse totalita¬
rismo está dentro da lógica do materialismo e da negaçâo da vida
espiritual. E’ um método muito cómodo para o govérno. Mas, nao
corresponde à justa concepçâo do hornera e menos aínda ao con-
ceito cristáo do Estado .
Se, pois, negamos ao Estado o direito ao monopolio escolar, que
erradamente ele se reivindica, temos a certeza de dar urna contri-
buigáo preciosa e talvez decisiva à vida cultural do nosso povo, ao
seu livre desenvolvimento democrático no sentido mais verdadeiro
da palavra. Na defesa da liberdade escolar a luta dos católicos de-
verá ser decidida e sem treguas. O sr. Anísio Teixeira e seus cola¬
boradores pretendem possuir um sistema ou método educativo pró-
prio, que nao é seguramente o que preconiza e aplica a Igreja.
GLORIAS E FALDAS DO ENSINO PARTICULAR
Nao tem fundamento a campanha de descrédito que alguns fun-
cionários do Ministério da Educaçâo movem contra a escola livre ou
particular. Haverá certamente deficiências e abusos. Mas, porven¬
tura nao existem éles nos estabelecimentos oficiáis? As repetidas
exortaçoes de Pió XII e inúmeros documentos episcopais demons¬
trara vivamente quanto a Igreja se preocupa com o aperfeiçoamento
do ensino católico e a atualizaçâo dos métodos didáticos.
Centenas de milhares de pais e máes, em todo o territorio' na¬
cional, fazem pesados sacrificios para enviar os filhos aos insti-
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
7
tutos educativos fundados e mantidos pela Igreja ou outras enti¬
dades particulares. Pensam éles sobre o ensino livre de modo: di¬
ferente do Sr. Prof. Asisto Teixeira e seus companheiros . Acusam
estes o ensino livre de mercantilismo e promotor ou conservador
de desigualdades sociais. A generalizaçâo é inteiramente injusta.
Concordamos em que aquéles que, ao abrir um estabelecimento de
ensino procuram montar um negocio rendoso, nao devem obter pro-
teçâo do Estado. Mas, os abusos sao exceçôes. Quem nao observa
que eventuais economias ou lucros dos colégios católicos sao apu-
cados em beneficio do próprio ensino, isto é, em prol das obras de
formaçâo dos futuros mestres, ou na ampliaçâo des estabelecimen-
tos e na construçâo de outros novos?
ALUNOS RICOS E POBRES
Seráo as escolas particulares para os ricos? Nos estabelecimen-
tos públicos estudam pessoas abastadas da mesma forma como nos
colégios particulares . O Minitério da Educaçâo e Cultura, como' é
indeclinável obrigaçâo de jutiça distributiva do Estado, auxilie com
suas verbas as aulas particulares para que se possam manter ho¬
nestamente e as taxas escolares seráo diminuidas ou abolidas. Em
muitas ótimas escolas do interior, os pais pagam a contribuiçâo ín¬
fima de vinte cruzeiros mensais ao professor primário particular
que nao aufere do ensino o mínimo indispensável para sua decente
subsistência. muitos professóres municipals vivem ñas mesmas pre-
cárias condiçoes. E’ urna clamorosa injustiça que o Estado comete
obrigando os pais, que desejam urna escola informada de determi-
nacoes, principios educativos, a pagar duas vêzes a taxa escolar,
urna vez contribuindo para os impostos comuns, com que sao man¬
tidos os estabelecimestos públicos de ensino, e outra vez atendendo
ás justas exigéncias da escola particular em que os filhos estudam.
APREENSÓES E ESTRANHEZA
Os ataques velados e abertos que partem do Ministérió da Edu¬
caçâo contra o ensino livre nos suscitam graves apreensóes e aler-
tam a consciéncia crista. Devemos estar a postos para a defesa de
urna das prerrogativas mais caras e imprescritíveis de um povo
livre. Neste ensejo, em nome da populaçâo1 católica do: Rio Grande
do Sul, interpretando sem dúvida também o pensamento dos adep¬
tos das religióes evangélicas, com o devido respeito, manifestamos
a nossa estranheza diante do fato de que o Sr. Presidente da Re¬
pública e o Sr. Ministro' da Educaçâo nâo tenham tomado decisivas
providências para impedir o agravo que se está cometendo aos di-
reitos da imensa maioria dos cidadáos brasileiros, que se conser¬
van! fiéis à fé tradicional, e em geral ao direito fundamental dos
pais à escola de sua preferéncia.
8
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
EXCELENCIAS DA EDUCAÇÂO CRISTA
A educaçâo crista, que a Igreja preconiza e exalta, enriquece a
vida intelectual com conhecimentos técnicos e cientificos, enrija o
corpo pela cultura física, mas, principalmente, fortalece a vontade,
forja caracteres, purifica e enobrece o coraçâo, desenvolve e ali¬
menta urna sadia vida de fé e de piedade. Urna escola sem ideal
superior, urna pedagogía sem alma, um ensino sem preocupaçâo edu¬
cativa, seria um jardim sem sol, um lar sem fogáo, urna lareira sem
chama, um coraçâo sem amor, um corpo sem alma, urna fonte sem
jorro de água cristalina, um canteiro sem flor, urna rosa sem matiz
e perfume. O efeito e o resultado, intencional ou nâo, se as falhas
nao forem sanadas em outros ambientes, seria um pernicioso atro-
fiamento da obra educacional, urna subnutriçâo afetiva, um depau-
peramento espiritual da criança e do jovem, a caminho para a des-
cristianizaçao do povo e o bolchevismo económico e moral. Deus
preserve o Brasil da perda do seu mais opulento patrimonio, a alma
crista dos seus filhos.
O PAO E A PALAVRA DE DEUS
No evangelho déste domingo, o primeiro da Quaresma, escuta-
mos as palavras com que o Salvador repeliu o tentador: «Nao é só
de pao que vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de
Deus». A escola dará ao educando' nâo somente o páo da instruçâo,
o aprendizado de noçôes e conhecimentos, a habilidade profissional;
ao páo natural do enriquecimento intelectual e da preparaçâo' téc¬
nica, é preciso acrescentar q páo do espirito, a formaçâo da vontade
para a vida da graça, segundo a palavra que sai da boca de Deus.
Para os individuos e os povos é éste o caminho do progresso, da
justiça, da felicidade, do triunfo e da gloria.
4
ARTE MODERNA
OLYNTHO SANMARTIN
A chamada Arte Moderna num sentido generalizado onde a cul¬
tura na sua substancia, foi perturbada, quer na poesia, na prosa, na
música’ na estatuária e na pintura, deu margem a urna longa dialé-
tica e choques de opinióes que até hoje perduram.
Felizmente, entre nós, a poesia aquietou-se e vive sua trajetó-
ria inexpressiva como corolário evanescente do grupo paulista que
aínda conserva um aroma consagrador por ser o marco histórico
de urna falange pioneira. Vai, contudo, marchando para a categoría
do saudosismo.
A prosa nao encontrou possibilidades para criar novos padroes,
e estagnou-se ñas primeiras investidas desarticuladas enquanto que
a música, corn suas interpretaçoes delirantes vai salpicando, rara¬
mente, o mundo inviolável da harmonia clássica.
Já a escultura e notadamente as artes plásticas, persistem na
sua tentativa demolidora bascada em teorías que no metamorfismo
da transladaçâo para a tela, cai no vácuo da inestética sistemática.
Náo sao necessários conhecimentos especializados para preco¬
nizar que nos moldes apresentados jamais a pintura moderna como
arte dominará a arte humanista que desde a antiguidade aos nossos
días vem evoluindo e se plasmando como cultura aprimorada.
Um acervo de ordem genial nao poderá ser destruido nem di¬
minuido por um sistema onde a cultura e a razáo sao eliminadas ab¬
dicando de qualquer intervençâo emocional humana.
Enquanto certas modalidades apresentam motivos racionáis, o
cubismo, jogando as formas geométricas com o' quadro visual, deu¬
nos o resultado de coisas espantosas que o surrealismo mais avan-
çou de um modo herético.
Sobre ésse tema, um ilustre homem de letras atualmente em
Londres, em resposta a urna carta que lhe escrevi abordando a arte
moderna, escreveu-me extensa epístola que considero um depoi-
mento de alta importancia cultural, principalmente como documen-
tário crítico e de que passo a transcrever a parte que intéressa ao
assunto, aínda que para isso nao esteja credenciado.
«E’ urna impertinéscia desvairada insistir nesse deslize teórico:
da pintura moderna.
«A sua legitimidade nao chega a promover conflito, tal é seu
primarismo frustrado.
«Na própria música clássica que aplaca a ferocidade dos ani-
10
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
mais bravios, ouvinclo certas composiçoes modernas, por certo qu*
há de multiplicar a furia das feras. A irracionalidade é urna prova
da triste observaçâo. E’ a desintegraçao da harmonia tomando o
rumo da alucinaçâo. Todo êsse borbulho sem expressáo auténtica,
cai pela indigencia filosófica .
«Com isso nao estou pensando' no renascimento, na herança da
antiguidade clássica, no rigor dos cánones académicos, mas apenas
na infantilidade como se pretende jogar e adulterar urna táo alta
virtude que o génio humano conseguiu edificar no convivio do
mundo.
A prosa literária moderna mal chegou a nascer e pereceu.
Subsiste apenas numa tendéncia de obscenidade. A poesia, sem
significaçâo, é diluida, sem que alguém déla tome conhecimento .
A música tem claros e escuros predominando sempre os escuros. A
escultura e pintura, fácil e de forma quase vil de ser exercida, per-
sistem no seu malogro. E’ urna arte que ficará na historia como
arte falida, semelhantes a alguns nomes quinhentistas que pela sua
mediocridade daquela época, hoja sao lembrados com chacotas.
A beleza emociona sempre, seja ela rústica, bárbara ou nobre,
dentro da natureza ou concebida p = l0' génio do homem. Basta que
haja qualquer manifestaçâo de conteúdo espiritual para despertar
os sentidos da emoçao. O próprio artificio, quando elaborado com
fundo estético, fixa-se como módulo emocional.
Tudo o resto é frió, vulgar, massa convencional informe, coisa
morta, inexpressiva, sem caráter e sem vestigios de cultura. A arte
moderna de profundo, só conserva a pequenez. A dialética, meu
amigo, que em torno désse surto passageiro que tenta conturbar o
espirito de urna geraçf o incauta, nao passa de teorías sem lógica,
trivialíssimas, concitando o homem à prática de mediocridades la-
mentáveis.
O que por ai se vé lembra um esquife diante de oradores pane¬
gíricos que falam ao morto, dando a ilusáo aos circunstantes de
que o corpo inerte os ouve em siléncio, agradecido.
Quanta banalidade rotulada de arte provocando sorrisos íntimos
dos próprios autores.
Na impossibilidade de criar nova técnica artística, porque o re¬
nascimento alcançou o limite da genialidade estética, contenta-se a
nova escola a tentar destruir o que é indestrutível, tornando' im-
perfeito o que deve ser e é perfeito, monstruoso o que é belo por
forças irremovíveis da natureza.
E’ a parodia grotesca dos ideáis da especie humana como se a
eternidade pudesse ser limitada e explorada num devaneio' turístico.
Quer estabelecer justificativas numa retórica de bases trans¬
cendental para que o equilibrado, o que é percebido pelos sentidos
seja tortuoso, inverídico, falso ñas premissas fundamentáis e vazio
no planejamento da sua própria esterilidade. O sol será visto como'
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
11
um retângulo negro, a nolle uma massa luminosa. Inversâo total e
absoluta das realidades normáis.
O que vemos, o que encontramos ai? Apenas um cataclismo
artístico, um amontoado de incongruéncias que nao emocionara mas
que fazem rir, que nao atraem mas que conduzem ao anedotário
picaresco, que nao lembram museus mas fazem pensar nos hospi¬
cios. E com isso o mundo artístico se diverte.
Nao repare, meu amigo, éste conceito, mas quero ser franco'
ñas minhas convicçôes: Digo-lhe que a arte moderna é um embuste
primário, estética cínica .
Será isso tudo evoluçâo, liberdade, fuga ao classicismo para al-
cançar uma estética mais apurada, mais genial?
Nao posso admiti-lo nem mesmo' como absurdo. E’ apenas uma
queda, um recuo todo decorativo para a vulgaridade, para o infe-
riorismo essencialmeste obscuro, dissimulado por uma fantasia au-
daciosa e ludibriadora convertía em ascensáo divinizada. Pura mis-
tificaçâo. Mito sem conteúdo, sem harmonía, tanto em sua imagi-
naçâo como na sua plástica e suas bases. Rudimentarismo que fere
a sensibilidade onde a ciencia alcançou seu ponto máximo, enquan-
tb que a arte tenta alcançar seu ponto mínimo. Eis o contraste.
Falta-lhe humanismo, nao apresenta sequer um matiz de ló¬
gica artística, originalidad© mental.
Há modernistas de classe e os que nâo possuem classe alguma
mas que na fatura ostensiva da obra nao se destinguem porque nao
existem linhas características. Tudo é uniforme, plano, vazio. Co-
nhecem-se os de classe, nâo pela obra feita, que é lugar comum,
mas pelos conhecimentos revelados individualmente.
E’ o artista que o denuncia. E éste artista onde foi haurir seus
conhecimentos, sua cultura, seu humanismo? Ñas velhas escolas, nos
bancos académicos, dos grandes mestres, no classicismo, na fonte
da verdade e autenticidad© artística.
Depois désses estudos fundamentáis é que deriva para as fan¬
tasias de uma anatomía mirabolante de tolices . Deriva para essu
conduta por consciéncia apenas para tornar-se extravagante e atrair
sobre si a atençâo estupefata do público. E’ um negocio que surge
aparente, porque entre urna multidáo de normáis, o anormal que
aparecer entre éles, se distingue sempre e a curiosidade se movi-
menta.
Ora, caro amigo, se o classicismo, tornou-se indispensável para
a formaçâo cultural do futuro modernista, como poderá ésse mesmo
modernista a posteriori, ultrajar o clássico se todo o seu egocen¬
trismo, o colorido sensorial, é puramente clássico e déle se valeu e
o hauriu tongamente para poder ser o que é?
Nada me induz a contaminar-me, porque tudo é instintivo e es¬
pontáneo, com o que nos deixaram de sublime as artes plásticas e
a estatuária do pré-renascimento. Com o advento renascentista, a
genialidade latina converteu sua obra artística em epopéia eterna.
12
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
Mas nem sempre a arte é beleza pura . Estabelecer a frcnteira
dessas duas imensas magias da vida, nâo cabe a postulados, a pre-
concdto. Há uma realidade consistente que domina o convencio¬
nalismo.
A humanidade que rosnou no período da pedra lascada, certa-
mente viveu, pela própria inconsciencia da beleza hoje classificada,
horas de selvagem emoçâo. Sentir a beleza sem ccmpreendé-la, sem
identificá-la, é o paradoxo das realidades vivantes.
Estou me tornando eufórico com fluidos de ostentaçâo erudita,
mas desojo aínda externar num momento, algumas idéias sobre éste
tema.
Se quiséssemos convergir para o ángulo de urna análise pro¬
funda veríamos que a nova escola nao chega siquer a ser intuiçâo.
O método é o nebuloso, o descontinuo e inorgánico, despido total¬
mente de objetividade artística. E’ um esfôrço doloroso contra a
justa sensibilidade humana. Nâo forma volume nem patrimonio mo¬
ral, apenas provoca crítica pela seriedade que pretende ostentar.
E’ uma puríssima simulaçâo com os caracteres daquela que Teo-
frasto táo bem definiu há quase 23 sáculos e ciue acabou converten-
do-se hoje em charlatanismo pomposo. O próprio ideal é negativo,
de excelente impericia concepcional numa insensibilidade estacio-
nária .
Falta-lhe aínda a vivencia, a substáncia de sentido universal,
o espirito que nâo só o classicismo exige mas a ética e a moral e
que se sobrepôem às extravagáncias individualistas. Nâo possui al¬
ma, girando em torno de fórmulas reflexas.
O instinto artístico é uma norma que tem por finalidade criar.
Mas o que será a criaçâo? E’ um esfôrço mental onde se manifesta,
com todos os requisitos determinados pela boa-cultura, a concepçâo
objetiva. Nunca, porém, será um improviso, uma invençâo sem co-
ligaçâo de idéias .
O modernismo improvisa sempre e se há idéia é exatamente
esta de conseguir o máximo do ilógico, do inverossimil, do defor¬
mado, do incompreensível, numa confusa terminología de escolas
difícil de distingui-las. Tudo há de causar mau estar, sofrimento
e muita obstinaçâo. E’ claro que sesta categoría nâo se classificam
os moderados, que na pintura e escultura e na própria música e
poesía, mantêm a linha profunda de tudo o que é natural. O super-
ficialismo e a plástica de urna arte anedótica faz de uma possibili-
dade artística, uma realidade morta sem aquela riqueza interior pre¬
conizada por Hegel. E’ ésse plasma de virtuosismo capaz de dar
sobrevivéncia e alcançar a posteridade da historia artística, que mais
falta ao modernismo.
Nâo passa de uma degradaçâo com as facetas de uma pusilani-
midade que mais a inferioriza. Devemos ser francos, meu amigo,
e compreender, porque a liçâo é muito elementar, que para acei-
tarmos essa diabólica anatomía precisaríamos criar um mundo no-
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
13
vo habitado por aquelas figuras, com aquela colossal natureza caó¬
tica, para assim fixar-lhe o caráter, o estigma de urna arte fantas¬
magoría, e assim deixaria de ser transitoria, fútil, arbitrária e sem
significaçâo em tôdas suas dimensoes.
Ai a sensibilidade, o talento, o engenho nao seriam aviltados
e o sentimento e vitalidade seriam adereços sem importancia.
Se contemporáneamente o clássico é para os corifeus modernis¬
tas, simples copia, urna imitaçâo co'mum, será sempre urna imitaçâo
dificil de executá-la que só raros artífices a conseguem. O moder¬
nismo nâo passa igualmente de urna mediocre imitaçâo solidária
entre si com a evidente vantagem de ser fácil, trivial, que tanto
pode ser exercida por um génio como por um néscio porque a cul¬
tura nao exerce funçâo alguma na obra surrealista.
Para justificar as observaçôes dessa nova arte plástica, seus
mentores imaginaram enfeitá-la com artefatos metafísicas classifi-
cando-se gnosticismo estético que só os taumaturgos poderáo com-
preendé-la porque seus autores admitem sua existéncia mas in foro
conscientiae déla nada entendem.
Se formos admitir de que a teoria está certa, teríamos que ad¬
mitir também, para a interpretaçâo do mundo cósmico, novas leis
para favorecer seus principios, e chegaríamos a essa conclusáo de-
soladora de que o cosmo reje-se por leis que nunca existiram, ro¬
lando assim na vala comum do artificial, do inconsciente, da fraude,
da fábula artística, de tudo o que é falso e falho de senso e sabor
intelegível .
Caso houvesse um fundo estético' plausível, o surrealismo como o
cubismo do principio do nosso século, o expressionismo e mesmo o
abstracionismo, com certa boa vohtade, seriam dignos de exame.
Mas o que se encontra é exatamente essa aridez, essa estática, ésse
encanto amorfo, fuga de atracáo, de integridade sentimental que
sao inatas no homem. Tal arte nao pode ser apresentada a quem
vive neste mundo, que só conhece éste mundo, que se abeberou da
cultura déste mundo' ainda que destendida por diferentes épocas e
civilizaçôes.
Embora considerando a idéia surrealista de querer aproximar
o quadro especial às evidéncias reais, seria louvável fazé-lo, porém
com arte e nâo acredito e ninguém sériamente o admitirá, que isso
seja conseguido com o processo' até hoje empregado. Isso seria
conseguido por meio de símbolos executados com muita arte, nunca
corn borróes e imagens truculentas que dilaceram o espirito. Ésse
problema caberia própriamente à literatura, nunca à plástica dis¬
forme .
A geometría, afinal, foi a responsável pela criaçâo dessa mor¬
fología cabalística que Picasso lançou aos ares para ser colhida por
qualquer criatura que quisesse tornar-se artista. Poderíamos resu¬
mir o fundamento do cubismo e derivaçoes ampliadas, de que tudo
nâo passa de urna fórmula filosófica capaz de formar um cía que
14
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
somente entre seus adeptos deve ser praticado e o seu entendimien¬
to, por um principio de coerência, de ve existir como puro conven¬
cionalismo porque nada há de esséncia capaz de comportar expres-
soes estéticas humanas. A própria certeza do arrazoado é conven¬
cional num aturdimento insensato, ende o raciocinio funciona in¬
versamente. E’ evidente a incapacidade ele atender as imposiçoss,
às solicitaçoes do espirito. A exegese é apenas um testemunho que
lhe dá alentó porque sem ola tu do seria- um ensaio banal sem a me¬
nor significaçâo real, sem resposta às perguntas circunstanciáis.
Pura fragmentaçâo de entusiasmos que deseo nhecern sua própria
genese. Sente-se como está desprovida de sensacoes, de extase, de
excelsitude, como urna falsificaçâo do pcssível para atingir o caos
do impossível. Sua maior preocupaçào é a do excídio, que lembra o
desesperado que na impotencia de criar se contenta em destruir .
Nao se trata de um fenómeno evolutivo1, mas de urna revoluçâo
discricionária ende a formaçao biológica do homem é fulminada co¬
mo se intelectualmente ésse ato de rebeldia dependesse da vontade
de grupos inconformados com a obra da natureza.
O essencial é romper, destruir, desintegrar a imagem visual
que a natureza soberanamente nos premiou, para estabelecer outra
desconhecida que os sentidos normáis repelem in limine por faltar -
Ihe tôda a razáo humanística como se contudo isso coubesse, ao
menos a idéia de urna sucessâo ou evoluçâo quando a linha mestra
exige «'decomposiçâo irracional» dos expressionistas e «destruiçâo
analítica racional» dos cubistas, conforme esclarece Cirlot.
Exprime táo pouca seriedade que a classificaçâo de interpreta-
çoes e práticas técnicas tanto se assemelham pela sua falta de con-
teúdo, que o movimento de Zurich, levando a teoria de roldao, ficou
em evidencia, nao um propósito revolucionário mas urna tendéncia
de completa anarquía sem nem um respei^o à divina arte.
Nao podemos conceber que ñas esferas celestiais ou no fundo
da consciencia do homem que pratica o surrealismo, sámente exista
o monstruoso sem vestigio algum daquela beleza que o mundo' onde
vivemos nos mostra a cada passo. O surrealismo, essa metáfora,
essa experiéncia teórica, pura invençào para criar coisas potencial¬
mente contrárias às forças imanentes da natureza que nos cerca, po-
derá pensar e até realizar formas geométricas estapafurdias mas
nunca com o rótulo de arte. Simples aríezanato sui-generis onde
a sensacáo da beleza, a emoçâo da harmonia, sao sumáriamente ex¬
cluidas. E’ apenas a arte da «boa vontade/ isto é, resignaçâo em
aceitá-la, santificando-a a um modo gnotíscita, num halo de mis-
tério laical.
Nao devemos também argumentar com o fato de alguns mes-
tres do renascimento terem deixado em suas obras sinais surrealis¬
tas, quando é lícito compreender a verdade da análise de que a teoria
modernista surgiu a posteriori a consagraçâo daqueles mestres po-
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
15
dendo, assim, intencionalmente, adotá-la aos motivos encontrados
na arte passada.
A própria intençao é vacilante, precária, um mito que se con¬
torce em dispnéia e anseia em corporificar- se mima escola objetiva
onde lhe falta o absoluto oxigénio de sobrevivencia. O mundo cós¬
mico nao é brutal, nem grotesco e nao possui figuras humanas e
paisagens que se dizem nossas, isto é, que se movimentam a o nosso
redor, que nos dáo sensaçôes e vida tumultuária e simultáneamente
harmoniosa .
André Breton, o inventor, se assim o podemos chamar, da pin¬
tura exotérica e outros feitos literários que iriam atingir música
e a literatura, sem conseqüéncias plausiveis, quis com seu «auto¬
matismo psíquico puro» inverter os fatôres, destruindo a realidade
para substituí-la por outra filosófica representada na pintura. Ai
é que se encontra o impraticável como objetivo artístico onde falta
persuasáo, idéia psicológica, espirito documentário, sabor de uni-
dade e etxensáo universal, de possibilidades e bases sólidas de eter-
nizar-se no tempo e no espaço.
A preocupaçâo inicial foi a do sensacionalismo sem preoeupar-
se com a estabilidade da nova doutrina e sua possível proliferaçâo.
A proliferaçâo, no entanto', nao foi alcançada, quer num prolonga-
mento espontáneo quer mesmo em surtos toreados provocados e pla¬
ne jados.
O estilo anárquico desprovido de justa posiçào, cores e outros
elementos de substancia vital, criou um autorealismo que é o seu
tremendo equívoco estético. Sentindo-se livre, pelo «automatismo»
acabou instituindo leis pelas quais se apresiona. E’ assim urna dou¬
trina contraditória, insubsistente e inoperante . Sua prática nao
quer dizer existéncia, por ser inocua como objetivo artístico me¬
recedora de atençâo.
Que arte é esta, mesmo sendo estratosférica, que tem por lema
odiar a perfeiçâo, ridicularizar o ideal e desprezar a razao? E aínda
que se ordene a valorizacáo do primitivismo, da arte dos loucos,
como se os loucos fóssem criadores de urna possível arte? A euforia
doutrinalícia é sempre irracional, como o desconhecido . Será que
no cérebro do ho'mem existe o mundo cósmico capaz de exteriorizó¬
lo numa mancha de tinta? Que nova classe de semi-deuses quer
impor-se quando manda substituir a capacidade pela vontade?
Evidencia-se urna efusáo de palavras tentando extrair a sín-
tese pitórica imaginada.
Por tôda a parte há manifestaçâo de total desumanizaçâo. Um
artista que vé as avessas todas as coisas da vida, que subverte in¬
tencionalmente a realidade das emoçôes, nâo pode ser normal, de
raciocinio elementarmente justo. E’ a distorçâo e a deformaçâo pre¬
meditadas num processo equacionado de trivialismo mórbido. Arti¬
ficio puro. Nao vai além de um convencionalismo internacional ar-
16
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
bitrário que os críticos entenderá regulamentar com retórica tam-
bém artificial .
Senao vejamos, caro amigo. Quem ve as normas estéticas de
um modo substancialmente contrarias aos difames da razáo que é
urna lei natural imutável da criatura humana, todo éle deve ser um
contraste radical nas sensaçoes espirituais e fisiológicas. O amargo
será doce e o doce amargo, a dor prazer e o prazer sofrimento, o
calor frió e frió calor. Vestir-se é andar nu e assim todos os fenó¬
menos biológicos constituiráo um organismo fabuloso .
Por que seráo apenas os sentidos estéticos que se subvertem?
Haverá leis específicas que regem essa classe de emoçôe? Um mons-
tro será urna imagem celestial para o biótipo de tais sensibilidades?
E’ o homem que se deturpa no supremo valor da personalidade .
O próprio cérebro nao deve localizar-se no cráneo. A unifor-
midade física deve existir nos moldes da sua espiritualidade, para
comprovagáo da arte apresentada como coerente.
Devo dizer-lhe que nao alimento nenhuma prevençâo com éste
surto deplorável a que um grupo de exaltados querem arrastar essa
arte apócrifa em detrimento da legítima arte. Apenas isso. Nem
mesmó me cabe discutir obras técnicas de alguns franceses, o pró¬
prio impressionismo e em alguns casos o abstracionismo que nao
apresenta o espetáculo grotesco do cubismo onde nao há vestigios
de natureza e depois o subrealismo' onde os problemas de forma e
plástica sao exclusivamente formalistas com o aparato de manifes-
taçôes vivazes de metafísica. Nem sequer há retraçôes de equilibrio
sensorial e o sentido é o de regressismo a urna idade rudimentar,
ás cambalhotas, de acórdo com o que decidirem os congresso's, ten¬
tando convencer o mundo normal daquilo que éles próprios nao
estáo convencidos, conforme conceituava um antropologista italiano
do século passado sobre os advogados.
Nada se encontra de estéticamente sugestivo e quand o isso nos
parece surgir, é que o artista, sem o perceber, caiu na realidade
clássica, com seus motivos postos em relévo.
Sem dúvida que tudo náo passa de urna ficçâo com pruridos
perturbadores. Se vive aínda é por mera tolerancia dos curiosos, to¬
lerancia das instituiçôes e tolerancia da própria inteligéncia». Pa-
rece-me suficiente o que ficou aquí transcrito.
Há, aínda, muito a considerar sobre a arte moderna e já existe
em literatura um manancial apreciável sobre o assunto que muito
intéressa a boa cultura universal.
Seria mesmo desolador que a pintura do futuro se convertesse
nesse propósito de flagelar a imagem visual, violentando o pensa¬
miento criador e equilibrado, subjugando a idéia pura para aceitar o
irreconhecível, de explosoes bárbaras, e obrigando a penetraçâo do
inexistente como manifestaçôes artísticas consumadas de puro sa¬
bor convencional.
Para ésse louvável movimento de renovaçâd, faltaram bases
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
17
concepcionais amadurecidas afastando-se da órbita natural para ten¬
tar a* realizaçâo de um sistema dito estético, précoce e arbitrário
Incapaz de criar raizes no mundo da cultura. Vive a flutuar iso¬
lado num corpo minoritário' espantoso, numa superficie demagó¬
gica, sem esperanças de consagraçâo pública. Sua continuidade de¬
pende apenas da vigilancia constante dos seus pioneiros porque sua
obra nada edificou até hoje e só desperta a curiosidade dos enten¬
didos e desentendidos.
Ao' ser criada essa duvidosa aurora artística nao compreende-
ram seus chefes ostensivos de que simultáneamente originava-se um
poente melancólico a envolver essa iludente madrugada revolucio¬
naria.
UM PERFIL INTELECTUAL DA NOSSA ÉPOCA
Pe. CARLOS BORROMEU C. PP. S.
A nossa época é herdeira da confusáo intelectual que governa o
ocidente desde o chamado liberalismo, um sistema intelectual «li¬
beral» com todos, corn exceçâo da Igreja e do Cristianismo.
O propagandista liberal mais intolerante corn a Igreja foi
Nietzsche no assunto da literatura e da filosofia moderna do Oci¬
dente .
No setor da moral foi Sigmund Freud, o inventor da Psicaná-
lise, o destruidor dos valores perenes da moral e o propagandista
ii
e responsável pela anarquía atual na vida sexual. O homem vive
sob os complexos da sensualidade em pensamentos, palavras e obras,
e nao deve reprimir os desejos do ambiente sexual para nao pre¬
cisar abracar os complexos angustiosos da força e da def ormaçâo .
Assim Freud torna-se contrário ao sexto mandamento da lei sinái-
tica: «Nao pecar contra a castidade». Para resolver os problemas
da sexualidade, Freud instala «Stuben des Vertrauens» — «quartos
de Confiança», quer dizer um sistema de confissáo medicinal. Sobre
o sistema de Confissáo Sacramental nao sabia nada o autor da con¬
fissáo medicinal. Ésses «quartos de confiança» ganharam fama na
batalha contra a mania dos suicidas na Capital Austríaca.
No setor da lieratura moderna revela-se Stefan Zweig como
bandeirante do espirito «moderno», mas nao como mestre da vida,
porque terminou a sua existência voluntáriamente por desgósto, em
Petrópolis .
Urna vez que Stefan Zweig tinha muitas relaçôes com o Brasil
e a sua literatura goza ainda de grande circulaçâo, precisamos de¬
dicar-nos mais amplamente corn as suas idéias.
NIETZSCHE E O OCIDENTE
«A Europa presente nâo tem idéia, qual decisáo terrível será
resolvida pelo meu pensamento, a que roda de problemas eu estou
amarrado; que está se preparando urna catástrofe, cujo nome eu já
conheço mas que nao pronunciarei».
E a catástrofe visionuda por Friederich Nietzsche foi realizada
pelos cabos da sua ideología infernal: Hitler e Stálin.
Nem Hitler, nem Stálin foram capazes se quiserem de urna
única idéia própria, o seu sistema de Herrenmenschen (hornens se-
PONT. UNIT. CAT. DO R. O. S.
ID
nhores) e da sua moral de além do bem e do mal é literalmente imi-
- tad o' das ideias de Nietzsche, do autor: «Assim falava Zaratustra».
A destruiçao da moral crista por Freud e grande, mas nao com-
parável com as ideias messiânicas da Herrenmoral (moral dos se¬
nil or es) ; no ambiente de Hitler, realizado pelo racismo germánico
e no ambiente moscovita pelo sistema do' predominio absoluto do
'Kremlin em todos os setores da vida.
O tamborista de Braunau, Adolf Hitler, tirou as bases do seu
Terceiro Reich com esperances messiânicas do Uebermensch (ho-
.mi m superior) de Nietzsche. Toda a miseria desde 1933 para cá é
escrita por conta do visionario demoníaco.
Nao conseguíu a destruiçao do cristianismo, como planejava
-mas conseguiu urna aversao intrínseca e integral as ideias sobrena-
turais, a Deus, à salvaçâo e à Santa Igreja Católica Apostólica Ro¬
mana. «Umwertung aller Werte» — Transformaçâo de todos os va¬
lores — eis o ideal nietzscheano.
Joseph Goebbels, o propagandista fanático de Hitler adotou o
lema ideológico do seu padrinho: «Coin irai riso vamos destruir o
«que adoramos até en ta o, e vamos adorar daqui por diante o que
destruimos até agora» .
Nietzsche mega o cristianismo por completo, tolera urnas idéias
.apenas para ó dominio da massa sem nome, sem genealogía, sem
nobreza, sem direito à «Herrenmoral» (moral dos senhores) e dos
Uebermenschen» (superhomens) .
Nietzsche nega a cultura grega, a mae do Ocidente em âssuntos
de «Weltanschauung» (filosóficos,, nega a cultura romana e o seu
trabalho jurídico, que tolera apenas para os escravOs, nega ó traba -
Iho cultural cristáo de dois mil anos, para abrir o caminho ao novo
tipo de homern, com nova concepçâo filosófica e moral (sem moral),
com nova «Weltanschauung» da esperança do advento do «Ueber¬
mensch» .
Nietzsche chama-se mesmo «um fugitivo errante» que deixou
o terreno seguro do lar paterno.
odio contra o cristianismo, odio cegó, odio infernal, como se
revela em seu ensaio «O nascimento da tragédia pelo Espirito da
Mística» (1872).
Neste ensaio nem fez referencia à mística medieval, tao rica
em representantes germánicos, nem de Seuse, nem de Auler, nem
de Gertrude, nem de Margarida Ebner.
E em 1883 escreveu de Roma, onde procurava urna residencia
«Finalmente contentei-me com a Piazza Barberini, depois fiquei can¬
sado em procurar urna regiao anticristá. . .»
Nietzche condena:
a pregaçâo' do além — Predigt des Jenseits,
a concepçâo nobre da fraqueza — Nobilitierung der Schwae-
che,
20
PONT. UN IV. CAT. DO R. G. S.
a glorificaçâo da compaixâo e da humildade — V erherrlichung
des mitleids und der Demut,
contra o ideal cristâo — O Herrenmoral — moral dos se-
nhores autónoma além do bem e do mal.
Na idéia de Nietzsche, o cristianismo quebra:
os fortes,
rouba a sua coragem,
aproveita-se do malestar e das fadigas dos homens,
transforma a intranqüilidade e certeza era dúvidas e escrú¬
pulos,
intoxica os sadios, que se mudam em doentios, raquíticos,
anémicos,
a sua própria vontade vai ser suspensa e virada contra éles
mes mbs,
que váo ser finalmente quebrados e escravizados pela luxú-
ria da auto-destruiçâo.
Por conseqüéncia exige destruiçao completa e integral do cris¬
tianismo até a lembranca do cristianismo deve ser arrancada da
alma e da memoria da humanidade.
Nietzsche chama éste processo; Entmachtung — Suspensáo do
poder da moral crista que é na sua concepçâo a fonte de todo o mal
— neste mundo. Um odio infernal revela- se nas idéias de Nietzsche,
mestre prototípico de Hitler e Stálin e de muitas seitas norte- ame¬
ricanas.
Misericordia e humildade nâo servem mais ao dicionário niet-
zs che ano .
«Deus é morto...» — Nao há redençâo, senáo auto-redençâo',
pela vontade fanática no poder dos superhomens.
Nao há pecado original, nâo há inclinaçâo ao mal, só há super¬
homens, e homens da massa (a canalha) sem nome, sem nobreza,
sem genealogía.
As cámaras de gás e de torturas hitleristas e stalinistas, as li-
bertaçôes da Hungría e da Polonia em nossos dias, sem misericor¬
dia, sem idéia de justiça revelam a visáo do poder do superhomem
fanático de Nietzsche. Assim tornou-se Nietzsche o trágico profeta
do materialismo desenfreado e do ateísmo mais consequüente da
época moderna.
STEFAN ZWEIG, VÍTIMA DA IDEOLOGIA PESSIMISTA
Stefan Zweig, o escritor conhecido e estimado no mundo civili¬
zado teria festejado aos 28 de Novembro o seu 75.c aniversário e
sem dúvida teria completado a sua obra literária.
Colecionador de bom gósto, conhecedor das obras artísticas his¬
tóricas de Salzburg, da terra de Mozart, daquele recanto paradisíaco,
de que fala tantas vêzes em suas cartas. Com maior cuidado tinha
organizado a sua coleçâo' de autógrafos. O seu catálogo de autores
PONT. U K IV. CAT. DO K. G. S.
:21
«e de músicas foi único nas terras civilizadas da Europa prenazista,
.va escrevaninha de Beethoven foi no centro da sua residencia lite'-
rária de Salzburg, na casa rural sôbre a cidade dos Alpes.
A Stefan Swe'ig porten ce a honra de ter realizado a rnaior co-
Jeçâo de autógrafos musicals do mundo.
Na vida de Zweig revelam-se duas ©ontradiçoes da época nazis¬
ta: O Judeu e o alemáo. Ambas as ragas privilegiadas por virtudes
e habilidades exc e polonais, ambas cam planos totalitarios desde
rmuitos tempos, ambas espalhadas pelo mundo, estimadas pela pun¬
tualidad e e pelo carat er, mas ambas nao bam vistas pelo rigor in¬
trínseco.
As duas ragas, ja na época pre-hitlerista ern Juta, esquecendo-
rse que a uniáo de ambas t-eria ti do o resultado mais benéfico para
«cada raga e para o mundo.
Stefan Zweig tornou-se vitrma dessa desunido das ragas ger¬
mánicas e judaica. Ao sair da Austria deixou a sua bagagem lite-
nária histórica, deixou a sua raíz no morro sobre Salzburg. Como
Judeu nunca tinha encontrado contacto mais íntimo com o mundo
«crista©, tao ligado ao ambiente de Salzburg. Tantas vezes tinha pas¬
eado pelo Convento dos Frades Capuehinhos, tantas vezes tinha vi¬
sitado a cámara dos defuntos. o «Karnor» dos Frades e tinha reci¬
tado o «Memento -Morí» da Fe Crista e da ïinaïidade da vida além
da morte.
O teatro de «Jedermann» na praça da Catedral de Salzburg nao
tinha urna impressâo mais profunda na psicologia do poeta adorado
no mundo inteiro. «Jedermann» (cada um de nos) o prototipo do
homem problemático na sua peregrinaçâo do mundo para urna fina-
lidade certa ou incerta, conforme a cOncepçâo filosófica (Weltans¬
chauung).
Quantas vëzes Zweig assistiu com entusiasmo a- essas répresen-
tagóes, mas ero 193? ja tinha perdido o prazer da vida OU f alando
<em palavras de Nietzsche: a vontade de vi ver.
Zweig nao podia mais se conformar com urna vida sem Salz¬
burg, sem este ambiente tao afetuoso à alma de poeta. Quem es-
tudou na Universidade, na alma máter salzburgensis nao e nunca
mais pode se esquecer do bérgo natal de Mozart, dos Alpes, do pa¬
norama singular.
Muitos tinham de deixar éste cenário paradisíaco diante da in-
vasáo nazista, e procurar urna nova oficina para as suas idiéas em
outros cantos do globo terrestre. Amadores de Salzburg, natos e de
coraçâo ficaram espalhados pelo mundo inteiro, tanto civilizado co¬
mo ñas florestas virgens do Rio Mar e afirmaram a vida, lutando
contra mil difieuldades e contra «Heimweh» (mal da saudade pelo
lar, pela térra natal) .
Na bela cidade serrana das hortensias achou Zweiz um asilo
provisorio, mas a sua alma intranqüila nunca tinha encontrado o
seu «Standort», o seu quartel fora ou longe do querido ambiente
22
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
de Salzburg. Nem a Matriz de estilo gótico de petrópolis lhe podia
dizer alguma coisa. Nem tinha encontrado o caminho para a gran
de austríaca Dona Maria Leopoldina, até entáo hospedado no Mau-
soleu dos Frades Franciscanos no Largo da Carioca do Rio de Ja¬
neiro daqueles Frades que em rnaior número falaram o idioma de
Zweig. A sorte de Maria Leopoldina pedia aliviar as angústias do
Danubio, a saudade tremenda.
Sem fé em um ente supremo parecia a situaçâo do mundo a
desesperar. E essa fé faltava ou foi congestionada pelas impressoes
de todo diferente da querida cidade de Salzburg. Nem mais as hor-
tnésias de Petrópolis lhe valiam muita coisa. Falamos com Stefan
Zweig em Belém do Pará, na orla do Rio Mar, em frente de nume¬
rosas ilhas, cobertas com matas virgens, terras até entáo desco-
nhecidas por ele.
Lá nasceu a idéia da obra «Brasil, terra do Futuro», obra bem
aceita pela crítica, obra corn intuiçâo singular, obra citada e abra¬
cada pelo mundo literário.
O Brasil, terra do Futuro, e o poeta e escritor com as concep-
çôes mais funestas pelo desgósto pela cultura e civilizaçâo. Nem a
mata virgem, nem o cenário do Rio Mar lhe podiam mais restituir
a esperança pelo valor da vida individual. Corn atençâo ouviu os
trabalhos feitos pelos missionários austríacos no Rio Mar na vés-
pera da expulsáo pelas leis pombalinas, precursoras das leis hitle-
ristas, e ésses heróis afirmaram a vida, nao capitulando diante urna
realidade crua e dura.
Zweig nao agüentava mais a prova da força (Zerreissprobe). A
sua fuga da vida deixou a sua obra literária incompleta, faltam as
obras da véspera do setuagésimo-qüintenário.
Nao langamos urna pedra. Pedimos o Requiescat in pace. Mas
lamentamos a falta de alguém que teria de dizer alguma palavra
também à nossa época.
LE TEST DES PYRAMIDES DES COULEURS
ET LES RÉSULTATS CLINIQUES OBTENUS
HILDEGARD HILTMANN
(De l’Institut für Psychologie und Charakterologie an der
Universitat Freiburg/Beisgou, Direktor: Prof. Dr. R. Heiss)
I
INTRODUCTION
Au début environ de notre siècle, les recherches dans la psycho¬
logie expérimentale ont commencé à s’occuper de la question de
l’importance psychologique des couleurs. Auparavant, les recher¬
ches avaient montré la difficulté de bien différencier entre le sens
psychologique des couleurs et leur signification symbolique, tradi-
tionelle, esthétique et culturelle. Ce problème est venu de ce qu’on
a attribué aus couleurs d’autres valeurs où s’est trouvé aussi un
contenu psychologique. L’on en trouve un exemple dans la Grèce
ancienne, où, selon la tradition, les quatre couleurs (rouge, jaune,
bleu-noir et blanc) qui symbolisaient les quatre éléments cosmiques
— s’accordent avec les differents caractères humaines: sanguin, colé¬
rique, mélancolique et phlegmatique.
Dans la première moitié de notre siècle on a assemblé beaucoup
de connaissances au sujet de l’importance culturelle et psychologi¬
que des couleurs. L’on a étudié les couleurs sous le point de vue
artistique, esthétique, et aussi psychologique.
En 1911 DAVID KATZ (9) était parmi les premiers qui ont dé¬
montré que les théories classiques des couleurs (YOUNG-HEL-
MHOLTZ, HERING) ne suffisaient pas à expliquer des phénomènes
tels que la synesthésie et la perception des couleurs dans l’espace,
autour d’un objet, et adhérents à une surface.
Une année plus tôt, WELLS (23) avait constaté dans son oeuvre
sur la question des spécifiques traits affectifs des couleurs, que les
relations entre les couleurs et l’affectivité étaient générales et cons¬
tantes: «Un stimulant a de valeur affective qui reste constante,
n’importe quelle attitude subjective qu’ait la sensibilité envers ce
stimulant».
Cette hypothèse, qui se base sur la psychologie physiologique
classique meme, a été réfutée plus tard par de diverses preuves ex-
périmentelles.
24
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
L'idée que les couleurs n’ont q’une signification non -individuelle,
c’est à dire générale, s’est tout à fait renversée en 1921, quand
RORSCHACH (18) les a données une part fondamentale dans son
test de la personnalité.
Pouis d’àutres tests sont venus qui se sont occupés des relations
entre la personnalité, surtout l’affectivité, et les couleurs comme
stimulants affectifs. L’on a pris de plus en plus d’intérêt à observer
l’emploi des couleurs dans le dessin, sutout dans les dessins des
enfants. En 1950 on a introduit une méthode nouvelle où on n’a
donné aucun instrument tel que crayon, pinceau, ou plume, mais
seulement des coleurs (Finger Painting). (7) Une année plus tôt le
LOWENFELD Mosaic Test (11) et le LÜSCHER Test (12) se sont
publiés. Tandis que dans le Mosaic Test le point capital c’est l’arran¬
gement formel des carrées de bois colorées, dans le LÜSCHER Test
ce n’est que les couleurs et les combinaisons des couleurs qui ser¬
vent à montrer la- personnalité. Dans le Test des Pyramides des
Couleurs, publié en 1950, (14) et les couleurs et leur arrangement
formel y prennent part.
Ces quatre tests: RORSCHACH (et le BEHN et le Z), (26) (27)
(28) le Mosaic, les méthodes LÜSCHER et les pyramides des cou¬
leurs, emploient les couleurs comme stimulants pour révéler l’affec¬
tivité — bien qu’en diverse façon. Dans le dit d’interprétation des
formes — on devrait dire «interpretation des formes et des couleurs»
— dans le type du RORSCHACH, paraissent de verbales réactions
affectives envers les taches d’encre colorées; dans le LÜSCHER, on
les voit dans l’arrangement subjectif des couleurs préférées et re¬
fusées. Dans le Mosaic, les couleurs n’ont qu’une signification secon¬
daire auprès de l’arrangement spontané des formes. Dans le test
des pyramides des couleurs, les couleurs que choisit l’examiné dans
la série des couleurs standard, et l’arrangemente dans la pyramide
des carrés choisis, donnent les indications sur les particularités et
les structures qualitatives, les processus, la stabilité et la maturité
de l’affectivité.
En 1950 MAX PFISTER (14) a publié les premières informations
sur le test des pyramides des couleurs, qu’il avait inventé. Sa mé¬
thode a été comme suit: on a donné à l’examiné un tas de petits
carrés de papier de divers couleurs, tout en désordre. Il a dû choisir
quinze carrés et les placer et coller sur le dessin d’une pyramide
a cinc étapes et quinze cases, pour l’effet produire qu’il a trouvé le
plus agréable et convenable — en uns mot: le plus joli. PFISTER
a trouvé que le choix des couleurs et leur arrangement dans le dessin
de la pyramide, ont laissé voir des relations avec la personnalité de
l’examiné, qu’on a pu interpréter psychologiquement. Ainsi il a dé¬
veloppé la première évaluation psychodiagnostique de ce test. Plus
tard, PIEISS et ses colaborateurs (4) (5) ont développé la procédure
du test comme suit: l’examiné doit construire trois jolies pyramides
et les mettre en ordre de préférence. Plus récemment encore, ils ont
PONT. UNTV. CAT. DO R. G. S.
25
ajouté à la tache trois pyramides ’laides’ à construire — c’est à dire
pyramides qui neplaisent pas à l’examiné. Cette procedure du test
suit ce certain principe de séries, qui tient compte de l’effet de la
répétition des stimulants, plus au moins variée, comme, par exem¬
ple, dans le RORSCHACH et le BEHN et le Z Test (les uns avec dix
tables, le Z avec trois) et dans le Thematic Apperception Test (avec
vingt tables). Dans le test des pyramides des couleurs, on a réduit
les carrés de papier à une serie de couleurs standard comprennant
vingt-quatre nuances de dix couleurs; les valeurs de norme (22) dé¬
pendent de cette série de couleurs.
Depuis notre première publication nos expériences et celles des
autres personnes qui travaillent avec ce test ont suggéré qu’il serait
peut-etre possible de réduire la serie de vingt-quatre couleurs en¬
core une fois et de n’emploj^er que dix ou quatorze couleurs. Actuel¬
lement on fait des expériments avec des séries de dix et de quatorze
couleurs qui semblent convenir au test.
II
DESCRIPTION DE LA PROCÉDURE DU TEST
RENSEIGNEMENTS GÉNÉRAUX
La procédure du test des pyramides des couleurs est aussi sim¬
ple que possible et coûte très peu de temps et de matériel. L’exami¬
né a l’impression qu’il joue avec des couleurs, et ne s’aperçoit que
vaguement peut-être de l’obligation psycologique . On n’a besoin
d’aucun grand effort de l’intelligence, d’imagination ou de l’activité
pour pouvoir choisir des couleurs selon son goût subjectif et son
plaisir, et pour en construire la pyramide. Par conséquent, le test
n’a aucune limite d’âge. On peut le donner même aux petits en¬
fants, où on désire faire des renseignements sur les phases du déve¬
loppement psychique. C’est applicable aux gens de tout age, même
aux gens âgés où il saisit les signes caractéristiques du processus
de l’involution affective. Même ceux qui ont de très fortes inhibitions,
et qui ne s’exposent bien dans d’autres tests, accomplissent d’habitude
cette simple tâche, se «jeu de couleur’s». Les refus à faire le test,
dont la raison est peut-être que «c’est un ridicule jeu d’enfant» sont
le plus souvent à enlever sans difficulté. Les embarras, les inhibi¬
tions et les refus qu’on ne peut pas écarter sont très rares dans ce
test.
Le spectre diagnostique du test renferme le champ suivant: la
faculté de réaction et l’assimilation des 'experiences affectives, les
qualités est les structures de l’affectivit’, leurs façons de se dérouler
et de se manifester, — tout ceci uniquement en ce qui concerne la
partie formelle et structurelle de l’affectivité. On peut ajouter à
ces possibilités, si importants dans le diagnostic de la personnalité,
26
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
d’autres, telles que le diagnostic du contact et de la conduite sociale,
et de l’état de la maturité emotionelle.
La stabilité du test a été statistiquement vérifiée au moyen des
Test-Retest méthodes, e avec l’assistance de la méthode chi-carré.
Les coefficients des corrélations des choix des couleurs se trouvent
entre . 66 et .86, et ceux de la constance variabilité entre .51 et .79.
Ça veut dire que la plupart des corrélations dépassent signifiquement
ou très signifiquement la limite nécessaire pour la stabilité d’un test.
II s’ensuit, donc, que la stabilité du test tout à fait assurée.
On a souvent mis à l’épreuve la validité du test, expérimentel-
lement, en clinique, et au moyen des études des cas. En général,
quant au diagnostic de l’affectivité de personnes normales, et aussi
des désordres et des troubles emotionels, determines par la névrosé,
par des troubles psycho-somatiques et par les phases spécifiques du
développement de l’enfance (Gestaltwandel, puberté), les résultats
sont satisfaisants. Le test différencie entre deux grandes groupes,
la groupe ’abnormale’ et la groupe ’normale’, collectivement et indi¬
viduellement significative. (2) L’hypothese, que lans la groupe abnor¬
male le test peut séparer la structure spécifiquement psychotique de
la structure non-psychotique n’est pas à présent confirmée.
Le test convient bien à être donné le premier parmi une batterie
de tests. Des répétitions, données assez rapidement, l’un après
l'autre, produisent des renseignements d’une grande valeur sur le
processus de l’affectivité, particulièrement sur les phénomènes de la
sursatisfaction (Sattigungsphanomene) affective comme réaction de
stress, et les dispositions aux crises affectives. (24) Des répétitions
du test, faites quelques mois ou quelques années plus tard, peuvent
montrer les développements spontanés, les processus de la ma¬
turation, les variations générales de la structure et de la dy¬
namique de l’affectivité, aussi bien que les réactions aux choses
vécues et aux traumata. Le test est particulièrement propre au con¬
trôle de la thérapie, parce que les répétitions du test son peu in¬
fluencées par l’effet de l’habitude. Si l’on fait de nombreuses répé¬
titions en très peu de temps (des heures, des jours, des semaines),
on peut voir les effets et les désordres que cause le sursatisfaction
affective.
III
LES INVESTIGATIONS EXPÉRIMENTALES ET CLINIQUES
A Fribourg nous avons réalisé plusieurs expériences pour éprou¬
ver nos premières hypothèses concernant les valeurs symptomatiques
des couleurs.
Nous avons examiné les résultats de PFISTER, de même que
nombre d’autres éléments concernant la psychologie des couleurs
(13) — ainsi par exemple, ALSCHULER-HATTWÏCK (1) et des au¬
teurs sur le «Finger Painting». De même nous étions en bonnes re-
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
27
lations avec LUESCHER; et pendant qu’il élaborait sa méthode et
que nous développions le test des pyramides des couleurs, nous
avons eu maints entretiens.
La différence entre le point de vue de LUESCHER et le notre
se caractérise de la façon suivante: LUESCHER s’est appuyé sur
une théorie spéculative à la base de laquelle se trouvent certaines
hypotheses b’ologiques et psychologiques. Nous avons fondé nos
hypothèses sur des investigations expérimentales et cliniques, et ceci
fort conséquemment.
Nous avons fait, ou fait faire en partie 1.) des analyses statis¬
tiques; 2.) des analyses expérimentales; et 3.) des analyses clini¬
ques. Nous y employâmes une casuistique large et intensive. Notre
but est de. trouver une théorie des couleurs psychologique, fondée
sur l’empirisme.
Nos toutes premières hypothèses étaient d’aspect vague et gé¬
néral: Premièrement, les couleurs agissent sur l’émotionnalité, l’af¬
fectivité et les motivations émotionnelles du comportement. Deu¬
xièmement, la préférence pour certaines couleurs ou leur dédaigne-
ment nous renseigne sur la susceptibilité affective de réaction, sur
les manières affectives de l’expression, sur la régulation interne de
l’affectivité et sur les structures d’affects — en somme, sur les va¬
riations des motivations émotion elles.
Ensuite nous avons fait des expériences au cours desquelles des
individus furent transposés dans des états psychiques exceptionnels.
Ceux-ci furent réalisé à l’aide de produits pharmaceutiques. Pre¬
mièrement, la stimulation par un analeptique central dont l’effet
correspond à celui de la Renzédrine ou de la Pervitine. CG) Deuxiè¬
mement, la sédation à l’aide d’hypnotiques. (19) Troisièmement,
nous avons procédé à des expériences pour lesquelles nous avons
provoqué lu sursatisfaction affective. (24) Quatrièmement, nous
avons examiné un groupe de personnes du type d’individus actifs et
énergiques, doués de grandes capacités de rendement. (8) Dans tous
les cas, nous nous sommes servis simultanément de groupes de
contrôle .
Pendant les expériences pharmaceutiques, nous avons abservé
les règles de la permutation de l’ordre des expérirnents.
D’autre part, nous avons procédé à des recherches statistiques,
afin de déterminer les valeurs de standardisation, leurs mesures de
déviation pour les différentes classes d’âge, les valeurs chez des indi¬
vidus masculins et féminins et chez des individus de niveau social
et culturel différent. (22)
En Finlande, des confrères ont accompli une analyse des facteurs,
mais pas dans l’ordre standardisé du test (16). En ce moment, nous
procédons à une analyse des facteurs dans les conditions de l’ordre
standardisé. D’autre part, il existe une série d’observations clini¬
ques réalisées en partie par notre institut. De même des études ex¬
périmentales psychopathologiques, (3) (10) (20) par exemple des
PONT. UNIV. CAT. DO K'. G: SI
type's précis de névrotiques sous l’effet de Mègaphéne (un régulo
teur névro-végétatif du type du Largactii), sous 1 effet du USD (un
médicament semblable à la Mescaline), et sous I effet dé Pervitine
(Un analeptique’ 6M type du Bèncédrihe)i <&25>
isr
LES HYPOTHESES D’ INTERPRET ATION' FOUIT LES' COULEURS'
Avec ce qui suit, je compte exposer nos hypothèses d’interpré¬
tation pour les dix couleurs (rouge, orange, jaune, vert, bleu, violet,.,
marron, noir, blanc, gris); lés fondements expérimentaux et casuis-
tes et les déductions théoriques ne peuvent, bien entendu, être com¬
plets,- Un aperçu des résultats est donné par le tableau suivant.
En lisant de haut en bas, à gauche les groupes expérimentaux
et cliniques et de gauche à droite les dix variables des couleurs.
Sur chaque' ligne, l’augmentation de la couleur en question est indi¬
quée par le signe plus ( + ), rabaissement par le signe moins (— ).
Le signe ( + ) exprime’ l’augmentation de cette couleur en compa¬
raison avec la- valeur standardisée. Le signe ( — ), rabaissement de*
cette couleur, en comparaison avec la valeur standardisée. Les va¬
leurs de bases sont, à quelques exceptions prés, vérifiées statistique¬
ment de maniéré satisfaisante.
Basés sur ces résultats et sur des études des cas, nous avons'
développé les interpretations de couleurs que je veux présenter suc-
cintement ,
La couleur r o u g e- :
La personne qui fait Un choix eccessif du rouge et ceci avec*
persistance, a tendance à répartir ses sentiments de manière plus
ou moins indifférent. La susceptibilité émotionnelle de réaction est
très large ét ouverte à tout le monde. La tendance à réagir inopi¬
nément dé façon émótioneíle est très accentuée en présence d’une1
irritation ou d’üne situation quelconque. Son intérêt pour le monde
extérieur, à sés attraits variés et ses conditions complexes test fort
éveillé; les réponses émotionnelles s’effectuent de façon rapide, su¬
bitement et directement, dans le cas extrême, de manière brusque
et fougueuse.
Ces manifestations ressemblent â celles du tempérament dit
colérique .
Le roUge est uñé caractéristique signifiant que les désirs et les
besoins émotionnels sont facilement excitables et ont tendance à
s’assouvir immédiatement ,
Celui qui dédaigne le rouge, oü l’évite, prouve que l’excitabilité
et le caractère des réactions n’est pas si développé. Ceci ne signifie
en rien qué l’individü en question s’est détourné du monde extérieur
Table 1: LES RÉSULTATS DÉS CHOIX DÉS COULEURS CRÉÉ
LES DIVERS GROUPES EXPÉRIMENTALES ET CLINIQUES
-ffi
1 1 l i
fi
il
P
feC
i
1
1 î>w
1 +
»
i 1 +
a
S
S
I +++
HJ
►
J+ +
•*"5
+ + 1
o
4" I
%4
4- |
1
• • • •
• • • •
• • • •
• • •
8
i
• • •
• • • •
-• • • •
• • • •
• • • •
• * » *
• • • •
• • • •
• • • •
• • • •
• • • •
• • • •
« • • •
• • • •
• • •
• • • •
. • • .
• • • •
• • • •
•* • •
* * * a
• : : <n
Vh
ín : :£
Ttf . O
Groupes clinique:
STIMULATION
ENERGIE 8)
SEDATION (19)
SURS ATISF ACTl
+ 4- 1+ I 4-
4- <4-
+
+
4~ 4- T
4~ 4-
+
+ 4-
4~ 4- \ | + | 4-
+
+
O ©
*2 s
43 «
— HH
S'®
-S*
fr* ©
3-0
te
i *
il
-4S «
<©'
U
■**
a'
3
ci
«
‘©
% <*
«H Eh
*H 'S
“i
©
■H»
'S °
'i |
j *©
4-4-
+
4
4-4- +
+ T
+
4-4-4-
+
+
+ 4-
+ +
+
+
a
M
O
«
»
■fc
a
§ 1
W 1
H.g
«sj O H
S*E
><
o-flî
aH
a*
«
Qa
H i
te I
te
p I
O)
P
X
eu
Ú1
£ te
fl ÿ.
03 "QJ
35 1:3
El,-*-»
QP *iH
a +-1
.S te
F— i Q
OJ ,tH
■QPl
<u
l~H
03
Sh
V(U
fl
‘A
tuo
va;
-*->
va;
•rH
*H
a
o
?h
a
te
+->
fl
a;
S
o3
O
• rH
73
va;
A
73
O)
73
• rH
o3
•ci
te
‘<U
ce
a;
?> te
'A a;
c3
a
O)
'ci
ÍH
va;
fl
va;
bJD
‘<U
‘<U
fl
O
*H
te
fl
a
+->
U
d>
a
iô
va;
o
03
"b
fl
a1
ÏH
a.i
° b :
N a
ce o
• f-H r—i
-fl *fl
a a
wW
Sh
a
o
5_ te
a o;
fl
. H QH
ce .fl
<U fl
-fl ‘fl
+-> r3
03 fl3
a1 a te
fl O Ci
O X! -fl 'fl
o o a. fl
fl k^73
fl m te h
<d*0HH
O)
"fl
te
A
fl
-fl
ai
•rfl
-*->
03
te
fl
ce
fl
A3
PI
<u
ffi
PL, ^
O 'fl
a fl “
voj <u
tuo fl
‘fl*£ o
fl fl Ç
a o fl
-fl fl
a a
a
HH te
fl £
3-h fl
33 CT1
..—i „
HH -
'fl o
U Îh
bn >
fl-vfl
QZ
ce
ï te
H, fl
a -a
ÍH
fl
?7> fl
-fl ce
fl
• rH
fl
O
-fl
ce a
HH
• rH ^
te va;
ce 4_i
fl va;
fl *jh
a ><
‘fl fl
73 03
fl
fl
-A
-fl
a
CtJ
tuO
‘fl
fl
73
fl
fl
ce
fl
O
ce
te
-*-H
fl
03
in
a
73
A
Hh
HH
fl
te
fl
ô
ce
û te
2^
a o)
fl S
73 vfl
73
Ü g
HH fl
fl fl
a cr1
•rH
te fl
fl o
° b
te fl
ce
fl
*
l/l
fl
te
fl
~ °
ce
fl
fl
fl
fl
fl
a
• rH
a
• T—* —
-
a
• rH
-H» H
S
’•L E
O
O
o
r— 1
/—s
>
U
>
5h
>
ü
fl
if
■Vfl
Vfl
vfl
'Z
Z
Z
<
fl
fl
a
• rH
-H>
ce
O
fl
bQ
03
vfl
a
a
ce
vfl
tí
3C>
PONT. UNIV. CAT. DC R. G. S:
dans sa totalité, mais en tous cas, d’un monde qui, pour lui, ne pos¬
sède ni attraits, ni valeurs émotionnelles, ni propriétés stimulante»*
_ pas plus dans le sens d’une valeur d’excitation que dans le but
d’une décharge des tensions affectives.
Le rouge et le noir, les pourcentages de norme chez
les adultes, sont en corrélation negative en particulier; de même4
dans la plupart des résultats cliniques collectifs. L’accroissement
du rouge correspond, la plupart du temps, à une réduction du noir
et inversement. Vou de cet aspect, il nous est facile de déduire une
hypothèse d’interprétation peur
la couleur incolore noir:
le noir symbolise une fonction qui a non seulement pour effet
d’écarter les excitations venant de l’extérieur, de restreindre l'attrait
du monde externe, mais aussi de restreindre la décharge des émo¬
tions, et dans le cas extrême, de les paralyser.
Ceci correspond à la manifestation de la pseudostabiiisation, mais'
simultanément aussi de la peur. Le syndrome «rouge normal ou
réduit / noir accru» est caractéristique pour la coarctation extra-
versive du type névrotique ou pour la phobie, n général, ce syn¬
drome représente, quoiqu’il en soit, la barrière contre les irritations
venant de l’extérieur qui repose sur la répression (Verdrangung) de
besoins, de désirs et de motifs émotionnels.
Le noir représente généralement un facteur d’inhibition de mo¬
tivations et de réactions émotionnelles. Le choix naturel du noir —
ni trop, ni trop peu — exprime cette mesure indispensable de répres¬
sion que l’homme cultivé doit accomplir. Si le noir manque, nous
voyons là un signe de favorisation du caractère émotionnel immédiat
et du manque de contenance, précisément du fait que l’inhibidition.
et la répression sont absents ou trop faibles. (Au lieu du noir, les
couleurs gris et bleu peuvent jouer le rôle de facteurs de refou¬
lement . )
La couleur incolore gris7:
Le gris se présente sous le même jour en face de rouge en cor¬
rélation négative, mais uniquement dans le sens que lors de l’accrois¬
sement du rouge le gris diminue, mais non inversement.
Généralement, le gris ne fait même pas l’objet du choix chez la
majorité das individus. L’absence du gris, tant du point de vue col¬
lectif qu’individuel, ne signifie pas grand’chose. L’augmentaition de
gris se rencontre, parmi tous les groupes cliniques, uniquement dans
le groupe collectif des névrotiques. Il s’agit là d’un résultat fondé
sur la statistique, correspondant à un groupe très étendu.
Des résultats casuistes ont confirmé la supposition que le gris,
plusque toute autre couleur, correspond à ce mécanisme de défense
qui nie la réalité (négation dans le sens de S. FREUD). Parmi les
enfants jeunes, chez qui se développe le contrôle de la réalité, l’on,
rencontre la négation sous sa forme naturelle de l’évolution du Moi.
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
31
Parmi les adultes, les cas de névrotiques, où la négation constitue
un élément essentiel de leur travail de défense, sont rares. L’accrois¬
sement du gris laisse apparaître des traits hystériformes chez des
personnes sujettes à la névrose ou névrotiques empruntes de désirs
instinctifs prononcés et de le défiguration perceptive caractéristique
nommé «mythomane».
La couleur incolore blanc:
En considérant finalement sous ce même aspect la troisième
couleur incolore, le blanc, nous percevons ceci: Entre le rouge et le
blanc, il n’est guère possible de constater, parmi les groupes analy¬
sés, un parallélisme ou un antagonisme des quantités de pourcen¬
tage. C’est ainsi, par exemple, que le blanc s’accroit en présence de
sursatisfaction affective, dans le groupe collectif étendu des psycho¬
ses schizophrènes, chez les épilectiques, chez certains types de psy¬
chopathes et de névroses, etc.
En général, le blanc ne fait même pas l’objet du choix chez la
majorité des individus, — comme le gris aussi. La réduction du
blanc a lieu par exemple sous l’effet de Mégaphène.
La signification fondamentale du blanc se laisse percevoir à
partir des résultats des épileptiques, où le rouge se trouve également
accru. Des épileptiques (surtout lorsqu’ils ne sont pas sous l’effet de
médicament) se caractérisent par leur susceptibilité et leur irrita¬
tion brusque qui peut les inciter à des actes de violence brutaux.
Dans le cas extrême, ce symptomatisme agressif apparaît en dis¬
corde avec la personnalité, séparé, pour ainsi dire, de la personna¬
lité.
Des phénomènes de discordance apparaissent également comme
états passagers, notemment en présence d’épuissements tant psy¬
chiques que physiques, comme phénomène de la sursatisfatcion, ou,
à l’aide de médicaments, par le LSD. A l’état de discordance, une
seule émotion peut s’approprier dynamiquement toutes les excita¬
tions affectives et les rendre brusquement manifeste. Ce processus
de crise est connu sous le nom de «réaction-bascule» (Kipp-Reaktion).
Cette réaction se caractérise par la décharge brusque, non motivée
de l’extérieur, de tensions émotionnelles. La crise peut aboutir:
ou bien à un symptomatisme agressif (brutalités épilectiques, par
exemple) ou dans un symptomatisme dépressif (effondrement in¬
terne) . Le dénouement d’un tel accès, s’effectue rarement dans «le
calme équilibre».
Tout ceci est valable pour l’hypothèse d’interprétation du blanc,
en ce qui concerne l’accroissement, cela va de soi.
L’accroissement simultané du blanc, du rouge et du g r i s ca¬
ractérise l’état de conflit du type hystériforme: irritabilité aiguë
avec tendance à des accès, simultanément négation des exigences
réelles du monde extérieur. Dans ce cas, le dédaignement de
l’orange et du jaune vient s’ajouter fréquemment, comme symp¬
tôme de la suggestibilité.
32
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
La réduction simultanée du noir, du gris et du blanc se
représente comme propriété complexe caractérisant révolution im¬
parfaite de certaines fonctions du Moi, en particulier des fonctions
défensives. L’on a observé un affaiblissement des fonctions défen¬
sives du Moi en présence des types qui ne refoulent ou n’assimilent
pas suffisamment les exigences des désirs; c’est pourquoi le com¬
portement est motivé dans le sens négatif du point de vue social (les
délinquants sexuels, par exemple) . Des faibles fonctions défensives
du Moi se rencontrent également chez le type hypertonique, insa¬
tiable d’activité dont l’agitation continuelle n’est pas toujours d’un
effet positif du pont de vue social. Finalement les individus aux ca¬
pacités accrues, actifs et énergiques qui se comportent normalement
et de manière positive, font apparaître également une sous-évolu¬
tion des fonctions défensives du Moi.
L’absence des couleurs incolores indique d’autre part une im¬
muabilité de la structure des affects et une maturité émotionnelle
relativement imparfaite. Ces individus n’ont jamais réussi à vain¬
cre leurs désirs infantiles, leur Moi est livré aux impulsions des
désirs de manière plus ou moins passive. Chez les enfants d’âge
scolaire moyen, ceux qui évitent les couleurs incolores représentent
enfants impulsifs, à problèmes, difficilement éducables.
La couleur orange :
Indépendamment de la couleur type de l’excitation, le rouge, les
couleurs orange, jaune et les teintes claires du vert font partie de
la face extraversive de l’affectivité. L’orange et le jaune symboli¬
sent des qualités émotionnelles fort diverses.
Les individus choisissant obstinément l’orange ont avec le mon¬
de extérieur les rapports précis résultant de la projection de leurs
affects. Ils réagissent surtout en face d’attraits et de situations
qui leur offrent la possibilité d’assouvir leurs désirs accentués, —
en précisant: d’assouvir leur sensualité très développée. Fréquem¬
ment il s’agit aussi de l’accentuation d’un désir prononcé de domi¬
ner. Leur désir de dominer est à la base de la motivation qui les
fait se croire supérieur en tous lieux. Ceci entraine un certain
comportement social. Ces individus peuvent déranger de par leur
présomption et leur surestimation les rapports sociaiux de la com¬
munauté dans laquelle ils vivent. Il ne leur est possible de s’enten¬
dre qu’avec des individus qui de leur côté ont une tendance accen¬
tuée de subordination. Ils ont également un penchant à se croire
persécutés, à cause de la projection de leurs propres désirs.
L’accroissement de l’orange se retrouve dans la plupart des cas
de mégalomanie (dans la paralysie progressive, par exemple), chez
d’autres expériences délirantes (ainsi le délire de persécution des
schizophrènes paranoides, pas dans tous les cas — ), dans l’état d’ébrié¬
té causé par le LSD et parmi les adonnés à la boisson chroniques
et déments. L’on reconnait à ces symptômes que l’accroissement
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
33
de l’orange est manifestement caractéristique pour l’altération ma¬
ladive de la façon de réagir face à la réalité; et de même pour le
penchant accentué à la confabulation (Syndrome de Korsakow des
alcooliques, état d’ébriété dû au LSD) . Ce trait devient évident,
sous une forme moins prononcée, en présence d’individus stimulés
expérimentalement (Pervitine) qui sous-estiment la résistance du
monde extérieur en surestimant leurs propres capacités de rende¬
ment .
En négligeant l’orange, une suggestibilité accentuée s’annonce,
et, simultanément une faiblesse de la conscience de soi-même.
Le choix normal moyen de l’orange caractérise les individus qui
disposent d’une sensibilité prononcée et chaleureuse, ni trop exci¬
table, ni trop apathique; sentiments modérés (non pas, comme en
présence du rouge: réaction spontanée) et sentiments assimilables
(par contre, en présence du rouge: agitation débordante) .
La couleur jaune:
Un choix accru du jaune indique des tendances extraversives
prononcées avec le concours d’une certaine faiblesse du résonne-
ment émotionnel, basée sur une ref rénation (Hemmung) générale
des forces d’impulsion. Ces individus supportent mal des frustra¬
tions de leurs désirs et besoins rares mais précis. Us sont quelque
peu revêches, irréguliers dans leur comportement. Leurs rapports so¬
ciaux sont guidés par des sentiments prononcées de sympathie et
d’antipathie; des motifs très développés servent à des buts (objec¬
tifs et personnels) précis, d’autres contre d’autres buts non moins
précis. Ainsi, par exemple, les névroses anancastes où le fait d’évi¬
ter ou de rechercher détermine les différents formes du comporte¬
ment. De même les individus qui écrivent avec un degré d’inflexi¬
bilité IV (POPHAL (15) ). (Le degré d’inflexibilté IV dans l’écri¬
ture peut provenir de la faiblesse, de la tension aiguë ou par suite
de certains troubles extrapyramidaux) . Dans certaines caractéris¬
tiques graphiques, l’ambivalence apparait également, qui provient de
conflits non résolus et ancrés et qui caractérise les anancastes.
Chez les anancastes et certains individus qui ont des traits
d’écriture rigide, le choix accru de bleu s’associe au choix accru
de jaune (nous insistérons ultérieurement sur le bleu). En ce qui
concerne la connexion du bleu avec le jaune, j’anticiperai en préci¬
sant que l’accroissement du bleu représent la caractéristique du con¬
trôle trop prononcé de soi-même, comme c’est le cas chez les indi¬
vidus qui ont des traits d’écriture rigides et en présence d’anan-
castes .
La préférance du jaune indique également la présence d’aspira¬
tions et d’ambitions précises bien développées, empreintes, certes,
d’une tendance à l’intolérance.
En présence de personnes douées de qualités de chef, l’on re¬
trouve le choix des couleurs jaune et orange, ou au moins, Tune
34
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
des deux. (17) C’est à quoi l’on reconnaît que ces individus possè¬
dent simultanément quelque chose de la volonté de puissance et de
l’idée exagérée de soi-même caractéristique à ceux qui préfèrent
l’orange, et des ambitions précises de ceux qui préfèrent le jaune.
La caractéristique principale de la suggestibilité est représentée
par l’éviction du jaune.
La couleur vert:
L’accroissement du vert implique généralement une intensité
accrue des réactions et des motivations émotionnelles. La termino¬
logie introduite par HEISS (5) pour la valeur symptomatique du
vert «cumulation des émotions» caractérise cette situation. C’est
la symptôme de l’accroissement de l’intensité du sentiment qui pro¬
vient de la cumulation d’excitations affectives.
L’accroissement du vert indique une accumulation d’excitations
affectives qui peut mener à arrimage d’affects. C’est pourquoi ceux
qui préfèrent le vert s’adaptent émotionnellement plus ou moins bien;
ainsi les tempéraments schizoides, les névroses hystériformes et, en
général, les psychopathes. Le trouble des contacts d’homme à hom¬
me fait également partie de cette adaptation externe imparfaite, —
même cas lors de l’éviction du vert. L’un et l’autre sont sujets à
des troubles d’adaptation. Le choix prononcé du vert indique éga¬
lement une hypersensibilité, une susceptibilité aiguë, qui se pré¬
sente lors de cumulation et de faibles décharges d’affects.
L’accroissement accentué du vert et du rouge se rencontre
comme caractéristique psychopathe en présence d’individus impul¬
sifs dont le Moi est faible et où l’on diagnostique un manque de
contenance plus ou moins prononcé; la plupart du temps l’orange
et le jaune sont réduits. En présence de prostituées, avec leur Moi
faible, qui se laissent entraîner passivement par leurs désirs ins¬
tinctifs, l’on rencontre de pair avec l’accroissement du vert et du
rouge une réduction du marron.
Le choix moyen des teintes claires du vert indique l’existence
d’une certaine mesure, de stimulation extraversive, tandis que les
teintes foncées indiquent l’intensité de l’émotion. En allemand il
existe un mot «Gefühlstiefe/ (verbalement: profondeur de senti¬
ments) qui exprime l’intensité du saisissement qu’un individu est
capable de ressentir en face d’émotions et d’expériences vécues.
En présence d’un syndrome des couleurs qui apparaît accentué
dans son intégralité chez les individus actifs et énergiques doués
de grandes capacités de rendement, l’on rencontre à côté de l’accrois¬
sement du vert une augmentation du marron et du jaune, tandis
que les couleurs incolores sont réduites . Ce résultat caractérise
l’état affectif des individus actifs et énergiques: on va son chemin
conscient du but à suivre (jaune), avec une intensité voulue (vert),
force et persévérance (marron) et agit dépourvu d’inhibitions, adapté
à la réalité et consciencieusement (noir, gris et blanc réduits); on
PONT. UNIY. CAT. DO R. G. S.
35
n’est pas enclin à la suggestibilité et ne se berne pas si facilement
lui-même (abaissement du jaune et de l’orange) .
La couleur marron :
Le fait de vouloir demeurer, persister dans tel ou tel état émo¬
tionnel est caractérisé par la couleur marron, de, même la durée et
la persévération de l’affect. Ainsi nous percevons à quel point ces
individus sont peu influençables, de même les difficulés d’approche,
la résistance, l’opposition présentée qui caractérise ceux préférant
le marron. Ils font preuve de résistance accentuée en face d'exci¬
tations nouvelles et inhabituées. Ainsi en présence de, la fatigue
toxique, chez les individus adonnés à la boisson et chez les névro¬
ses hysterif ormes . Tous ces individus ont tendance à demeurer dans
leur état d’affetc et à opposer aux influences extérieurs, même à la
thérapie, un mur de résistance.
Le fait que les individus préférant le marron sont fréquemment
liés aux traditions et qu’ils forment leurs idéals culturels à l’échelle
de leur maison paternelle et de leur patrie est conforme au facteur
de persévération émotionnelle. Ils défendent avec entêtement, par¬
fois même fanatiquement, les formes et les idéals transmis contre
les influences et l’irruption de formes de vie nouvelles qui leur
sont étrangères. Par conséquent, indirectement le marron représen¬
te une caractéristique de la force du Moi.
La couleur violet:
Nombre d’individus sains et tout à fait normaux ne choisissent
pas le violet. Ce sont généralement ceux qui émotionnellement et
en tant que personnalité sont dépourvue, de façon relative; de dif-
rérenciaition et où les symptômes de troubles affectives ou névro¬
tiques sont absents. De même le type de l’individu actif et éner¬
gique n’éprouve rien pour le violet. Or, les névropathes schizoides
et anancastes évitent également le violet, mais font preuve de bizar¬
reries plus ou moins grossières dans d’autres couleurs. C’est pour¬
quoi l’absence, de violet ne peut être interprétée a priori comme ca¬
ractéristique du normal. Dans l’état d’ébriété dû au LSD le violet
est accru; de même lors de la sédation à l’aide de Mégaphène, de
sursatisfaction affective et en présence de schizophrènes. Ces cons¬
tatations projettent une image très complexe de l’augmentation du
violet .
Celui-ci apparait le plus compréhensible si on lui prête la ca¬
ractéristique d’une labilité affective non spécifique. Par exemple:
L’individu le plus sain et le plus équilibre accuse en présence de
sursatisfaction affective des réactions sortant de l’ordinanre, telles
que apathie, persévération, manifestation violente d’affects, affai¬
blissement du contrôle — l’accroissement du violet est, en l’occu¬
rence, l’indicateur de la labilisation. Subjectivement, la labilité
s’identifie sous une forme d’inquiétude, d’agitation sourde dont la
36
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
cause est souvent ignorée des individus eux-mêmes; dans le libre
comportement l’on perçoit fréquemment une irritation qui apparaît
non motivée. Ces manifestations ont inspirées les premières formu¬
lations de. la valeur symptomatique du violet: «agitation ‘endogène».
Cette définition touche très exactement la notion de la labilité de
structure des individus préférant le violet.
C’est de cette façon que l’on parvient à s’expliquer les divers
résultats obtenus chez divers types de névrosés sous l’effet de Mé-
gaphène et du LSD; à l’époque de l’analyse au moyen du test des
Pyramides des Couleurs, la régulation et la stabilisation désirés thé¬
rapeutiquement avec l’emploi de Mégaphène, ne se manifeste que
petit à petit.
La couleur bleu:
L’accroissement du bleu, accompagné la plupart du temps d’une
réduction plus ou moins importante de rextraversion, s’identifie
comme caractéristique d’un contrôle (parfois même sur-contrôle)
des affects inconscients, perceptibles 'en partie, de temps en temps
renforcé par la volonté. Le sur-contrôle est le résultat d’une atti¬
tude défensive envers les attraits du monde extérieur 'et d’un système
d’échappement économe d’énergies affectives. Les individus préfé¬
rant le bleu se développent souvent sur un fond d’infériorité biolo¬
gique, l’équilibre entre les tendances introversives et extraversives
est mal établi, ce qui favorise les évolutions névrotiques. Ces der¬
nières sont caractérisées par deux symptômes: premièrement, l’am¬
bivalence, et deuxièmement, l’attitude négative prise en face aux
attraits venant de l’extérieur, aux influences et aux différentes si¬
tuations. L’effet est un sur-contrôle. Cet instance de contrôle, sym¬
bolisée par le bleu, et le couleur incolore noir, ont ceci de commun
qu’elles impliquent toutes deux un empêchement et un entravement
des excitations affectives.
Dans leur libre conduite, ceux qui préfèrent le bleu affichent
ce distancement poli qui s’accompagne de conventions prononcées
et de formes rigides. L’authenticité d’un sentiment ou d’une attitude
leur est étrangère. Ces mêmes individus ont tendance à styliser leur
personnalité et leur mode de vie. Ils sont des pessimistes par prin¬
cipe, dans les cas extrêmes ils sont «négativistes».
L'accroissement du bleu et celui du g r i s, pris ensemble, ressem¬
ble beaucoup au domaine de l’expérience vécue introversive. Chez
les enfants, il s’est établi une corrélation positive nette entre le
type introversif (authentique et dépourvu de chocs) du test de
RORSCHACH et un accroissement du bleu et du gris dans le test
des Pyramides des Couleurs.
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
37
\
Ca que je viens d’exposer est le résumé des résultats principaux
de notre analyse expérimentale et clinique du test des Pyramides des
Couleurs. Certes les couleurs de ce test ne représentent qu’une par¬
tie des variables employés. Nous disposons, en outre, de variables
des espèces structurelles des pyramides («Formung»), et de varia¬
bles de l’alternance des couleurs choisies («Verlaufsformel/). Dans
le diagnostic nous ne considérons pas uniquement la signification
des couleurs, mais nous utilisons aussi les variables précitées.
BIBLIOGRAPHIE
1) Alschuler, R. H. & L. B. W. Hattwick: Painting and Personality, Chicago,
III. 1948
2) Brengelmann, J. C. : Psychol. Rundschau (Gottingen) 1953t IV, 33-43, 165-173
3) Prohoff, W. : Zeitschr. exp. angew. Psychol. (Gottingen) 1953, I, 145-181
4) Heiss, R. : Psychol. Rundschau (Gottingen) 1952, III, 1-11
5) Heiss, R. & H. Hiltmann (Hrsg.): Der Farbpyramidentest. Bern 1951
6) Hiltmann, H. & R. Heiss: Schweiz. Zeitschr. Ps|ychol. (Bern) 1950, IX,
441-462
7) Kadis, A. L. : v. Abt, L. E. & L. Beliak (Edit.): Projective Psychology,
New York, 1950
8) Karl, H. : Zeitschr. exp. angew. Psychol. (Gottingen) 1953, I, 524-567
9) Katz, D. : Die Erscheinungsweisen der Farben und ihre Beeinflussung
durch die individuelle Erfahrung, Leipzig 1911
10) Kloska, G. : Der Neurot'ker im Spiegel des Farbpyramiden-Tests, 1955 (sous
presse)
11) Lowenfeld, M. : The Lovenfeld Mosaic Test, London 1954
12) Lüscher, M. : Ps/ychologie der Farben, Basel 1949
13) Norman, R. D. & W. A. Scott: J. Gen. Psychol. 1952, 46, 185-223
14) Pfister, M. : Psychol. Rundschau (Gottingen) 1950, I, 192-194
15) Pophal( R. : Die Handschrift als Gehirnschrift, Rudolstadt 1949
16) Rainio, K. : Ztschr. diagnost. Psychol. & Personlichkeitsforsch. (Bern) 1954,
2, 292-308
17) Rainio, K. : Leadership Qualities, a theoretical inquiry and an experimen¬
tal study on foremen, Helsinki 1955
18) Rorschach, H. : Psjychod'agnostik, Bern 1954
19) Sauer, P. : Experimented Untersuchungen über Ermüdung im Farbpyra-
miden-Test, Phil. Diss. Freiburg (Brsg.) 1955
20) Siedow, H. : Ztschr. diagnost. Psjychol. & Personlichkeitsforschg. (Bern)
1958, VI (sous presse)
21) Spreen, O. : Studien z. Diagnost. Psychol. (Biel) 1955, 3, 79-120
22) v. Studien z. Diagnost. Pslychol. (Biel) 1955, 3, 121-132
23) Wells, N. A. : Psychol. Bulletin 1910, 7, 181-229
24) Wewetzer, K. H.: v. Hiltmann, H., H. Lossen, B. Muchov & k. H. Vevet-
zer: Verlaufsanalyse in der psjycholog'schen Diagnostik, Bern 1954
25) Ziolko, U. : Experimentell-psjychologische Studien an Neurotikern mit dem
Farbpyramiden-Test, 1957 (publication préparée)
26) Zulliger, H. : Behn-Rorschach-Test, Bern 1952
27) Zulliger, H. : Der Z-Test, Bern 1948
28) Zulliger, H. : Der Tafeln-Z-Test, Bern 1954.
DR. HILDEGARD HILTMANN
Professeur de Psychologie à l’Université de Fribourg
(Brisgou), Allemagne, Bertoldstrasse 17.
EL IDIOMA ESPAÑOL
AI Rvdo. Hno. Dionisio Lucas y a sus
estudiantes devotos del idioma de Cervantes.
Hno. JOSE’ IGNACIO
i _ bosquejo histórico evolutivo
Los primeros vestigios del idioma vulgar español desaparecie¬
ron en la destrucción del imperio hispano-visigodo, en el siglo VIII.
Pero el romance hablado antes de la conquista de Aandalucía (s.
XIII) se parecía al leonés, aragonés, catalán y portugués pero no
al castellano.
«Al norte del reino visigodo (Cantabria) se mantenía latente el
dialecto castellano, solitario como sus montes de Oca, rudo como el
carácter cántabro, y resistente al empuje de romanización. Castillo
defensivo . . . , más tarde nido roquero de rebeldes famosos como
Fernán González y del más aguerrido alférez «Mió Cid» que en su
expansión militar propagó el insignificante dialecto de Castilla, fun¬
diéndole con el leonés y el aragonés, desalojando del sur el tímido
romancero de los mozárabes» (Martín Alonso) .
Conquistó pues el castellano el derecho de lengua al conseguir
sobreponerse a los demás dialectos peninsulares como un hecho pa¬
ralelo al acontecimiento histórico de la expansión de Castilla, tanto
territorial como política y judicialmente...
Nadie podrá poner en duda hoy, de que, entre las lenguas eu¬
ropeas y universales, la española brilla con singular fulgor y goza
de día en día de mayor prestigio. Sigamos paso a pasó, siglo por
siglo, aunque muy .someramente, el origen y la evolución del idioma
castellano. Podemos iniciar nuestro esbozo histórico a partir del si¬
glo IX, en el que un condado Castella, «castillos», al este de Asturias,
empieza a desarrollarse, pues
«Harto era Castilla, pequeño rincón,
cuando Amaya era cabeza y Hitera el mojón;»
dándole singular valor histórico el conde Fernán González, que con¬
siguió en el siglo X notoria independencia para el condado.
El «castellano» empieza ya a proferir sus primeros vagidos en
el siglo X; es informe e impreciso como crisálida aún de la futura
lengua española. En una de las glosas del monasterio de San Millán
de la Cogolla (Zogroño), atribuidas al siglo X, se encuentra un
párrafo, publicado por el señor Gómez Moreno, que ya rezuma mor-
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
39
fología incipiente, pudiendo ser considerado como el primero y más
antiguo documento que se conoce en castellano: «Como ajutorio
de nuestro dueño, dueño Christo, dueño Salbatore, qual dueño get
ena honore, equal duenno tienet ela mandatione cono Patre, cono
Spiritu Sancto, enos siéculos de los siéculos. Fácanos Deus cmnipo-
tes tal servicio fere que denante ela sua face gaudiosos seyaMUS.
Amén».
Las palabras más antiguas conocidas en castellano, en honor y
primer homenaje a nuestra religiosidad, son una humilde plegaria.
No menos brumosa y lenta sigue la gestación y metamorfosis
de nuestro dialecto en el siglo XI; confuso e indefinido aún, se es¬
fuerza por desembarazarse de las formas latinas y de la dureza e
imperfección del léxico de primera etapa.
He aquí un curioso ejemplo sacado de una «Declaración de los
derechos del canal de Castilla/, hacia el año 1030:
«De illa particigón que feci senigor Sango Garece. Ad
Galino Acenarece era lorika, ero kabalo, era espata. Ad
Sango Scemenones ero kabalo, era mulla, era espata, ero
elemo. Ad Scemonio si teñe illa onore (feudo), tiengo ero
kabalo por mano de Cómela; e si lesea era onore, ero ka¬
balo segat su engenobo libre» . . .
Por menéndez Pidal sabemos que «todos los escritores árabes
españoles aluden a cada paso a la lengua romance usada entre
ellos». Asimismo los poetas árabes compusieron antiquísimas can¬
ciones o jarchas, de las que Judá Le vi (s. XI) nos permite dar un
ejemblo lleno de interés en un castellano inseguro con mezcla de
resabios árabes:
«Vayse meu corachón de mib,
? ya, Rab (oh Dios), si se me tornarad?
zan mal meu doler li-l-habib ! (por el amado)
Enfermo yed, ? cuándo sanarád?».
El siglo XII tiene importancia decisiva en la Historia de la Fi¬
lología española; Montero Diáz le apellida «siglo de la gran rota-
ración de Europa». Como ya León, Toledo y Zaragoza estaban vir¬
tualmente dominados por los cristianos, los dialectos en boga eran
el leonés, el castellano, el aragonés, el gallego1 y el catalán. Siglo
de los cantares épicos, el dialecto castellano había de apuntarse una
gran hazaña, Mió Cid, el mayor monumento épico del siglo, con
evidente sentido patriótico y nacional, lo que permite considerar
al héroe como un genuino símbolo de la Patria.
Aunque la métrica del poema es irregular y el lenguaje aun está
lejos de acusar formas depuradas, la genial obra esboza claramente
la enérgica impronta espiritual de los nobles atributos de la ardiente
alma castellana.
Sirvan de ejemplo uns versos del primer canto (el destierro):
40
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
«Mío Çid Roy Díaz por Burgos entrove,
en sue compaña sessaente pendones;
exien lo veer mugieres e varones,
burgueses e burguesas, por las finiestras soné,
plorando de los ojos, tanto avien dolore.
De las sus bocas todos dizían una razone:
«Dios, qué buen vassallo, si oviesse buen señore!/
Tanto los cantares de gesta del siglo XII como el «Poema» son
anónimos; por lo que sólo el siglo XIII acusa los primeros autores
responsables de sus obras, que son como los primeros pilares y fun¬
damentos inapreciables de nuestra literatura. El clérigo rio j ano Gon¬
zalo de Berceo es el iniciador de la poesía religiosa, tan pintoresca
cuan realista en aquel su román paladino, en el que popularizó vi¬
das de santos y leyendas milagrosas, en el verso espontáneo y plás¬
tico del mester de clerecía.
No menos célebre y más si cabe deve considerarse al «padre
de la prosa castellana», Alfonso X el Sabio. Su palacio era una como
Academia de la Lengua, en la que numerosos sabios, judíos como
árabes, frailes como segrares, disertaban y escribían sobre las más
variadas y elevadas concepciones del espíritu. Con el autor de las
cantigas se concreta y define la unidad lingüística, perfeccionán¬
dose la sintaxis depurándose el vocabulario e introduciéndose pala¬
bras nuevas latinas y árabes.
En su Loor de España describe su riqueza y belleza como si¬
gue: «España es ahondada de mieses, deleitosa de fructas, viciosa
de pescados, sabrosa de leche et de todas las cosas que e della facen,
lena de venados et de caza, cubierta de ganados, lozana de caballos,
provechosa de mulos, segura et bastida de castiellos, alegre por
buenos vinos; rica de metales, de piedras preciosas... e dotros mi¬
neros muchos. . .»
El siglo XIV es de perfeccionamiento sobre todo en la prosa.
El arcipreste de Hita deja una joya inmortal con el Libro del Buen
Amor, en el que dibuja con mano maestra la sociedad española de
su siglo, procurando demostrar entre risas, bromas y alegorías la
vanidad del amor mundano.
El Rimado de Palacio, obra compleja religioso-político-moral
del Canciller es satírica pero más severa y dura que la del arci¬
preste. Encuanto a D. Juan Manuel, de expresión concisa y ajus¬
tada, es como el precursor del conceptismo, pues prescribe se es¬
criba con «las menos palabras que pudiéredes, con verdad y dere¬
chamente».
Libro del Buen Amor (Juan Ruiz)
«! Ay Dios, e cuán fermosa viene doña Endrina por la plaza!
! Qué talle, qué donaire, qué alto cuello de garza!
! Qué cabellos, qué boquilla, qué color, qué buen andanza!
Com saetas de amor fiere cuando los sus ojos alza».
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
41
Pasado este siglo de literatura burguesa se presenta el siglo
XV con suas poemas épicos y sus cancioneros; sus tres grandes poe¬
tas de transición entre lo medieval y lo renacentista, revalorizan
nuestro léxico, dando al idioma un' notable empuje evolutivo me¬
diante notable suma de neologismos y equiparación sintáctica con
el latín. El Marqués de Santillana, Juan de Mena y Jorge Manrique
anuncian la alborada del Renacimiento. Siglo glorioso de los Reyes
Católicos, artífices de la unidad nacional y de rechazó de la unidad
lingüística. En esta época una ideal feliz vino a materializarse en
la mente de Antonio Nebrija, la primera Gramática en lengua ro¬
mance, que según él había de ser «compañera del Imperio».
Uno de los primeros efectos del Renascimiento español fué la
creación del primer mito de la literatura universal, La Celestina
(Burgos, 1499), puntal literario e ideológico en el que se ventilan
dos conceptos espiritual y material — amor y dinero — en el que
alternan dos estilos, erudito y popular.
Fragmento del aucto primero de La Celestina (Fernando de Rojas)
Calixto — En esto veo', Melibea, la grandeza de Dios.
Melibez — ?En qué, Calixto?
Calixto — En dar poder a natura que de tan perfecta hermosura
te é facer a mi inmérito tanta merced que verte alcançasse e en tan
conueniente lugar, que mi secreto dolor manifestarte pudiese. Sin
dubda encomparablemente es mayor tal galardón, que el seruicio,
sacrificio, deusción, e obras pías, que por este lugar alcançar tengo
yo a Dios offrescido, ni otro poder mi voluntad humana puede con-
plir ...»
Al advenimiento del siglo XVI ya cuenta el español con un
estilo de corte clásico; se define como época aurea de perfección
idiomática y de expansión lingüística. Juan de Valdés, en su Diá¬
logo de la Lengua dice que «assi entre damas como entre caballe¬
ros se tiene por gentileza y galanía saber hablar el castellano».
Esta edad de oro de nuestras letras, que empieza con Garcilaso
y pone broche áureo con los Autos Sacramentales de Calderón asiste
a un desfile esplendoroso de luceros tales como Fray Luis de León,
«clave del Renacimiento español, Femando Herrera el divino/, los
santos místicos Teresa de Jesús y Juan de la Cruz, el gran Cervan¬
tes o la plenitud de la novela, Lope de Vega o la creación del tea¬
tro culto-popular, Góngora o el artificio metafórico, Quevedo o el
ingenio satírico, Gracián o la discreción profunda y Calderón o el
simbolismo teológico.
Vértice de la pirámide de nuestro' clasicismo es el gran mo¬
mento de nuestra catolicidad idiomática. Europa aprende el cas¬
tellano «por la necesidad que tienen, ansí para las cosas públicas
como para la contratación» (Arias Montano); y de tal manera toma
42
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
auge, que Carlos V sustituye el latín por el español en las relacio¬
nes diplomáticas.
Verdad es que la rica exuberancia de nuestro clasicismo' origina
un lenguaje alambicado y artificioso en el siglo XVII, que culmi¬
nará con Góngora; pero debe reconocerse que ello condujo a mayor
riqueza de vocablos, a formas nuevas y a rumbos sintácticos insos¬
pechados. El siglo XVII (1605) puede sentirse orgulloso de haber
sido testigo de la primera edición de El Ingenioso Hidalgo Don
Quijote de la Mancha, sátira ingeniosísima contra el espíritu des¬
cabellado' de aventuras, que dió al traste con la novela medieval y
con los libros de caballerías. Cervantes no condena en sua obra todo
lo caballeresco' sino lo ridículo y extravagante, sabiendo enaltecer
lo que de nobre, hermoso e idealista encierra la sana caballería.
Este segundo mito de la literatura universal simboliza toda la
nobleza idealista del alma humana y en especial la española y es el
más desconcertante, espiritual y humano de todos tipos míticos li¬
terarios. Menéndez Pelayo no titubeó en llamar al autor el «primer
novelista del mundo, gran poeta en prosa y admirable creador de
representaciones ideales». Otro' triunfo que se apunta el siglo XVII
es el tercer mito de la literatura universal; «Don Juan», cuyo crea¬
dor es Tirso de Molina en su obra El Burlador de Sevilla y el Con¬
vidado de Piedra. Figura netamente renacentista, Don Juan es el
símbolo del hombre orgulloso, impío y libertino que procura gozar
por todos los medios sin la menor preocupación del «más allá».
Este tema, como La Celestina y Don Quijote, ha tenido inmensa
repercusión, no' sólo en España sino por varios países de Europa,
contando numerosas derivaciones que de muy variados modos tra¬
tan el tema fundamental.
De los cinco mitos de la Literatura universal, tres pertenecen! a
la literatura española; los otros dos son Hamlet de Shakespeare y
El Fausto de Goethe.
Aventura de los rebaños (Quijote)
«En estos coloquios iban Don Quijote y su escudero, cuando
vió Don Quijote que por el camino que iban venía hacia ellos una-
grande y espesa polvareda, y en viéndola se volvió a Sancho y le
dijo:
— Este es el día, oh Sancho, en el cual se ha de ver el bien que
me tiene guardado mi suerte: este es el día digo, en que se ha de
mostrar tanto como en otro alguno el valor de mi brazo, y en el
que tengo de haver obras que queden escritas en el libro de la fama
por todos los venideros siglos ...»
Despuées del «Siglo de Oro», época de la épica culta con sus
variadas epopeyas, desde La Araucana de Alonso Ercilla hasta La
Crist íada de Diego de Hojeda, ai como de la picaresca, o crítica sa¬
tírica de la sociedad y de sus vicios y ridiculeces, se nos presenta el
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
43
siglo XVIII — llegada de los Borbones — que aunque represente un
«momento de ordenación y de estudio», se le deben apuntar dos
graves deslices, el «afrancesamiento» de unos (Suzán, Moratín, etc
y el tinte «enciclopédico» de otros (Quintana, Marchena, etc.) .
Pero también se esboza un buen deseo de purificar el idioma
de las extravagancias y alambicamientos del barroco. Asi pues, el
P. Feijóo, «incorruptible a la tentación extrangera» (Marañón), es
acreedor a nuestra gratitud, asi como Forner y Cadalso.
Uno de los aciertos de este siglo fue la fundación de la «Real
Academia de la Lengua», por Felipe V.
Sobre la opinión popular (P. Feijóo': Teatro crítico)
«Aquella mal entendida máxima de que Dios se explica en la
voz del pueblo, autorizó a la* plebe para tiranizar el buen juicio y
erigió en ella potestad tribunicia, capaz de oprimir la nobleza lite¬
raria. Es este un error de donde nacen infinitos; porque asentada
la conclusión de que la multitud sea regla de la verdad, todos los
desaciertos del vulgo se veneran como inspiración del Cielo... Aes-
tines judicia, non numeres, decía Séneca. El valor de las opiniones
se ha de computar por el peso, no por el número de las almas».
Aqunque Meléndez Valdés y Cadalso así como las Escuelas sal¬
mantina y sevillana pertenecen al siglo XVIII preludian ya nuevo
rumbo pues desean y auguran verse libres de las trabas neoclásicas.
Nuevas auras de libertad y de emoción subjetiva conducen al Ro¬
manticismo del siglo XIX, que nos depara un estilo de adjetivación
sonora y expresión impetuosa, una oratoria patética e impresionante,
una lírica sentimental con aciertos artísticos como en Bécquer, el
Duque de Rivas y Zorrilla y no pocas aberraciones y extravíos la¬
mentables como en Espronceda y Larra.
El Romanticismo tuvo pronta réplica a mediados del siglo que
se tradujo en una reacción hacia el realismo con Pardo Bazán y Pa¬
lacio Valdés, que deriva hacia el naturalismo con sus éxitos con
Alarcón, Valera y Pereda, y sus excesos con Blasco Ibañez, Pérez
Galdós y otros más.
Cierra este siglo airosa y gloriosamente para la cultura hispá¬
nica el insigne polígrafo Marcelino Menéndez Pelayo, creador de una
obra gigante, histórica, filosófica y literária, fundador de la crítica
e investigación modernas; en suma genio inapreciable al servicio de
la patria y de la religión, con un estilo que es el modelo más per¬
fecto de la prosa didáctica en el siglo XIX...
Historia de los Heterodoxos españoles (Menéndez Pelayo)
«! Dichosa edad aquélla, de prestigios y maravillas, edad de
juventud y de robusta vida! España era o se creía el pueblo de
Dios, y cada español, cual otro Josué, sentía en si fe y aliento bas-
44
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
tante para derrocar los muros al son de las trompetas o para atajar
al sol en su carrera. Nada parecía ni resultaba imposible: la fe de
aquellos hombres, que parecían guarnecidos de triple lámina de
bronce era la fe que mueve de su lugar las montañas. Por eso en
los arcanos de Dios les estaba guardado' el hacer sonar la palabra
de Cristo en las más bárbaras gentilidades.../
Finalmente, pasada la «generación del 98», impregnada de pa¬
triotismo pesimista, con sus valores literarios de entre los que des¬
cuellan Unamuno y Azorín, hace su entrada el polifacético siglo XX,
que adopta el modernismo, o un nuevo «romanticismo estético», con
más forma que fondo. Rubén Darío con su elegancia y musicalidad;
Gerardo Diego, místico y escultural; Valle-Inclán, enérgico y satírico;
Marquina, sobrio y profundo; Benavente, elegante e irónico; Ra¬
món Jiménez, lírico y depurado; Dionisio Ridruejo, delicado y me¬
tafórico; Dámaso Alonso y Menéndez Pidal, eruditos y equilibrados. . .
A unas manos orantes (Dionisio Ridruejo)
«Como tibia azucena adelantada
castamente entre el alba y el rocío;
orante nieve, cúpula de frió,
ojiva pura y levedad trenzada.
«Como ramo del alma revelada
pulcramente a la luz sin atavío;
como la fe del suspirante brío
en un vuelo de carne sosegada.
«Como un sueño de amor encaminado
en alba de gemelos surtidores,
al éxtasis del cirio recatado.
«Como ave par, alzada sin temblores
calmando en su misterio desposado
la desazón humana de las flores».
II. — IMPORTANCIA, BELLEZA Y UNIVERSALIDAD DE LA
LENGUA .ESPAÑOLA
Importancia. — Las causas principales de la importancia extraor¬
dinaria que ha tomado el idioma castellano en el mundo se deben
principalmente al descubrimiento de América, a los viajes que se
siguieron tanto transatlánticos como transpacíficos, a las guerras
europeas, y a la importancia política y jurídica de la España del
siglo XVI. Razón tuvo Nebrija al afirmar que la «lengua era com¬
pañera del Imperio».
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S. *
45
El insigne hispanista Mr. Allison Peers, catedrático de la univer¬
sidad de Liverpool dijo en una conferencia pronunciada en los salo¬
nes del Excmo. Ayuntamiento' de Madrid:
«El castellano tiene sus orígenes en el siglo XII, toma cuerpo
en las cancillerías, apareciendo en el Fuero Turgo y en Las Siete
Partidas, lengua de Imperio y de espiritualidad; la que al decir de
Carlos V constituye el mejor instrumento para hablar con Dios».
Hoy el español ocupa el tercer lugar en el mundo después del
chino y el inglés, con un total de almas que lo' usan en sus relacio¬
nes sociales de 145 millones, repartidos como sigue, según el «Bo¬
letín de la Sociedad de Naciones» de 1940:
Europa (España y judíos sefarditas de Grecia, Yugoslavia, Bul¬
garia, Rumania y Turquía): 27.700.000.
Asia (Turquía, Siria, Palestina): 150.000.
Africa (Marruecos y colonia españolas): 450.000.
América (México, Américas Central y Meridional, Estados Uni¬
dos y Brasil: 108.540.000.
Oceania ( Filipinas ) : 5 . 871 . 000 .
En América principalmente hay una preocupación latente muy
viva por el conocimiento científico del idioma español. Asi el «Ins¬
tituto' de las Españas» de la Columbia University de Nueva York y
la «American Spanish Society», fundada por Mr. Huntington en
Nueva York, así como el «Instituto de Filología» de Buenos Aires son
como los focos más importantes de la preocupación de cultura his¬
pánica.
Pueden citarse algunas de las publicaciones de más relieve como
«Revista de Filología hispánica» de Buenos Aires, «Revista Moderna
Hispánica», de Nueva York, «Boletín del Instituto Caro y Cuervo»
de Bogotá, «Boletín de Filología de Montevidéo, amén de otras Re¬
vistas de Literatura y Lingüística que se imprimen en Méjico, Chi¬
le, etc.
De España sigue transmitiéndose por irradiación espiritual y
científica el sentir por el vehículo de nuestra cultura que es el idio¬
ma, pues «La lengua, según dice von Wartburg, abarca todo lo esen¬
cial, es un gran todo...» Además de la labor de la «Revista de Fi¬
lología Española», de nuestras revistas y publicaciones diversas, la
actualidad cuenta con hombres entusiastas, paladines de la cultura
hispánica: Menéndez Pidal, fundador de la escuela del positivismo
científico'; Américo Castro, pedagogo de la lengua y de la literatura;
Navarro Tomás, organizador del «Atlas Lingüístico de la Península
Ibérica», y otros beneméritos como Vicente García de Diego, dia¬
léctico; Rafael Lapesa, historiador lingüístico; Damaso Alonso, es¬
tudioso' de clásicos y modernos, etc. . . .
Como complemento a estas breves y sencillas consideraciones
creo sea pertinente recordar que han sido otorgados cuatro «Pre¬
mios Nobel» de Literatura a escritores de lengua española: tres a
literatos españoles — José Echegaray (1905), Jacinto Benavente
46
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
(1922), y Juan Ramón Jiménez (1957) — y uno a la escritora chilena
Gabriela Mistral (Luzila Godoy, 1955)...
Nuestro mayor timbre de gloria no es el haber descubierto un
Nuevo Mundo, ni el haber conquistado tanto o cuanto territorio ame¬
ricano'. El mayor título nobiliario de España consiste en haber co¬
municado a las naciones de esse Nuevo Mundo, su sangre, su reli¬
gión y su lengua; porque si la sangre nos hace hermanos carnales
de esos pueblos, la religión nos transforma en hermanos espirituales
en Cristo con un lazo más sagrado, y la lengua nos hermana cul¬
turalmente, comunicándoles la impcnta de nuestra educación espi¬
ritual y de nuestra idiosincrasia intelectual.
Belleza. — Dos lazos poderosos, y los más hermosos, unen es¬
trechamente a un pueblo: la Religión y el Idioma. Estos dos pre¬
ciosos vínculos valornaran el espíritu y crean la tradición de una
nación. Para España estos dos lazos son la razón de su existencia
y los elementos más característicos de su recia personalidad: la re¬
ligión católica y el enérgico idioma de Castilla.
Uno de nuestros clásicos del siglo XVI, el místico agustino Fray
Pedro Malón de Chaide, dice en el prólogo de La Conversión de la
Magdalena en honor del castellano: «...No' hay lenguaje, ni le ha
habido, que al nuestro haya hecho ventaja en abundancia de térmi¬
nos, en dulzura de estilo, y en ser blando, suave, regalado y tierno
y muy acomodado para decir lo que queremos; ni en frases ni en ro¬
deos galanos, ni que esté más sembrado' de luces y ornatos floridos
y colores retóricos...»
La belleza del lenguaje de Castilla es múltiple, pues sabe ex¬
presar tanto el enérgico lenguaje de sus héroes como el susurro
espiritual de sus místicos. Es similar a la lengua griega en sono¬
ridad y belleza, pues es armoniosa en la lírica, enérgica en la épica,
varonil en la dramática, diáfana en la didáctica y flexible y gallarda
en la oratoria.
Otro testimonio de singular fuerza laudatoria en favor del idio¬
ma hispano nos lo facilita el escritor y monje cirsterciense norte¬
americano Thomas Merten, que se expresa así: «Después del latín,
me parece que no hay lengua tan apropriada para la oración y
para hablar con Dios como el español, pues es una lengua a la vez
fuerte y agil; tiene su precisión; tiene en si la cualidad del acero,
que le da la exactitud que necesita el verdadero' misticismo, y, sin
embargo, es suave también, gentil y flexible, cosa que requiere la
devoción; es cortés, suplicante y galante; tiene algo de la intelec¬
tualidad del francés, pero no la frialdad que la intectualidad toma
en el francés; nunca desborda en las melodías femeninas del ita¬
liano. El español es un idioma nunca flojo, aun en los labios de una
mujer».
No menos encomiástico que los anteriores resulta el juicio del
escritor francés Maurice Legendre, que no escatima ditirambos so¬
bre la belleza, dignidad y universalidad de nuestro idioma: «Cette
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
47
belle langue qu’est l’espagnol n’a pas acheté ¡’universalité au prix
de la vulgarité. Elle a au contraire beaucoup de tenue, de noblesse
et de gravité. . . Elle est oratoire; elle a des sonorités qui conviennent
aux assemblées; elle n’a pas le laisser-aller de l’intimité ou de la
familiarité de mauvais aloi...
Rappelons enfin la preuve la plus glorieuse du caractère à la
fois si universel, si populaire et si noble de la langue espagnole: la
diffusion incomparable du chef-d’oeuvre de Cervantès . . . »
Muchos y muy variados son los elogios que se han dicho y es¬
crito sobre nuestra hermosa lengua, y sería (que se han dicho y
escrito' sobre) exhaustivo el seguir transcribiendo la serie intermi¬
nable de opiniones y críticas laudatorias a este respecto. Sólo me
permitiré tres piropos más sobre el asunto:
— «El español es el idioma de los dioses» (Cardenal Gibbons) .
— «Es una lengua divina» (Victor Hugo) .
— «Es la lengua que por los labios de Teresa de Jesús mereció
conversar con Dios, y en la cual escribió Cervantes la Biblia huma¬
na de la Edad moderna» (Blanca de los Ríos) . Cierro este pará¬
grafo con la hermosa oda de corte clásico en honor del idioma cas¬
tellano, homenaje sentido con honda admiración y simpatía, del poe¬
ta portorriqueño José Mercado:
Lengua inmortal que hablaron mis mayores,
Tan bella como tú no hay lengua humana,
Por tus frases enérgicas obtuve
El hermoso concetpo de la patria,
Y sé por ti que Ç>ios, bondad suprema,
Sobre los hombres su piedad derrama;
Y al abrir de la Historia el libro inmenso,
Supe que fueron tuyas las palabras
Que pronunció Colón mirando al cielo,
Al descubrir la tierra americana.
Lengua inmortal, idioma de Cervantes,
El colono de ayer tu gloria canta.
Eres raudo torrente. Te despeñas
Y caes en deslumbrante catarata,
Llenando de sonidos el espacio
y de notas de fuego' que se apagan
Con ese ritmo vago y misterioso
De un suspiro de amor. Sonora y clara
Expresas la pasión; y el pensamiento
Por ti se viste con brillantes galas.
43
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
Esse lazo que ayer rompió la fuerza,
Átalo tú, mi lengua castellana.
Mensajera perenne de concordia,
Cruza el inmenso mar que nos separa
Y lleva de la América latina
A la nación que puebla nuestra raza,
Con el pobre cantar del bardo triste,
El beso fraternal de nuestras almas:
! Que se puede cambiar una bandera;
Pero los sentimientos no se cambian!
Universalidad. — Al no caber nuestra lengua en los estrechos
límites de la Península, nuestros conquistadores, misioneros, y hu¬
manistas la extendieron por Italia, Francia, Suiza, Alemania, In¬
glaterra así como por las Américas y Filipinas.
Dos polos magnéticos sorprendentes venían al apoyo de la envidia¬
ble y poderosa fuerza de atracción del castellano: Compostela y
Salamanca. Aquélla como meta para los devotos del Apóstol, ésta
para los doctos; unos, peregrinos de la fe; otros, caballeros de la
ciencia.
Pasados ya aquellos tiempos, siguen siendo legión los que se
sienten ligados por el vínculo de nuestra lengua a la espiritualidad
española, tan profunda y expansiva, tan noble y generosa, que ha
conseguido transvasar su fe y su habla a veinte naciones, que son
su mayor gloria y su más brillante corona.
Lejos de debilitarse y declinar el español sigue su rumbo de
esplendor y continúa proyectando su influencia cada vez más ex¬
tensa. Em 1917, por ocasión del tercer centenario de la muerte de
Cervantes, se abrieron en Londres 20 cátedras de español.
En cuanto a publicaciones podemos afirmar que en las princi¬
pales ciudades de Europa y América se editan en castellano las obras
de nuestros literatos, teólogos, médicos artistas, políticos y hacen¬
distas.
En Méjico se imprimen con frecuencia ediciones del Quijote
de 100 mil exemplares, y en Nueva York se editan más de 30 publi¬
caciones en español. En la actualidad casi todas las Universidades
de Europa y América poseen cátedras de castellano, y sólo en Es¬
tados Unidos se cuenta con un cuadro de más de 4.000 prof essores
de español con cerca de medio millón de alumnos matriculados. El
auge a que el estudio del español ha llegado en Estados Unidos
queda oficialmente consignado con el testimonio de Mr. Carlton
Hayes, ex-embajador norteamericano en Madrid. En el discurso de
presentación de cartas credenciales decía en un párrafo a nuestro
Caudillo:
«Señor, soy historiador de profesión y estoy familiarizado con
la hermosa Histeria de España. Como tal, sé que la gran deuda cul¬
tural que mi país, junto con las demás naciones del Nuevo Mundo,
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
49
tienen con vuestra Patria. Fue España la que durante generaciones
sucesivas implantó por toda América algunas instituciones funda¬
mentales, un sentido espiritual de la vida, y el sentido de la digni¬
dad personal, que constituye una ilustre herencia de España. Es
agradable poder decir que en la actualidad todas las Universidades
y Escuelas de los Estados Unidos tienen profesorado y textos espa¬
ñoles, asi como cátedras de literatura, y que el español es, desde
hace años, el idioma que más se ha enseñado en nuestras escuelas
secundarias».
Mucho interés ha existido siempre en Inglaterra, Francia y
Alemania por la lengua, la literatura y la cultura hispánicas. Mr.
Merford, autor del libro Aportación Británica a los Estudios His¬
pánicos, dice en un pasaje de la obra: «Algunos, después de una
visita a la Península en viaje de negocios, fueron impelidos a un
estudio más amplio; otros de un carácter más literario, como el
personaje byroniano:
«... estudiaren español
para leer «Don Quijote en el original,
placer que a todos los demás oscurece».
«Pero sea culquiera la chispa que encendiese la llama, la afi¬
ción por la lengua española; tenida por Shelley y Coleridge como
inferiorselo al griego, ha sido perenne en Inglaterra.
«Los ingleses, desde el alborear del renacimiento, no sólo apren¬
dían la lengua española, sino que empleaban su conocimiento para
estudiar aquellos aspectos de la cultura hispánica que les atraían . . .
«Hoy, la cantidad y la calidad de las obras extanjeras dedicadas
a la investigación hispanista es impresionante, no siendo, ni mucho
menos, despreciable la aportación inglesa...»
En estos últimos años se viene intensificando la curiosidad ex¬
tranjera por las cosas de España, por conocer más y mejor nuestra
vida, costumbres, arte, tradiciones, fiestas, en suma nuestra nación,
tan llevada y traída por amigos y desafectos. El resultado del re¬
surgimiento turístico en nuestro país se ha traducido en un mayor
deseo de conocer a España y de captar sus variados matices, lo que
ha contribuido no poco al incremento del estudio de su lengua, sea
en los tradicionales cursillos de verano organizados en diversos ciu¬
dades españolas, sea en cursos normales seguidos en sus respectivos
países.
III. — EL LIBRO ESPAÑOL
España ha sentado cátedra de «gran maestra de pueblos» gra¬
cias a su fe y a su idioma; y como vehículo práctico de cultura, gra¬
cias al libro español. Por él propagaron la fe de Cristo los misione¬
ros; por él España ha iluminado con su saber teológico, místico y
jurídico; ha señalado rumbos desde Trento al pensamiento huma¬
no, mientras Laínez, Vitoria, Suárez, Soto y Azpilcueta creaban con
50
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
la Legislación de las Indias los concetpos más altos y más cristianos
de la civilización.
La Edad Media fué la época de un adelanto cultural inmenso
en España y sobre todo en Europa.. Las Universidades y Bibliote¬
cas abundan en Andalucía, Córdoba atrae estudiantes de todo el
mundo árabe. Salamanca cuenta en 1530 con 10 mil estudiantes, 70
cátedras, y da trabajo a 84 librerías y a 56 imprentas.
En el siglo XIII, siglo de las Sumirías, vio España el aparecimien¬
to del más alto monumento jurídico en varios siglos: Las Siete Par¬
tidas de Alfonso X, el. Sabio. En este período los libros revelan técnica
de la escritura y un gusto tan refinado en la policromía del decorado»,
que no cabe superarlos.
Aunque de gusto marcadamente burgués el siglo XIV, ve sur¬
gir hacia su ocaso sobre todo libros de meditación y de piedad. Sus
páginas son ricas de trabajo y habilidad, saturadas de arfe, con mi¬
niaturas de una precisión detallista que la fotografía no ha podido»
superar, por su elevadísima contextura técnica.
Pero un gran acontecimiento fué para España el estabelecimien-
to de la imprenta en 1464, imprimiéndose diez años más tarde el pri¬
mer libro en Valencia en honor de la Santísima Virgen, Trobes en-
lohors de la Verge María. Dos años después se estableció la pri¬
mera fundición tipográfica (1944), fecha de la primera edición de
La Celestina, que apareció en Burgos, y que tuvo tanta repercusión
en Europa.
En el siglo áureo (XVI) de nuestra literatura aumenta prodi¬
giosamente el número de talleres tipográficos. En los albores de
este siglo se imprimieron en Logroño los Triunfos de Petrarca (1512),
y en 1517 vieron España y el mundo la Biblia Políglota o Complu¬
tense (Complutum: Alcalá de Henares), gracias a la iniciativa, gene¬
rosidad y entusiasmo del gran Cardenal Fray Francisco Jiménez
de Cisneros. Por su parte el arcediano de Burgos, Pedro Fernández
de Villegas, traducía al castellano La Divina Comedia del Dante, y
en 1587 se daba a la impresión en Madrid La Jerusalem libertada de
Torcuato- Taso.
La característica del libro de los siglos XVI y XVTI es el obse¬
sionante relato de aventuras y descripciones del tipo del caballera
andante, tales como Amadís de Gaula, Palmerín de Inglaterra, Ti¬
rante en Blanco, y otros más reales e históricos como La Araucana,
La Aiistríad i y Carlos Famoso.
El año 1605 es una fecha gloriosa para la literatura y el libro es¬
pañol, porque aparece impresa en Madrid El Ingenioso Hidalgo Don
Quijote de la Mancha, una de las obras más admirables del espíritu:
humano; joya que ha sabido conquistar el mundo entero, y es quizá
con la Biblia, la obra que más ediciones ha conseguido (1200), y que
se ha traducido en mayor número' de idomas (46).
El siglo XVIII es más reflexivo que creador. Se advierte por
un lado una vuelta a los clásicos como reacción contra el barroco.
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
51
pero otro lado no se puede negar el carácter decadente de buena
parte de nuestra literatura debido' al influjo de los escritores fran¬
ceses; contra nuestros escritores afrancesados redactó Forner Exe¬
quias de la Lengua Castellana.
No olvidemos sin embargo que este siglo vió fundarse la «Real
Academia de la Lengua», que publicó el Diccionario de Autoridades
en seis tomos — y la «Biblioteca Nacional» hoy con un millón de
volúmenes — que constituyen dos hechos gloriosos en favor del
libro español.
Nuevos altibajos se suceden en la trayectoria de nuestro libro
en el transcurso del siglo' XIX. En el primer cuarto de siglo sigue
prosperando gracias a la protección regia, pero luego sufre lastimosa
decadencia. Es el siglo nefasto del liberalismo, causa de tantas des¬
gracias políticas y morales, cuya perniciosa influencia se manifiesta
en la imitación de la producción extranjera tan escasa de contenido
espiritual y de elegancia. Sin embargo al final de siglo se advierte
un nuevo renacimiento del libro que inicia el ritmo acelerado de
perfección con que culmina en el siglo XX.
En el «siglo de las luces» España produce y traduce en todos
los ramos del saber, y artes gráficas se elevan al más alto grado de
perfección. En la actualidad España no tiene nada que envidiar en
la confección del libro a nación alguna. Podrían citarse multitud de
obras como Nueva Geografía Universal (10) tomos), Historia Univer¬
sal de Walter Goetz, versión española de García Morente (10) tomos),
Historia de España de Menéndez Pidal (7 tomos publicados), Histo¬
ria del Arte Hispánico del Marqués de Lozoya (5 tomos), Química
General de Calvet (5 tomos) Enciclopedia «Universitas» (20 tomos),
Summa artis de José Pijoan (más de una docena de tomos publi¬
cados), y muchos otros monumentos bibliográficos difícilmente su¬
perables tanto por la presentación técnica como por el contenido,
dos caracteree generales del libro español moderno.
Una referencia especial se merece la Enciclopedia Universal
Ilustrada (Espasa). Afirmamos que no existe ninguna que la supere,
conservando inmensa superioridad sobre todas las demás por la can¬
tidad y calidad del texto, con sus 70 gruesos volúmenes, 10 apéndi¬
ces y 8 suplementos y cerca de 140.000 páginas de texto.
Y dónde se vió palpablemente el tesoro bibliográfico de que se
depositaría la cultura hispánica fué por ocasión de algunas expo¬
siciones. En las de Sevilla y Barcelona en 1929, se sacaron a luz de
los archivos tesoros artísticos, celosamente guardados en catedrales,
monasterios y bibliotecas. Pudieron admirarse bellísimos códices de
gruesos infolios de pergamino, ilustrados con miniaturas finísimas,
ccn márgenes y portadas filigranadas; hermosos ejemplares del
Antiguo Testamento, Evangelios, misales y libros de coro; obras de
los Santos Padres, moralistas y exégetas; libros cronológicos y re¬
copilaciones legislativas, que son otras tantas indicaciones e ilustra¬
ciones preciosas sobre la vida del libro en la Edad Media. En este
52
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
acopio de riqueza artística se recoge un resumen cultural de la mayor
parte del saber desde el siglo VIII al XIII, en el que aparecen datos
preciosos para reconstruir la historia del libro medieval.
Para servir de complemento a la exposición del libro español an¬
tiguo se aprovechó la fecha del 23 de abril de 1947 (4.° centenario del
nacimiento de Cervantes), para celebrar la exposición del «Libro
español» moderno en la Universidad Católica de Washington. En
ella se expuso a la admiración de los visitantes una selección de 3.000
volúmenes lujosa y elegantemente encuadernados, esmerado trabajo'
de la postguerra de España, que recorrió las principales ciudades de
América del Norte.
Hace varios años que en Madrid se viene inaugurando la «Fe¬
ria Nacional del Libro». Este año (julio 1957), podían visitarse 116
casetas, a las que acudieron con su producción bibliográfica las más
importantes editoriales españolas. Parece ser que el número de vi¬
sitantes ha sido imponente en cifras y calidad.
El público en general se ha interesado con preferencia por las
obras literarias. — Ramón Jiménez, Galdós, Unamuno, García Lorca,
Salinas, Tagore, Papiní ... — aunque también se ha notado un cre¬
ciente interés por otras publicaciones: ensayos, historia, obras téc¬
nicas y científicas, y libros de consulta. La impresión de este año*
se inclina creer que el libro técnico' despierta cada vez más interés. . ..
España, poseedora de una de las más ricas literaturas, há dedi¬
cado siempre gran amor y culto al libro. Puede sentirse ufana de
su gran aportación a la cultura universal; porque en 24 países se
lee en el idioma de Cervantes y se reza en la lengua de la mística
doctora, Santa Teresa de Jesús. España ha sido y sigue siendo por
medio del libro — teológico, místico, artístico, literario, histórico, ci¬
entífico — antorcha espiritual de medio mundo civilizado, «rectora
de las empresas espirituales», evangelizadora de pueblos y conquis¬
tadora tradicional, sino ya «de tierras para el Rey», por 10 menos
de inteligencias para el bien y sobre todo «de almas para Dio's... x>
BIBLIOGRAFIA
1 — Rafael Lapesa — Historia de Lengua española.
2 — Narciso A. Cortés — Historia de la Literatura española.
3 — Hurtado — G. Palencia — Historia de la Literatura española.
4 — A. Valbuena Prat — Historia de la Literatura española.
5 — Martín Alonso — Ciencia del Lenguaje y Arte del Estilo.
6 — A. Holyos de Castro — Los grandes rangos históricos de América.
7 — Espasa - Calpe — Enciclopedia Universal Ilustrada, tomos, 19, 21 y S07 -
LÔBO BA COSTA SATÍRICO
Irmáo ELVO CLEMENTE
O poeta na sua contemplaçâo da vida e das coisas defronta si-
tuaçôes bem intéressantes e por vézes bsm contraditórias. Há si-
tuaçoes que vao de acórdo com o modo de ver, de medir do artista
e há situaçoes que nao lhe caem no gosto. O poeta percebe éste
estado de coisas, toma consciéncia do mundo diferente de seus
desejos. Desta inconformidade nasce a sátira, nasce a produçâo jo¬
cosa, mordaz, epigramática... A situaçâo devera mudar, devera con-
formar-se corn a personalidade do artista. O artista nao pode e nem
deve humilhar-se; as coisas háo de mudar e como as coisas e os
homens nao alteram o poeta lança seus versos para, entre risos, ou
escárnios, corrigir o mau estado da situaçâo ou ds erros das pes¬
soas. (1)
Lobo da Costa vivia por toda a parte, nao desconhecia nenhum
•ambiente social do Rio Grande: penetrara os umbrais da elegancia
e do luxo, andara ñas mansardas. Conheceu Pelotas, Rio Grande,
Jaguaráo, Arroio Grande em todos os refólios... Éle, desprezado,
ele, festejado, éle, ajudado pelas pessoas humildes e pelos poten¬
tados vivia a vida do Sul. Conheceu nossas inquietudes, os ardores
de nossas paixoes políticas, os destemperos das loucuras amorosas,
os pecados dos lares, os desmandos nas praças e nas ruas... Lobo
viveu os altos e baixos da nossa aristocracia e do nosso povo. Era
um homem que veio da plebe e foi alçado por seu gênio ás alturas
de todos os degraus scciais.
Nem sempre o satírico é urna pessoa de costumes ilibados, nem
sempre é isento de escándalos, nem sempre pode garantir-se contra
o revide do atingido. Parece-me que as pessoas que usam da sá¬
tira procuran! por meio destas setas castigar o seu próprio defeito,
seus próprios desmandos. Haja vista o nosso maior satírico Grego¬
rio de Matos Guerra, vivia escándalos e no entanto era éle o azorra-
gue implacável das pessoas que incidissem nalguma falta.
Lobo da Costa via o próprio érro, via os erros do outro e cas-
tigava ambos corn suas estrofes mescladas de ironía, de suave hu¬
morismo ou de azedume feroz.
Lôbo e seus contemporáneos déste modo entendiam-se muito
bem. No entanto diversas vézes a mordacidade e os desvíos de sua
crítica valeram-lhe horas e dias pouco alegres, refiro-me aó em-
pastelamento da Gazeta do Menezes ... Os contemporáneos reí erem-
se ao caráter violento do jornalista que ñas colunas dos panfletos
54
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
que dirigía ou auxiliava, derramava com abundancia o' fel de seu
ressentimento e de sua indignaçao. Sua pena jornalistica foi viru¬
lenta, extraordinàriamente violenta, muito do paladar da época.
Paixoes fortes, exacerbadas, reclamara veiculos conformes a seu
espirito e finalidade. Ah! as paixoes políticas de 1870 e 1880!...
Lôbo e seus colegas jornalistas ou panfletários acenderam as fo-
gueiras das questoes políticas e religiosas que agitavain o Brasil
e o Rio Grande nos fins do sáculo passado.
Voltando as páginas dos j ornais e indo à obra poética do Lobo
(assim é que o chamavam) notamos como se amacia seu modo de
castigar os contemporáneos. Parece que Melpomene lhe abranda a
arrogancia do impeto e o veneno das setas ervadas...
Há momentos de exaltaçâo em alguns versos dos «Horneéis de
Roma» em «O Rei e o Operário» e em «Sem título» poesías, que
se encontram em «Auras do Sul». As Auras nestas composiçoes pa-
recem silenciar e deixar sibilar o agudo e cortante minuano...
Na poesía «II omens de Roma» suas flechas atingem a sotaina.
Nao castigam a humildade dos pároco's da campanha ou a dedica-
çao dos sacerdotes despretensiosos que vivem junto de seu reba-
nho simples e ordeiro. As setas do poeta querem atingir príncipes
da Igreja, querem corrigir o suposto êrro e o mal forjado escándalo
dos altos dignitários eclesiásticos. Quern move o verbo de Lobo é
urna interpretaçao errónea do conceito de liberdade, dos díreitos do
homem e dos mandamentos da Santa Igreja. O poeta via nos cui¬
dados da Igreja, nao a solicitude de máe extremosa, sim urna espé-
cie de Cronos iracundo que devora os filhos, sedentos de ventura
e de vida. Os «Homens da Igreja» seriam os pérfidos satélites do
jugulador de tantas vítimas. E os «Homens de Roma» que Lobo
faz surgir das águas de Veneza a par da crueldade possuem os vi¬
cios mais hediondos . . .
Urna noite... ao' sussurro de Veneza,..
Très fantasmas de pé fitam o horizonte,
Negros na veste, lúgubres na fronte.
Espetros do Iuar !
Váo em busca de terra do suplicio,
Que adormece beí jando os pés do vIcíor
Após urna oraçâo ! (2)
Por estas palavras podemos aquilatar que devera ter sido a fe-
rocidade dos ataques do jornalísta, formado nas diatribes e ñas
pugnas da imprensa da época. . .
Os versos déste poeta sao o brado de révolta que nada poupa*
no derramar da lava déste vulcáo que irrompe da pena do poeta...
As pessoas e as coisas mais sagradas de nada mais servem. Tudo»
foi contaminado tudo é imundo, tudo é tiranía.
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
5o
Despertam os vis cossacos de bating,
Tern por armas a cruz Santa e divina
De quern nos quis salvar !...
Trava-se a luta horrenda e fatricida:
A honra, a liberdade, a idéia, a vida,
Sao banidas por lei !
Perdura urna só coisa — o despotismo...
Roubo e morte, sâo palmas de civismo
Aos pés do Papa-Rei ! (2)
A diatribe, a calúnia contra o papado e a Igreja era a moda da
época, Lobo nao pode esquivar-se desta maneira, eflizmente em
desabono da verdade para fazer urna critica ao clero e à Igreja Ro¬
mana. Ao mesmo tempo que injuriava a guarda vigilante da Ver¬
dade, invocava o nome de Deus...
E’ a antítese vivida pelo poeta no recesso intimo de seu ser.
Crer em Deus e blasfemar sua Igreja, seus ministros ! Contradi-
çoes de Hugo, de Musset e de Alvares de Azevedo...
Após ter combatido a soberanía religiosa volta-se contra o dia¬
dema real. O posta republicano nâo tolerava mais o sábio monarca
no trono do Brasil. Lança impropérios contra a majestade amável
de D. Pedro II. A poesia «O Rei e o Operario» é o resumo de sua
révolta e das viruléncias dos ataques contra o chefe civil da naçâo.
Irónicamente fala ao Rei corn estas palavras:
És um divino espantalho. . .
Tu forjas a escravidáo ! (3)
Por entre escárnios e insultos estabelece um paralelo muito
incompleto entre o Rei e o Operário e termina corn a exaltaçâo do
proletário e corn o desprézo do monarca:
Tu és a noite, eu o dia,
Deslumbram-te os vivos sois...
Tu fundes a tiranía,
Eu fundo' os pulsos aos heróis ! (3)
A poesia «Sem título» é urna crítica à vida dos nobres e dos
ricos e urna glorificaçâo do pobre e do trabalhador. Passa o poeta
por todos os miteres e contempla ai o movimentador do trabalho,
o produtor do progresse; junto do malho, ao lado das máquinas, na
senzala; vive com o operário, com o marinheiro, corn o escravo e
vé que todos êles trabalham, fazem a gloria da naçâo, enquanto
isto:
O Rico, o nobre que nunca
Teve da gloria a emoçâo,
Dorme... e entre sonhos murmura:
— Que tolos ! que tolos sao ! (4)
O poeta tem para a gente do seu tempo versos bem violentos
contra certos abusos, certas mudanças na vida humana, as muta-
çoes das atitudes, o esquecimento dos compromissos. Como chico-
teia a ingratidáo, leíamos a estrofe do «Adeus»:
56
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S-
Nunca viste a donzela lacrimosa
Curvada no ladrilho mortuário,
Bei jando o' esquife negro e solitário
Em que dorme o despojo maternal?
E dois anos após . . . nem tanto ainda !
Da festa no esplendor vir, orgulhosa,
Passando muitas vézes junto à lousa,
Sem lembrar-se do anjo do casal? (5)
Quanta mágoa e quanto ardor nos versos era que exprobra o
ato infame da máe que vende a inocéncia da filha. Traz-nos éle
o contraste que o tempo aproxima e faz esquecer:
Já viste a triste mâe que um bêrço embala.
Velando urna criança adormecida,
Consagrando-Ihe esp’rança, amor e vida,
Capaz de se finar se ela morrer;
E após, se a idade veste -a de esplendores,
Tornar-se sen algoz, ser seu patíbulo,
E ir vendé-la ñas portas do prostíbulo,
Como rés inocente — a quem mais der?.f (5)
De certo a crítica procura atingir elementos da sociedade con¬
temporánea. . .
A elegáncia dos saldes fornece-Ihe razóes sobejas para críticas
e vilipéndíos, a sociedade nobiliárquica que nascera quais cogume-
los após a bátega estival, ia desmoronando gangrenada pelo vicia*,
pela vaidade, pelos festivals impúdicos. . . O poeta, filho do povo,
nao podia tolerar tanto ignominia... A nobreza a esbanjar fortunas
numa noite de orgia e os pobres a morrerem à míngua nos degraus
do palácio. O estro se inflama e vaí a sátira, flecha certeira, era-
var-se no peito da sociedade elegante e despudorada. . .
Era urna noite de orgía no palácio...
Ali folga a Marco aos beijos momos
Da lascivia cruel . . . Treme a inocéncia . . .
E goza o potentado !
Ouve-se o tinir da dobla ferrugenta . . .
Rola na banca um mundo de desgraça
E Sata ri-se ao lado .r
Há um templo de luz — ó altar é negro f
iFumega em vez de mirra — o vinho ardente
Aos pés da meretriz l (6)
Estremece o poeta ao contemplar tamanha Ioucura, ao ver tan¬
tos anjos de pureza que rolam para o lamaçal da miseria moral...
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
57
No entanto sao formbsas como o lirio
As vestais désse templo vaporoso,
— Táo pálidas que sao !
Vao das asas da dança como garça,
Yáo ñas unhas da orgia como pombas
Nos pés do gaviáo. (6)
O poeta multiplica os contrastes, gosta das sombras que real-
çam as cores do quadro:
Desci à rua, ao canto de urna esquina
Sobre mísera esteira, embriagada,
Dormía urna mulher.
No palácio as mulheres vaporosas, as brancas pombas nos bra-
ços dos gavióes, ao pé da esquina pobre mulher, perdida, flor des-
folhada: quadro exorbitante, quadro eloqüente a clamar por justiça,
a gritar amor ! O poeta ao findar da noite fecha a porta do palácio,
calam-se as vozes do saláo:
Ao amanhecer, porém, quando os caleches
Roubavam do prazer as flores mortas,
As damas do saláo:
Um vulto levantou-se da calçada
E a máo foi estendendo de continuo,
Chorando a pedir pao!... (6)
Lobo que viveu tantos anos no vicio, que tantas virgens infe-
licitou, era um acicate, um açoite, um flagelo da luxúria. Com
que palavras amargas refere -se êle à triste e desventurada vida das
mulheres que perderam o norte de sua honra e de sua dignidade.
Dir-se-ia que é um asceta que fala na integridade dos costumes,
na beleza da virtu de sempre ilibada:
Anjo mau em que mundo tu habitas?
Tu nao sabes, mulher, que a vida é nada?
Que se acabam essas graças táo bonitas
E a noite sucede à madrugada? (7)
Deixemos o' boêmio e suas consideraçôes sobre a beleza da vir-
tude e a efemeridade da vida, folhemos a obra e vamos encontrar
urna sátira mais leve, náo menos perspicaz e penetrante. Ñas «Dis¬
persas» sob o título «Cismando» lemos alguns versos de raro sabor
irónico, mordaz e envoltos nos raios benignos do amor. O poeta pro¬
cura ferir, picadas dos espinhos da roseira, espinhos que anunciam
um mimo, a rosa do amor. Descreve a beleza déste espécimen fe-
minino, que tudo concentra nos olhos e completou quinze anos . . .
Saiu há pouco da escola
Mas, já sabe tanto já !
Que lê de cor e salteado
Qualquer verso pé quebrado,
E escreve Amor com H. (8)
Analisa as habilidades da dona de seus so'nhos e mistura tudo
nesse torn de sátira e jocosidade:
58
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
No desenho, custa a crê-lo !
E’ táo hábil táo feliz,
Que ao retratar certa velha
la tragar urna orelha,
Saiu-lhe logo um nariz. (8)
A bela do poeta chama de todos a atengao e os versos déle nos
contain as maravilhas e por fim aconselha de um modo um tanto
grotesco:
Vé tu se as jóias consegues,
Mas olha, nao vejas, nao !
Mas se é teu gôsto... consente:
Fica com os olhos somente,
E o resto pde em leiláo ! (8)
E’ jocoso o poeta nos seus motives de impressionar a pessoa
amada. O torn suave da po'esia convida para a intimidade e cria um
ambiente familiar.
Deveriam ter sido célebres na cidade de Pelotas as referéncias
maliciosas de certos versos do Lobo. «Por que será?» Sao páginas
intéressantes em que éle analisa os principáis vicios da moda da-
gente da margem direita do Sao Gonçalo. O poeta ri e castiga, ao
mesmo tempo aconselha:
Por que será que urna santa.
Que nao mora em oratorio
Narnora em certo car torio
E com todos pinta a manta?
E’ porque, crendo que encanta,
Cuns olhos onde o sol brilha,
Do namôrb a senda trilha
Sem precauçâo nem cautela,
Sem lembrar-se que a espárcela
Anda perto da armadilha... (9)
Na primeira estrofe foi vítima urna senhora na segunda é a
dama e o marido leva advertencia:
Por que será que urna dama
Casada, se nao me engano,
Nunca abandona o piano
E as filhas deixa à mucama?
E’ porque o ruármelo em rama
Nao tem de sobra o marido,
E a tu do fechando ouvido
Deixa ir à revelia,
Sem se lembrar que algum día
Há de brigar com Cupido... (9)
Atira seus dardos contra urna pessoa de ídade que morre de
amores:
Por que será que urna cuja
Cu jo nome nao declino.
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
59
Namora certo menino
Sendo ela urna coruja?
• — E’ porque a roupa suja,
E’ em casa que se lava,
E ela pois, sendo urna escrava
Do preconceito, pretende,
Visto que tudo se vende,
Comprar o fogo de... lava. (9)
O alvo de seus tiros nao' é somante o frágil sexo, os homens e
os moços também sentem os ardores das setas que Ihes dirige:
Por que será que o Mingóte
Que tem as vistas cansadas,
Vê de longe as namoradas
E atrás délas anda a trote?
— E’ porque o Dom Quixote
Também viu moinhos de vento,
E de amor o pensamento
Tem mais fogo que a retina;
Onde está urna menina,
Foge o sol por um momento. (9)
Assim vai castigando os vezos dos outros, colocando em tudo
urna pitadinha de sal e um sorrisinho malicioso . . .
Luís Jácome fez um notável invento útil na arte de cavalgar.
O poeta aproveita o ensejo para urna notável sátira ás pessoas de
seu tempo e da sociedade pelotense:
Senhor, o teu grande invento
Tem nos feito admirar !
Vem a recomendaçâo do poeta:
Nao maltrates só os brutos
Dêsses que tém quatro pés
Temos outros mais incultos,
Até formados em leis;
E se quisesses domá-lo's
Talvez mais do que os cávalos
Te dessem coices fatais !
Mas nao temas, vem depressa
Pôe a sela ao que mereça
Monta aquéle que te apraz ! (10)
Continua enaltecendo o invento científico:
A ciencia animaleja,
Trata de aperfeiçoar,
No club e até na Igreja
Tens bastantes que domar !
Dos padres castiga o érro
Mas, com esporas de ferro
A fincar-lhes no garráo
60
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
E se faltarem-te ao passo
A corcovo e monotaço
Tens um chicote na mao ! (10)
Conclui veemente e decidido na arte de bâter em quem precisar:
Eia, nào tardes, atleta !
Yem abrir escola aqui,
Seja embora, o teu poeta
Su jeito também a ti;
(Momento admirável, reconhece Lôbo que também precisa ser
domado e batido...)
Mas antes que tu me piques
Hei de ver muitos repiques.
Picados por tua mao !
Hei de ver emboçalado
Muito doutor . . . tíeputado. . .
Muito visconde. . . baráo !... (10)
Lobo da Costa é incorrigível na sua ira contra os magnatas da
nobreza e do poder, a razáo é obvia e a raiva viverá néle enquanto
ele viver !
A sátira do Lobo mergulha no humorismo, num torn todo es¬
pecial. Humor de alma que sangra, riso de lábios que crestaram
sob o pranto . . . Apesar de tudo êle sorri. A vida é dolorosa mas é
preciso rir da própria dor. Êle mesmo nos revela o estado de sua
alma na poesia «Sorrir»:
E’ preciso sorrir...
E raras vézes no meu rude engenho
Solto o grito subtil das alegrías,
Salta o riso em torpor.
Respeito a dor das almas mais sombrías. . ,
Choro corn elas... e se um riso, eu tenho,
E’ que eu rio de dor ! (11)
As coisas mais corriqueiras emprestan! ao poeta motivos para
humorismo, para quebrar com um sorriso a monotonia do terrivel
cotidiano é o que nos mostra a poesia «À meia-noite»:
A no'ite é de luar. .. e que nao fóra!
Temos bicos de gás no lampadárío.
Quero o dia aguardar cantando trovas,
Como canta frei Joáo no Seminário. (12)
Para urna alma como Lobo nao é necessárío muita coísa para
impressionar, alma pronta a todos os sentímentos, espirito dispos¬
to a tôdas as mutaçôes do ambiente.
Na página 124 de seu livro «Lucubraçôes» conta-nos a linda ane-
dota do' «Comunismo de pés». Dois moços vivíam na mesma pensáo*
e calçavam um par de sapatos, quando um calçava o esquerdo o
outro usava o direito. Assim for am vivendo neste mundo e a com-
posiáo assim termina:
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
61
Morre por fim o Pilados de casa...
O mais velhd. . . o mais pobre î Orestes chora,
E pede à terra em lágrimas banhado
Que seja leve agora
A quern pouco a pisou corn seu calçado. (13)
O humorismo gaiato de Lôbo é algo de pitoresco, qualquer coi-
sa torna-se para ele motivo de hilaridade. «Um passeio de tilbury»
é o'utro passo anedótico contado com graça e elegancia. A proposi-
çâo ¡da poesia é um pensamento assaz conhecido mas enunciado com
rara fineza e maestria:
Ganha-se pouco, mas a vida é larga
Quando se vive de ilusoes quai eu !
Nem sempre o fruto do presenta amarga
Quando é comido com favor do céu.
Tern êle um pensamento elevado, um ato de fé na Providéncia
e vai dando seu passeio pela cidade. Passa pelas ruas, diante dos
edificios, moças gentis ñas janelas... Sorrisos... O poeta torna a
passar para usufruir mais e mais das doçuras daqueles sorrisos por
fim percebe o engano, engano de coraçâo enamorado', engano que
nos faz rir a bom rir:
Sube do caso... da galhofa enfim,
Tudo por artes do senhor Diabo
Ela, a pequeña, nao sorriu de mim.
Riu-se da bésta, que nao tinha rabo' ! (14)
Concluindo as consideraçôes sobre o humor de Lobo da Costa
diremos que foi realmente um satírico que nao poupou altos digni-
tários da Igreja e dO' Estado em sua missáo de Juvenal de Pelotas
e na sociedade do Sul. A sua sátira abrandou e até mesmo nos trou-
xe chocarrices que amenizaram sobremodo o andamento destas li-
nhas. O temperamento de Lobo era muito social, sua companhia
devera ter sido muito procurada e muito divertida. Os azedumes de
urna parte de sua obra nao devem impressionar mal nossa retina,
criticava e criticava acerbamente e em seguida era o poeta jocoso,
amigo de todcs e respeitoso cas dignidades militares, civis e ecle¬
siásticas.
Dum sabor todo especial é a ccmposiçâo «Ao men chapen alto».
O poeta dirígese numa espécie de despedida ao velho chapéu.
Como estás acabado ! Que mudança
Vejo em ti neste instante ! Grande céu
Eu que te vi há pouco' táo criança
— Ver-te de barbas brancas, meu chapéu. (15)
Na décima primeira estrofe, choroso se despede do querido cha¬
péu alto:
Té meu pobre chapéu quando morreres !
Ao lixo nao irás... de mim bem junto
Aos evos bradarei: «Aqui repousa
Um chapéu que foi gente e hoje é defunto».
62
PONT. UNIY. CAT. DO R. G. S.
O posta dirige-se numa espécie de despedida ao velho chapéu.
nos estar a transformar-se num manso e humilde propagador de
anedotas, cada quai mais intéressante. Revela fino gósto educativo
pelo modo que a anedota, com singeleza e com o cuidado de nada
decair para o lado fescenino.
O Cabrion n.° 57, de 1880, nos traz urna anedota bem intéressan¬
te intitulada — Descuido. Conta a chegada a urna estalagem de um
pobre viajante, todo molhado e tiritando de frió. Nada pede, quer
íogo e calor. Achega-se ao fogáo e es tende as pernas junto as laba-
redas. De madrugada:
«Acorde ! brada a criada,
Olhe que queima as esporas . . .
Além disso, meu amigo,
Amanhece, já sao horas !»
— Quais esporas !... sao as botas
Que éstes sustos me causaram?
— Nao senhor, sao as esporas
Que as botas já queimaram ! . . . (16)
O poeta em pretensôes de estudar ciencias jurídicas nao podia
passar indiferente perante os discípulos de Galeno. A éles também
dedicou anedotas, a éles também moveu urna crítica fina e mordaz.
Na revista «O Cabrion» n.° 59 de 1880 lemos as estrofes intitu¬
ladas «Barrate»:
Foi demitido um empregado
De certa repartiçâo
O qual jurou de matar
Muita gente à sua mâo !
Chamado logo à policía
Respondeu com voz ferina:
«Pois, nâo me tirem o emprégo !
Vou estudar medicina !» (17)
Neste mesmo número 59 encontramos outra anedota jocosa «e
de sabor infantil sob o título: «Simplicidade»;
Duas crianças brincavam
Saltando pelas janelas
E vendo vir duas vacas
À outra disse urna délas:
«Vés aquela vaca branca?
E’ a que dá leite, Zezé.
— E a prêta? — pergunta o outro.
«A prêta... dá café!» (17)
Na mesma página da supr acitada revista lança sua sátira con¬
tra o avarento sob a epígrafe de «Já?!»:
Estava um torpe usurário
Ñas agonías da morte,
E ao médico que ao lado tinha
Maldizia-se da sorte.
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
63
«Que inferno éste em que vivo !»
Curtindo dores dizia.
Respondeu-lhe o bom Galeno:
— «Muito cedo principia !» (17)
Encerramos as rápidas consideraçôes sobre a sátira na obra de
Lobo da Costa dando um parecer déle sobre o pobre e ganancioso
amante:
O amante tolo
E’ como o cao:
Tanto mais adora
Quanto mais lhe dáo. (18)
Os satíricos surgem em geral numa época de decadencia polí¬
tica, Juvenal surgiu quando Roma principiava esboroar-se; entre os
escombros do colosso romano o poeta castigava as ambiçoes e as
licenciosidades da pátria dos Césares por meio de seus versos; Lobo
aparece no entardecer da monarquía dos Braganças, ao descambar
das glorias de urna nobreza que nem dominou um século ! Vergas-
ta o poeta corn suas sátiras e motejos os costumes decadentes de
urna sociedade que nao terá amanhá na historia...
O poeta ereto sobre as ruinas do cataclismo lança seus versos
à posteridade e ri-se de tudo quanto se abala, cal e desaparece...
CONCLUSÂO
O poeta nao se conforma com tantas maldades humanas, ape¬
sar déle nao ser táo bom quanto quereria, revolta-se e com as setas
da sátira quer transformar a sociedade, corrigir os vicios, combater
o mal e tornar o mundo melhor.
Lobo da Costa em tôda a sua obra arquitetou um plano para
o bem-estar do mundo que roda e roda para urna constelaçâo de
venturas e glorias sempiternas...
Lobo da Costa cumpriu sua missáo de vate boemio que passa
pela vida semeando em qualquer alma urna semente, urna semente de
conforto e de amor !
As páginas das Lucubraçôes, das Dispersas, das Flores dos Cam¬
pos, das Auras do Sul, do Filho das Ondas, háo-de-perdurar enquan-
to existir a lingua de CAMÓES e de Catulo da Paixáo Cearense.
N OTAS
1 — Cf. Augusto Magne, S.J. — Principios Elementares de Literatura —
1935, Cía. Ed. Nac onal — pág. 207 e 208.
2 — Auras -do Sul
Homens de Roma — pág. 31-36.
Poema dedicado a Joaquim N. Epaminondas de Arruda.
3 — Auras do Sul
O Rei e o Operário — pág. 64-65.
64
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
4 — Auras do Sul
Sem Título, pág. 97-98.
5 — Auras do Sul
Adeus (À Sombra do Salgueiro) — pág. 22. Poesía dedicada a Maria, seu
amor dos Molhos da Banda Oriental.
6 — Auras do Sul
Um canto do sáculo — pág. 52-56.
7 — Auras do Sul
Mulher Perdida — pág. 141.
8 — Dispersas
Cismando A.M.R.J. — pág. 53-57.
9 — Flores do Campo
Por que será? pág. 47-51.
Poesía descrita para a sociedade de Pelotas em 1877.
10 — Dispersas
Conversemos, pág. 35-38. Poesía dedicada a Luiz Jácome.
11 — Lucubraçôes
Sorrir — pág. 121. Primeira poesía do grupo que éle intitulou «Humorís¬
ticas».
12 — Lucubraçôes
À meia-noite — pág. 123.
Nesta poesía versa sobre «coisas do cotidiano».
13 — Lucubraçôes
Comunismo de pés, pág. 124.
14 — Lucubraçôes
Um passeio de tilbury — pág. 125. — Passeio realizado em Sao Paulo ao
bairro de Sainta Efigénia, 1874.
15 — Lucubraçôes
Ao meu chapéu alto — pág. 126-127.
16 — O Cabrion, pág. 7, n.o 57, Pelotas, 1880.
Descuido.
17 — O Cabrion, n.? 59, pág. 7, de 1880.
Barrete.
18 — Gazeta Mercantil, pág. 7, de 5-5-1878, n.o 14.
Pensamentos.
MONOGRAFIA DA PROFISSÂO DE TÉCNICO
EM EDUCAÇÂO
RUTH CABRAL
I. HISTÓRICO
Para alcançar as raízes históricas da profissâo' de Técnico em
Educaçâo é preciso fazer urna busca à vida educativa dos povos.
Éste exame nos revela que os teóricos e técnicos em educaçâo es-
tiveram primitivamente em estreita ligaçâo com certos grupos da
comunidade, como se jam a familia e a religiáo. Assim, vamos en¬
contrar nos antigos livros sagrados as primeiras consideraçoes so¬
bre a educaçâo. Mais adiante já vamos deparar com a teoría educa¬
tiva servindo de instrumento da política: é a época dos grandes
legisladores e filósofos, como Catâo e Aristóteles. No período me¬
dieval deparamos com os grandes catequistas cristáos, como Santo
Agostinho e Sao Tomás de Aquino, preocupados corn esta questáo.
O Renascimento, com a Reforma, revolucionou o mundo com novos
principios e diferentes conceitos sobre o homem e dessas conside-
raçôes encontramos reflexos nos escritos de Erasmo e Lutero. A épo¬
ca moderna, com o' iniciar do método experimental, leva a grande
número de filósofos e dentistas a trazer novos conceitos para o
campo educacional. No fim do século XIX e comêço do século XX
vamos deparar com o período áureo dos inovadores da teoría e
técnica educativa, com Pestalozzi, Binet, Dewey e outros que lan-
çam as bases da teoria científica da educaçâo. Da mesma forma que
na Europa e Estados Unidos vamos encontrar na América Latina e
no Brasil a preocupaçâo de aplicar científicamente as conquistas
das várias ciéneias do homem na elaboraçâo' de técnicas educativas
adequadas à realidade de cada país. Surge entáo o técnico e perito
no setor educativo.
Parece que, oficialmente, o cargo de técnico em Educaçâo, no
setor federal, já existia antes de 1939, mas corn a criaçào da Facul-
dade Nacional de Filosofia passou a ser exigido o grau de Bacha-
rel em Pedagogía para o preenchimento do cargo.
No Rio Grande do Sul, a historia do cargo de Técnico em Edu¬
caçâo, apresenta, cronológicamente, as seguintes fases:
— 1929: Foi criada, na Secretaria de Educaçâo, a Diretoria de
Instruçâo Pública, com urna divisáo técnica, da qual
faziam parte professôres corn experiência didática.
66
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
— 1941: Foi reorganizada a Secçâo técnica e criados cargos de
Assistentes técnicos e Auxiliares Técnicos.
— 1945 e 46: Foram criados cargos de Técnicos em Educaçâo.
II. IMPORTANCIA
A vida e a organizaçâo sociais tém assumido, no presente sé-
culo, urna complexidade cada vez maior. Todos os setores da admi-
nistraçâo pública e privada exigem sempre mais e mais planejamen-
to e resoluçâo dos problemas por técnicos especializados. O setor
educativo' nao podia fugir às exigéncias da demanda urgente de es¬
pecialistas que, domiando o panorama geral da educaçâo, estivessem
em condiçôes de examinar os problemas específicos das necessidades
nacionais, plane jar medidas para soluçoes educativas e regular a
consecussâo déstes propósitos.
Vários estudiosos tém encarecido a importancia do técnico em
educaçâo. Diz a respeito, A. Carneiro de Leáo: «Poucos homens de
estado nos tempos atuais poderáo ter açâo mais nefasta ou benéfica
na formaçâo, no crescimento, no aperfeiçoamento de urna naciona-
lidade e de um povo. Éle é um dos condutores do pensamento edu¬
cacional em seu meio. Sua preparaçâo deve ser alta, sua cultura geral
e sua visáo do mundo, clara».
Das atividades eminentemente diretivas e sociais que deve exer¬
cer decorre, pois, a importancia das funçôes do Técnico em Edu¬
caçâo .
in. NÚMERO DE PROFISSIONAIS EM OCUPAÇÂO
Atualmente, no Rio Grande do Sul, de acórdo com o Decreto
N.° 2020 de 2-1-53 (que regulamenta a funçâo pública no estado),
há 30 cargos de Técnicos em Educaçâo lotado's no Centro de Pes¬
quisas e Orientaçâo Educacionais e no Serviço de Orientaçâo e
Educaçâo Especial .
IV. NECESSIDADES DE TRABALHADORES
O número de pessoal exercendo as funçôes de Técnico em Edu¬
caçâo é ínfimo em face do volume de trabalho' que o setor educativo
do estado exige. O crescente aumento da réde escolar, trazendo ne-
cessidade urgente de direçâo técnica em múltiplos campos; a cria-
çâo de novos órgáos na Secretaria de Educaçâo, com problemas ur¬
gentes a serem objetivamente resolvidos, abrem perspectivas para
o aproveitamento de pessoal nestes ramos de trabalho. Por outro
lado, a situaçâo presente de contençâo das despesas públicas impede
a criaçâo de novos cargos, aínda que os órgáos que utilizam as ati¬
vidades déste técnico o tenha solicitado. Superada a presente crise
financeira é de esperar-se que as exigéncias do ensino levem à opor-
tunizaçâo de aproveitamento de grande número de pessoas nesta
especialidade.
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
67
V. DEVERES
A) Atividades específicas.
Dois órgáos da Secretaria de Educaçâo prevêem, na sua orga-
nizaçâo, atividades que seráo realizadas por Técnicos em Educaçâo:
o Centro de Pesquisas e Orientaçâo educacionais e o Serviço de Orien-
taçâo e Educaçâo Especial. As atividades déstes técnicos estáo defi¬
nidas por lei e sáo delimitadas:
a) No Centro de Pesquisas e Orientaçâo Educacionais (órgáo
diretamente ligado a o Secretário de Educaçâo) e, cuja fun-
çâo precipua é a realizaçâo de estudos e investigaçôes psi¬
cológicas, pedagógicas e socials, destinadas a manter em
bases científicas o trabalho escolar) pelos Decretos n.°s 242
de 13-10-42, 3856 de 11-2-53 e 4207 de 10-10-53 como sendo:
- — Estudar os assuntos e executar os trabalhos confiados por
seu Diretor.
— Submeter à aprovaçâo superior os planos.
— Traduzir, adaptar e aplicar testes psicológicos, proceder ao
tratamento estatístieo, instruçôes metodológicas, provas, diag¬
nósticos de trabalho útil ao ensino.
Entre os trabalhos e assuntos confiados pelo Diretor do órgáo
estáo todos aquéles realizados no centro e que sáo:
I — Realizar estudos e pesquisas sobre:
ia) O educando em todos os aspectos que interferem no proces-
so educativo;
b) A aprendizagem — principios e leis, métodos e materiais;
c) O meio escolar — instituiçôes, recreaçâo e relaçoes com o
meió social.
II — Contribuir para maior eficiéncia da educaçâo em geral
mediante:
a) A divulgaçâo de estudos e pesquisas realizados no campo
educacional, no país e no estrangeiro;
b) A elaboraçâo e publicaçâo de livros didáticos, instruçôes me¬
todológicas e dó material útil ao ensino;
c) A manutençâo de urna biblioteca pedagógica para uso de
prof essores e estudantes de educaçâo;
d) A publicaçâo anual do Boletim do Centro.
e) A apresentaçâo de sugestoes sobre livros didáticos a serem
publicados, sempre que solicitados por seus autores.
68
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
III — Empreender atividades de orientaçâo, através:
a) Da assistência técnico pedagógica às escolas, exercidas di-
retamente, na Capital, e através das Delegacias Regionais
do Ensino, quanto às unidades do interior do Estado;
b) Da preparaçâo de cursos de férias e outro's de especializa-
çâo e aperfeiçoamento, destinados ao magistério;
c) Da organizaçâo, do ponto de vista técnico, de cursos pro-
postos pelas Superintendéncias, cabendo-lhe, neste caso, in¬
dicar os prof essores, os coordenadores ou diretores;
d) Da indicaçâo de material didático para uso de professôres e
alunos ;
e) Da elaboraçâo de programas, planos de trabalho', comuni¬
cados, circulares e instruçoes;
f) Da organizaçâo de bibliografia para professôres e alunos.
IV — Elaborar medidas para:
a) Organizaçâo das classes;
b) Orientaçâo educacional;
c) Aferiçâo do rendimento da aprendizagem.
V — Colaborar na soluçâo de problemas relativos à orientaçâo
educacional encaminhados ao órgáo por orientadores educacionais,
diretores ou professôres de estabelecimentos de ensino:
a) Opinando sobre a orientaçâo educacional mais conveniente
em cada caso, com fundamento em estudos realizados sobre
a personalidade do educando e suas aptidoes especiáis;
b) Investigando as possíveis causas de desajustamentos indi¬
viduáis ocorridos no meio' escolar e estabelecendo a tera¬
péutica pedagógica adequada.
B) No Serviço de Orientaçâo e Educaçâo Especial (cuja fina-
lidade é atender a crianças e adolescentes nos casos em que as es¬
colas commis do Estado nao tiverem recursos para a soluçâo satis-
fatória) pelo' regimentó interno do órgáo, onde se estabeleee com¬
petir ao Técnico em Educaçâo:
a) Aplicar e corrigir provas pedagógicas.
b) Reunir os dados para urna interpretaçâo pedagógica dos
casos.
c) Elaborar planos individuáis de orientaçâo pedagógica para
os casos estudados.
d) Orientar e supervisionar o trabalho’ didático das instituiçôes
complementares (Escolas Especiáis e Classes Especiáis).
d. Fazer aconselhamentos.
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
69
Compete-lhe, ainda, atribuiçoes comuns a todos os funcionários
técnicos do órgáo:
a) Lecionar nos cursos organizados pelo Serviço.
b) Promover reunioes de pais e professôres com fins de orien¬
taçâo.
c) Realizar palestras para as quais forem designados.
d) Cooperar na realizaçâo de pesquisas que interessem ao Ser¬
viço.
e) Participar das reunioes de estudos para o aperfeiçoamento
do pessoal.
f) Participar dos seminários de estudo de casos.
B) Befiniçao da ociipaçâo.
De acôrdo corn a Lei n.° 2020 de 2-1-53, que classifica os cargos
do serviço público civil, a funçâo' desempenhada pelo Técnico de
Educaçâo está definida como um serviço de Educaçâo e classificada
no grupo de Pesquisas e Orientaçâo Educacional.
Conforme a opiniâo dos que labutam nesta atividade, o Técnico
em Educaçâo desempenha várias funçoes, tais como:
— Pesquisa: estudo e experimentaçâo de novos processos didà-
ticos, detecçâo das causas de insucesso escolar, inovaçâo de
métodos de ensino mais atualizados.
— Didâtica: ensino de novas técnicas, aperfeiçoamento' dos co-
nhecimentos teóricos e práticos dos professôres.
— Administrativa: plane j amento de currículos, programas e ati-
vidades.
— Orientadora: resposta a consultas de professôres, diretores e
outros sobre problemas educativos.
— Supervisera: contrôle dos resultados do rendimento escolar,
aferiçâo da eficiencia dos professôres, diretores de escolas,
etc.
Nestes têrmos, podemos dizer que o Técnico em Educaçâo tem
uma atividade que reúne as funçoes de professor, pesquisador e líder
• — nas quais deve buscar científicamente meios para melhorar e
conduzir os recursos educativos de sua comunidade, orientar e en-
sinar novos recursos didáticos, modificar processos antiquados, con¬
vencer elementos recalcitrantes para o uso de melhores métodos,
formar a mentalidade educacional dos dirigentes e responsáveis pela
comunidade familiar, escolar e social.
Professiogràficamente, a atividade de Técnico' em Educaçâo pode
ser classificada (conforme orientaçâo de Mira y Lopez) como um
trabalho abstrato verbal, variável, perceptivo-reacional, que requer
uma personalidade equilibrada, corn inteligência superior, atitude
70
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
humanista, tendencia auto-crítica observadora, bom desenvolvimen-
to da sociabilidade, boa memoria de dados e informagóes, boa capa-
cidade de expressao e persuasâo.
VI. QUALIFICAÇÔES
1. O éditai de concurso da Divisâo de Seleçâo e Aperfeigoa-
mento do Departamento de Servigós Públicos do Estado, baseado na
regulamentaçâo da funçâo pública instituida nos Decretos n.°s: 920
de 27-12-49, 1751 de 22-2-52 e 2020 de 2-1-53, expressa as seguintes
condigóes:
— Nacionalidade: ser brasileiro, nato ou naturalizado.
— Sexo: ambos.
— Idade: mínima de 21 e máxima de 40 incompletos (nao estáo
su jeitos a limite de idade os ocupantes de cargos públicos,
efetivos).
— Comprovaçao de grau de cultura correspondente ao 2.° ciclo
seeundário.
— Comprovaçâo de cumprimento' das obrigaçôes militares.
— Comprovaçâo de estar em gozo dos direitos políticos.
— Comprovaçâo de boa conduta civil e privada.
— Comprovaçâo de boa saúde.
2. A opiniáo dos técnicos em exercício nos órgáos da Secre¬
taria de Educaçâo é a de que esta funçâo deva ser exercida por
pessoa que:
— Tenha experiencia prévia nos vários setores de educaçâo.
— Tenha cultura gérai e específica de nivel universitário, pre¬
ferentemente Bacharelato em Pedagogía.
— Tenha realizado cursos de especializaçâo nos campos das téc¬
nicas metodológicas educativas modernas, de legislaçâo e or-
ganizaçâo escolar, de filosofía e historia da educaçâo, de fun¬
damentos sociais da educaçâo, de biología e psicología edu-
cacionais, etc.
— Domine, pelo menos, dois idiomas além do pátrio, entre os
quais inglés, francés, espanhol e alemáo.
VII. PREPARAÇÂO
A) Instruçâo gérai.
De acôrdo com o éditai de concurso, já citado, exige-se apenas
curso de nivel correspondente ao 2.° ciclo, sem especificaçâo do tipo
de preparaçâo. No entanto, o mediano bom senso leva a considerar
que urna pessoa corn os conhecimentos gérais dados num estabele-
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
71
cimento de cultura propedéutica nao está capacitado para éste tra-
balho. E’ preciso que tenha realizado urna formaçào eminentemen¬
te pedagógica como a que se proporciona ñas escolas normáis (gi-
násio e normal) para que tenha o mínimo «back-ground» cultural
para realizar sua tarefa com possibilidade de sucesso.
A tendência atual e a opiniáo das pessoas que exercem o cargo
encarecem como desejável urna formaçào mais ampia, de nivel uni-
versitário, preferentemente Bacharelato de Pedagogía, completada
corn especializaçôes em vários campos educativos. Entre estas po¬
demos citar os cursos oferecidos pelo Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos (Estatística Educacional, Orientaçâo Educacional, Su-
pervisáo Escolar, etc.), pelo Instituto de Educaçâo de Porto Alegre
(Administraçâo e lsgislaçâo Escolar, Supervisáo de Ensino, Especia-
lizaçao em classes de Jardim de Infáncia, l.° ano, etc.) e de vários
tipos de bolsas de estudos em países de alto nivel educacional, onde
podem ser realizados estudos, observaçôes e comparaçôes entre o
nosso e os sistemas educacional estrangeiros.
B) Treinamento especial.
Nao existe um curso específico para a formaçào de técnicos em
educaçâo que preve ja todos os aspectos da tarefa que cabe a éste
profissional. No entanto, as Faculdades de Filosofía, o Instituto de
Educaçâo e outros centros educativos, nos seus currículos, incluem
atividades práticas como parte integrante do programa de formaçào
de seus alunos. Náo nos consta, pórém, que haja um centro de trei¬
namento para tal funçâo.
C) Experiencia.
Os órgáos da Secretaria de Eduacoçâo, que utilizam o trabalho
do Técnico em Educaçâo, dâo preferéncia exclusiva a pessoal que:
— Além de formaçào teórica, tenha experiência didática em
qualquer setor educativo (pré-primário, primário, secundá-
rio, normal ou superior) de, pelo menos, 5 anos.
- — Tenha labutado em funçoes de direçâo ou supervisáo de es¬
colas, tais como: diretores, supervisores, delegados regionais
de ensinó.
— Tenham demonstrado comprovada capacidade de trabalho,
cultura pedagógica atualizada demonstrada na atuaçâo do¬
cente.
VIII. MÉTODOS DE INGRESSO
A forma de ingresso no cargo está prevista ñas leis que regu-
lamentam os serviços públicos do Estado e consta de concursó de
títulos e provas, especificados como segue:
72
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
a) Prova escrita que consta de dissertaçâo e resoluçâo de ques-
toes objetivas sobre assuntos educacionais: Até 100 pontos.
b) Pro va de títulos que consta de pontos por:
— Exercício efetivo no cargo durante 730 dias ou mais: Até 80
pontos.
— Idem, inferior a 730 dias: Até 70 pontos.
— Títulos, pelos quais se possam verificar condiçoes especí¬
ficas de capacidade para o exercício do cargo: Até 70 pontos.
— Outros documentos pelos quais se possam verificar condi-
çoes de nivel cultural e comportamento em qualquer setor
de atividade: Até 50 pontos.
A pro'va de títulos nao pode exceder de 100 pontos.
A aprovaçâo requer média 50 em cada urna das provas a) e b) .
Atualmente existem vários Técnicos em Educaçâo efetivados no
cargo por decreto e outros, exercendo interinamente a funçâo. Em
1955 o Departamento de Serviço Público publicou éditai de abertura
de concurso que teve sua realizaçâo sustada em face de protesto
dos Técnicos em Educaçâo (interinos e efetivos) nao concordaren!
corn as condiçoes dos mesmos, isto é, nao haver exigêneia de for-
macáo didática específica.
IX. PERÍODO ANTES DE ADQUIRIR COMPLETA CAPACIDADE
PROFISSIONAL
Para o exercício da funçâo, nâo há período de treino, mas é
lógico que os técnicos com mador número de anos de experiência e
mais estudos estáo melhor capacitados para o desempenho de suas
atividades.
X. PROMOCA O E A VAN Ç AMENTO
A funçâo de Técnico em Educaçâo efetua-se dentro de cargos iso¬
lados, nâo constituindo carreira.
XI. OCUPAÇÔES AFINS A QUE O TRABAD 110 PODE CONDUZIR
O Técnico em Educaçâo pode ser designado para qualquer ati¬
vidade de chefia de órgáos técnicos e administrativos da Secretaria
de Educaçâo. O critério estabelecido pela maioria dos Secretários
de Educaçâo tem sido o de utilizar o trabalho dos Técnicos em Edu¬
caçâo, com vasta experiência e atuaçâo marcante, nas atividades de
chefia de órgáos como: O Centro de Pesquisas e Orientaçâo Educa¬
cionais, Serviço de Orientaçâo e Educaçâo Especial, Superintendên-
cias de Ensino', etc. Tôdas estas sâo funçoes de comissâo e con-
fiança.
r
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
73
XII. VANTAGENS
O Técnico em Educaçâo goza de todas as vantagens atribuidas
ao funcionalismo público e mais as decorrentes de seu cargo, ou
sejam: salário, gratificaçôes, diárias, ajudas de custo e outras.
— Salário: O cargo, quanto ao salário, está classificado no pa-
dráo 7.° (último) da tabela de vencimentos, correspondendo a Cr$
10.000,00 (Dez mil cruzeiros). Trienalmente há um avanço automá¬
tico de Cr$ 1.000,00 (Um mil cruzeiros). Éste salário está sujeito
aos seguintes descontos:
— 5%: contribuiçâo ao Instituto de Previdéncia do Estado.
- — 2%: de acórdo com a Lei n.° 3096 de 31-12-58 (aumento dos
inativos).
— Tantos dias de serviço quantas forem as faltas nao justifi¬
cadas.
— Um têrço do salário diário por chegada após ou saída antes
da hora regulamentar.
— Licenças: Cabe-lhe o direito de licença, sem perda de ven¬
cimentos:
— Para tratamento de saúde ou acídente no exercício da pro-
fissáo.
— Para tratamento de moléstia de pessoa da familia.
— Gratificaçôes: De 15% e 25%, a partir da data que completar,
respectivamente, 15 e 25 anos de serviço efetivo.
— Diárias: Por deslocamento da sede de trabalho em objeto de
serviço.
— Ajuda de custo: Por transferencia ou nomeaçâo para cargo
em comissáo em nova sede, estado ou estrangeiro'.
Por tarefa que o obrigue a ficar fora da sede mais de 30 dias.
— Licença premio: De 6 meses, após 10 anos ininterruptos de
trabalho efetivo.
— Aposentadoria: Com 35 anos de serviços efetivós.
Por invalidez para o serviço público motivada por: moléstia,
acidentes ou agressâo nao provocada, no exercício de suas funçoes.
— Acumuîaçôes: Como cargo técnico' dá direito a exercer cumu¬
lativamente funçâo docente em estabelecimento educacional de qual-
quer grau, desde que o sujeito esteja habilitado para tal, provada a
compatibilidade de horários.
— Abono familiar: Por filhos menores solteiros.
— Premios: Por autoría de trabalhos considerados de intéressé
público ou de utilidade para a administraçâo.
74
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
r
XIII. HORAS DE TRABALHO
A) O técnico em Educaçâo está sujeito ao regime de horário
dos funcionários públicos que, atualmente, é de 6 (seis) horas, ex-
ceto aos sábados, em que há meio expediente. O horário semanal é
de 33 horas.
B) Atualmente estáo vedados os horários extraordinários re¬
munerados, no entanto a natureza da funçâo exercida pelo Técnico
em Educaçâo exige-lhe horas extras de estudo e pesquisas.
C) As férias sao anuais (30 dias consecutivos), desde que te-
nha preenchido os seguintes requisitos:
— Nao ter incorrido em mais de 30 faltas justificadas.
— Nâo ter fruido licença para tratar de interésses particulares
por mais de 30 dias.
XIV. REGULARÎDADE DO EMPR&GO
O cargo, como funçâo pública, é um emprégo regular, nâo so-
frendo' interrupçôes, nem estando sujeito ao influxo dos ciclos de
trabalho.
XV. RISCOS DE SAÜDE
Os riscos de saúde física e mental sáo relativamente normáis a
qualquer tipo de funçâo pública burocrática, e estáo previstas leis
asseguradoras de direito a assistência e garantía contra invalidez.
Entre as moléstias consideradas como dando direito a aposentado-
ria estáo': tuberculose, alienando mental, neoplasia maligna, ceguei-
ra, lepra, mal de Addison, paralisia e afecçoes cardiovasculares in-
curáveis.
Entre os meios assistenciais a que pode recorrer está o Instituto
de Previdencia do Estado (empréstimos para caso de hospitalizaçâo,
financiamento para construçâo de casa), a Associaçâo dos Funcio¬
nários Públicos (assistência médico-dentária, exames de laboratorio,
raios x, etc.) e a Cooperativa dos Funcionários Públicos.
XVI. ORGANIZAÇÔES
Como funçâo' pública o cargo nâo está na dependéncia de orga-
nizaçâo patronal, mas diretamente sujeito à legislaçâo e adminis-
traçâo pública civil.
Ao Técnico em Educaçâo, como a qualquer outro funcionário
público, está vedado a fundaçâo de sindicatos. No entanto, cabe-
lhe o direito de fundar associaçôes para a defesa de seus interésses,
para fins beneficentes, recreativos e de economia e cooperativismo.
Nestes moldes há duas instituiçôes: a Associaçâo dos Funcionários
Públicos e a Cooperativa.
r
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
75
XVII. LUGARES TÍPICOS DE EMPREGAMENTO
Atualmente, no Estado, é a Secretaria de Educaçâo a única re-
partiçâo pública que utiliza o trabalho do Técnico em Educaçâo. As
organizaçôes particulares (associaçÔes educativas, ¡estabelecimentos
de nivel primário, secundário e superior) estáo su jeitos à legislaçâo
oficial, atendo-se aos preceitos e orientaçâo gérai dos órgáos técnicos
da organizaçâo federal ou estadual.
XVÏÎI. INFORMAÇÔES SUPLEMENTARES
Fontes de informaçâo para maiores esclarecimentos podem ser
buscadas:
— Na leitura de:
— Leis e decretos referentes ao funcionalismo' público civil
do Estado.
— Regimentó interno do Serviço de Orientaçâo e Educaçâo
Especial e arquivo de leis referentes ao Centro de Pesqui¬
sas e Orientaçâo £¡ducacionais.
— Na consulta à Divisâo de Seleçâo e Aperfeiçoamento de Pes-
soal, do Departamento de Serviços Públicos do Estado.
— Na entrevista com pessoas que exercem ou exerceram a pro-
fissâo, entre as quais:
— Da. Olga Acauan Gayer, ex-titular da Diretoria Gérai da
Secretaria de Educaçâo.
— Da. Amnéris Fortini Albano, ex-Superintendnte do Ensino
Normal.
— Da. Ida Silveira, diretora do Serviço de Orientaçâo e Edu¬
caçâo Especial.
— Da. Graciema Pacheco, catedrática de Didática Gérai da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e ex-Diretora
do Centro de Pesquisas e Orientaçâo Educacionais.
76
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
BIBLIOGRAFIA :
1. Arquivos Bras'leiros de Psicotécnica: dezembro de 49, junho de 50 e março
de 52.
2. Manual de Orientaçâo Profissional — Mira y López.
3. Introduçâo à Administraçâo Escolar — A. Carneiro de Leño.
4. História da Educaçâo — Bento Andrade F.?.
5. Noçôes de História da Educaçâo — T. de Miranda Santos.
6. História da Educaçâo — Monroe.
7. Noçôes de Administraçâo Escolar — T. Miranda Santos.
8. Educaçâo Comparada — Milton Rodrigues.
9. The Fundamentals of Public School Adm'mstration — Reeder.
10. Enciclopedia de la Educación Moderna — H. Rivlin.
11. Arquivos históricos do Centro de Pesquisas e Orientaçâo Educaciona's.
12. Regimentó Interno do Serviço de Orientaçâo e Educaçâo Especial.
13. Diário Oficial do Estado, de 24-2-55.
14. Le's e decretos referentes ao funcionalismo estadual.
DIONISIO FUERTES ÁLVAREZ
RECONSTITUIÇAO DUM ITINERARIO — TEMPO INTERIOR
Betty Brogrioli Borges Fortes
— Irmáo, nunca mais escreverei comentários. Éste é o último.
— Sim, o último até que se publique o meu novo livro . . .
E assim foi. Nâo escrevi mais. Nâo havia mais necessidade de
escrever. Táo' pouco havia coisas que me intéressasse dizer...
Naquela manhá, há tantos dias, sai do gabinete déle com as
obras completas de San Juan de la Cruz. Depois de 1er o místico, e
meditá-lo, compreendi que havia, pelo contrário, muito que dizer.
Nos falávamos regularmente, ano após ano, corn a regularidade e
constáncia de um determinismo, e afinal de contas, só agora fico
sabendo que nós falávamos a mesma lingua. Por isto é que eu sem-
pre compreendia o que se passava na sua intelectual e interna quí¬
mica mística. Dionisio Fuertes Alvarez sempre recordou a minha
esperança, pois que a minha alma se completa nas próprias remi-
niscências. Éle nunca mo disse, mas eu sabia qual era o céu que
o tentava.
Por isto. Ambos renunciávamos lentamente aos luxos e as exor-
bitáncias técnico-estilísticas. Afinal, o que significa Olimpo para o
Homem viajante, senáo um ocaso triste de «faunos senis e bacantes
morías?»
Para nós, a linguagem poética, a acuidade poética, servia para
indagar pela eternidade afora:
« — Passou o Amado por aqui?
Passou o meu Rei por estas bandas?»
E caminhávamos, carmelitas e descalcos, em espiráis, pela senda
sulcada de suor, de sangue e de esforços. Evidentemente que fica
um pouco dêste esfôrço nas florestas que se iluminaram. Há a neve
que desceu do pranto e soterrou nossos festins de formas esplen¬
dentes. Eis que ficamos humildes e mansos de coraçâo, e caminha-
mos tensos e doloridos. Tensos como carneiras em tambores fune-
rários. Desceu um manto de neve e gelou o sangue dos homens de
repente. Quando isto aconteceu, Dionsio Fuertes Alvarez me deu
um roteiro para que entrasse e me resguardasse no Gástelo. Despe-
dimo-nos e fomos cada um para seu lado.
Agora eu pergunto que significado tem a poesía neste trabalho
78
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
imenso? Salvaguardar o próprio espirito ameaçado? Nada, nâo fora
ser urna vibraçâo permanente, urna ladainha constante, a encher o
coraçâo infinito do espaço. Micromassagens a derreter pesados co-
raçoes de gélo. Poetar é cantar urna prece e adormecer, guardando
urna fé que poder algum da terra deixa entáo morrer.
Sim, porque eu entrei esta noite no Castelo, e éle veio me
receber. E foi, nâo há dúvida, urna gentileza do Rei. Reconheci os
signos que éle semeara ao passar. «Tempo Interior» se revelava,
e por isso vai agora tempo interior com um ano de atraso. Certas
experiéncias resultantes de sublimaçâo em dimensáo já nao no psi-
cológico-subconsci,ente, mas ñas próprias terceiras dimensoes do
espirito, somente podem ser integradas com o' próprio sangue, com
a própria experiéncia, com a própria caminhada. E’ o sentido da
nova análise da realidade espiritual do homern ainda com assentos
na psicología que táo bem está representando no Ocidente o Círculo
Vienense de Psicología Profunda, dirigido, atualmente pelo Prof.
Igor Caruso.
E o laborioso caminho da investigaçâo analítica, nâo podia ficar,
como efetivamente nâo ficou na Primeira Porta freudiana. O espi¬
rito avançou, e conseguiu estabelecer corn um esfôrço inaudito no
campo da investigacáo científica e aceitar o que estava perdido nos
ocultos mistérios das religioes e constituían! quase-tabus para o es¬
crúpulo ingenuo infantil e mórbido do pseudo-intelucismo do espirito
científico. Entretanto, o espirito caminhando, fatalmente encontra
estas grandes barreiras. Pode sentar-se na Primeira Porta. E’ ló¬
gico. Entretanto, o «plus» existe, é e será objeto de investigaçâo,
ainda que o se ja concomitantemente de veneraçâo e culto, porque
sempre, ao se atingir a etapa mística da alma, ela fatalmente se in¬
tegrará nos limiares de sua Origem, e digo origem, porque nesta
altura já o fim está presente, mas ainda como inatingível principio'.
Processa-se no espirito humano o fenómeno de cruza onde o
espirito humano penetra, e treme, arrepiado da sua própria verdade
e presença desencadeada. Jung trouxe-nos esta verdade como pos-
sível. Examinou a mística, os signos encontrados no Oriente. (Chi¬
na — o segrédo da flor de ouro...) E desde entâo a pesquisa náo
parou. A mística medieval penetra como urna necessidade de com-
pletaçâo nos dominios todos da cultura. O esfôrço é necessário, e o'
resultado que Franz Kafka expresse no «Castelo»: entrar ou náo.
Como Santa Teresa, entra-se no «Castelo» ou náo se entra. Entre¬
tanto', para o analista, já o castelo é signo claro e perfeitamente
integrado no patrimonio da completacáo espiritual. Assim sendo, já
se estabelece a paragem transcendental do espirito, além da vege-
taçâo subconsciente, imánente e completa em si, tanto que há inves¬
tigadores que náo sentem a necessidade de sair déste primeiro painel
de investigaçâo. E’ além, é num painel mais anejado se bem que
extremamente laborioso, porque é ativo e criador, que estáo os li¬
mites do poeta-místico Dionisio F. Álvarez — Poesía e Beleza. Tan-
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
79
to, que já a propria análise nesta nova dimensáo, há de ser, e o
pode, e o deve, ativa. Assim o entenderá, tanto os psicólogos como
os guias da vida espiritual.
Éste é o clima, e éste é o itinerário, cheio de ameaças e tem¬
pestades. Dionisio F. Alvarez, é um dos viajantes que chegaram.
Vamos ver os sinais deixados em sua obra poética.
Elementos preparatorios: A condiçâo:
Ninguém diria que da pedra dura
e no deserto que ninguém habita
fosse nascer esta fontana pura
que só eu conheço para minha dita.
Quando as rosas se inclinam calcinadas . . .
(Tempo Interior — p. 19)
Em todos os que fazem reduçoes espirituais há esta primeira
solidáo, nao tanto procurada como encontrada, após as primeiras
manobras purificadoras em busca de urna autenticidade e pureza in¬
terna.
Provada e aceita esta aridez infinda e extremamente difícil, se
esboça nítidamente a presença:
TU
Certo que nao sou eu, és Tu que pensas,
tremes e cantas, gemes e suspiras,
que em mim, por mim e para mim deliras,
na exaltaçâo de aspiraçoes imensas,
Tu que susténs sensivelmente tensas
as cordas de cristal das minhas liras,
Tu que manténs rubras em mim as piras (signo flamejante
encontrado no Yoga do fogo)
Tu que moras em mim, oras e incensas.
Dada a primeira crise, e a grande experiéncia interna, encontra¬
se o grande mar que deve ser atravessado, a consciéncia ativa Sem¬
pra presente, com seus reclamos insaciáveis:
MARES
Fora está o mar mutável e infinito,
b mar de sempre, calmo ou assanhado,
ou de espumosa alvura rendilhado,
ou de furor crispando o dorso invito.
80
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
Dentro, o imprevisto mar incircunscrito,
o de abismo insondável e insondado,
enigmático, escuro, encapotado,
>ou de perplexo e extasiado hábito.
Ambos encerram já mil naufragadas
quilhas de naves céleres e ousadas
que afrontaram o negro labirinto.
Ambos sao aguilhoes do meu desojo,
mas eu que devassei o mar que vejo,
devassarei um dia o mar que sinto?
Que Deus se apiede dos homens! Grande o mar. Pequeñas as
embarcaçôes, que urna cultura velha, cansada, nos dá as mais das
vézes.
Esta é urna experiéncia extremamente penosa onde a alma pode
e deve gritar a Deus pedindo forças. Momento em que se revela
a indissolúvel relaçâo o Deus-Poder e o Homem-Míngua. Mas o
Homem-Míngua deve aceitar, pois êsse momento há de passar so-
zinho. A graça está em que êsse momento passe.
E Dionisio F. Álvarez vai. Plana em plena beatitude. Ressuscita do-
cemente no coraçâo da espuma, iluminado como urna alvorada:
ÑAU
Ñau que partiste pela madrugada
salpicando de pétalas a espuma,
que já domaste as estaçôes révoltas,
e chegarás nimbada pela gloria
num cimanhá ressuscitado e belo.
(p. 29-30)
Confirma-se em ILUMINAÇÂO, onde se evidencia a insuficién-
cia de tudo o que é transitorio:
Inda que resplandecam ñas campiñas
supérfluas verduras mascaradas,
inda que ensaiem harpas cristalinas
notas de exaltaçâo exacerbadas,
NAO ENCHE O MAR A GÔTA CONSEGUIDA.
(p. 32)
Existe a visao presciente do fim, da meta: «Montanha abrupta,
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
81
vertical, selada» (Subida ao Monte, de Sao Joáo. Analogia de verti-
calidade e de ascensáo) .
Analogia do fogo:
Rubra fornalha, sempre iluminada
com sinistros reflexos de braseiro
(p. 35)
Alegria de urna descompressáo:
O’ milagre da luz, da flor, do ninho,
na colmeia da vida sem alentó,
novos favos de mel para o caminho.
(p. 40)
Oh! essa poesia branca e precisa de Dionisio F. Alvarez, fatal¬
mente faz o espirito orar!
Como Tu, como Tu, Deus inocente,
a terra em estertores de agonia
sente sede, Senhor, nesta sombria
tarde sem ar, sem fé, torva e silente.
Urna sede total, urna envolvente
sêde de exaltaçâo e de harmonia.
Exato. Preciso. Dolorosamente, angustiosamente exato. Preciso.
O caminho, além do mais, é cansativo e longo:
Um cansaço de andar e estar parado,
urna dor de saber que nao se sabe,
um antro subterráneo em que nao cabe
o espirito do céu precipitado.
(p. 45)
Há o despertar:
O’ primeiro contato com o recente
fogo sagrado duma vida alada!
O’ possci ardente da sonhada esfera!
Neste signo místico de alto valor e significaçâo, o ocidente abra-
ça o oriente, numa identidade de posse e de confirmaçoes mútuas.
Entáo vem:
UMBRAL
Vejo-te já na alvura evanescente
com halos de ilibada luz vestida
82
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
num mundo lirial, onde esta vida
abandona figura e acídente.
Vejo- te chama silenciosa e pura
translúcida, no albor duma outra esfera
no alvorecer de irrevelada norma,
sombra já de tangí vel criatura,
fragráncia que o santuário reverbera
INCORPÓREA ASCENSÂO DE HUMANA FORMA.
Eis que respira já o sobrenatural e a posse. Sente e apalpa em
verdade a sobrenatural era.
E aqui a mística ocidental dá um ponto sólido de repouso após
ingente trabalho de aproximaçao do objeto. A HUMANA FORMA.
A Crística forma, ou a forma de Maria Máe de Jesus. Exemplo na
maneira de Grignon de Monfort. Reconstituir a personalidade des-
feita (água) pela desbastaçâo investigadora ou ascética, na forma
de Maria, Máe de Jesus.
¡Muitos caminhos chegam à fase líquida, mas o cristáo nesta
fase tem um ponto alto de repouso, o Cristo. Ou, como expressam
os vienenses, o Arquetipo Cristo.
Já navega plenamente no mistério. Agora vai por atraçâo:
Rasto: Só deixarás um rasto luminoso
de poeira estela, quando ás esferas
— querubim exalando primaveras (que imagem maravilhosa!)
te arrebatar um éxtase amoroso.
Deixarás um odor silencioso,
de serena saudade de outras eras,
— espirito exilado entre quimeras —
plenitude do anelo impetuoso.
Já sei que astro propicio é nossa meta.
Seguirei com ardores de cometa
por esta via-láctea que deixaste. (p. 64)
E deu-se a transmutaçâo final. Éste é o momento culminante da
sua procura mística
Hypnos: Umbral dos paços do deslumbramento.
que se projeta na alma adormecida.
Onde ó ouro de lei? Onde a miragem?
E’ vida o sonho, ou será sonho a vida? (p. 70)
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
83
Entáo deu-se o milagra:
Deflagrou a invisivel labareda
e alteou seu reflexo no horizonte,
de abismo a abismo, de barranco a monte,
em lampejos de luz potente e lêda.
Com o universo em vibraçâo de pira
ardeu a alma também, nova e absorta,
e tudo foi urna inquietude em chama.
Aqui termina a historia da sua trajetória mística, de unido e de
experiência. Segue-se a visáo já transmutada da realidade.
Catedral: Com a aurora despartas transmutada. .
observe-se como o espirito dita as palavras próprias do seu grau atin¬
gido.
Vesperal: Treme o silêncio que a pairar flutua
como inconsútil e velada tela
O clima de tensáo em que se moverá daqui por diante, expressa-se
em Tensáo:
Um silêncio pe jado de amarguras
encheu o peito do trigal maduro.
(visáo de «anima» no sentido Junguiano, oposto a «animus»)
e palpitou na sombra um inseguro
escalar de gigantes ás alturas
um esperar tremente e sem alentó
um olhar sem sosségo, da amurada,
um constante medir o meridiano,
na expectativa que, alteando o vento
a praia se descubra ensolarada,
e tombe enfim o' plúmbeo véu do arcano
E finalmente o desafio e a libertacáo:
Espera:
Sei que a noite me envolve, me domina,
circula em minhas veias, me satura,
ê meu pao e meu vinho, minha dura
almofada e amarga medicina,
mas sei que a luz espera, que germina
Sei que ao redor há maos, lábios, acenos,
f
» • « « • •
v
mas eu sou cegó, surdo, incomovível,
porque já apalpo a luz, inda invisivel,
e quem vive no eterno nao tem pressa.
E para todo o sempre, a poesía há de confinar com urna forma
de renúncia e de ascese espiritual.
FIXAÇÂO DE DUNAS
Irinâo Juvêncio,
Para quem percorre a costa rio-grandense imagina-se estar num
deserto de regiâo ùrnida. Nâo é um reg sahariano'. Além do mais,,
se distingue por sua drenagem exorréica e nâo possui oueds. Carac¬
teriza -se pela desigual distribu içâo e extrema variabilidad e vege¬
tativa.
Nâo é uma simples terra de tránsito, mas há urna intensa vida
económica residente na pecuária e no cultivo do arroz e da cebóla.
E’ um oasis plantado na restinga de Pernambuco. As tr adicionáis
tamareíras saharianas sao substituidas pelos gerivás e butiázeíros.
Caracteriza-se ainda pela ausencia de sebkhas e chotis. A planicie
a perder de vista, contudo, é uma perfeita paisagem desértica.
Os areiais que se espalham ao longo da orla litoránea tomam
aspectos e larguras diversas conforme a regíáo em que se locali¬
zan!. As areias tomam coloracoes variadas, passando da escala cro¬
mática branco-clara a amarelo-escuro . Influem neste pormenor a
idade de cada especie e a oxidaçâo que suportaran!. Quanto à es¬
pecie sob o ponto de vísta de sua formaçâo,, podemos distinguir
très tipos: l.° Barkhane, duna em crescente com convexídade do
lado do vento. 2.° Síf simples (siouf no plural), duna em S e com
cristas bem pronunciadas. 3.° Agrupamentü dos siouf em cordoes,
bracos, maciços e cadeias.
Do ponto de vísta de sua evoluçâo' encontramos ao longo da
costa río-grandense: l.° Mar de areias que sao as dunas baixas e
inorganizadas cuja orlentacao varia após cada ventanía mais ou
menos forte e persistente. Localizam-se no estiráncio. Aquí a pa-
vimentaçâo das praias com valvas de moluscos e sua posiçâo para
baixo nos assinala um predominio de sedimentaçâo geológica. 2.°
Os nebkas, montículos de areia cornados com tufos de vegetaçâo. 3.°
A duna propriamente dita, cuja altura varia conforme a latitude.
Em geral, no nosso Estado, náo ultrapassam 10 ms. 4.° Dunas adel-
gaçadas, existentes em regioes em que a açào dos ventos é bas¬
tante mutável nao permitindo grande ajuntamento de areias num
só ponto, ou ainda assinalando a fase de exterminio pela açâo ero¬
siva. 5.° Páleo-dunas ou árqueo-dunas, dunas fossilizadas já bastante
interiorizadas e recobertas de ténue ou densa vegetaçâo xeromorfa.
6.° Dunas rejuvenescidas, provenientes de páleo-dunas ressuscitadas
pelo desmatamento, cultura e pastagem intensiva. Reiniciam a fase
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
85
migratoria após tal intervençâo. De mortas passam a ser vivas (Conf.
clichés: 1 e 2).
Do ponto de vista da direçâo encontram-se dunas que seguem
os quadrantes SE, SW, NE e NW, em especial, em intima conexâo
corn a direçâo dos ventos. Acham-se freqüentemente dunas interio¬
rizadas, paralelas a outras de que estâo separadas por gargantas que
tomam direçoes, às vêzes, em contrário aos ventos predominantes.
Tal fato se liga ao enfunilamento das correntes aéreas através das
gargantas imprimindo um roteiro dispar às dunas. Tém urna decli-
vidade suave do lado' do vento e a pique do lado oposto. Ñas horas
de ventanía suas cristas fumegam.
Quanto à direçâo dos bracos das dunas apresentam-se duas teo¬
rías: Id Podem ser criados pela erosáo eolia. 2d Podem ser resultan¬
tes da acumulaçâo de ventos de duas direçoes diferentes.
Nao escapa ao observador arguto a linha de separaçâo dunar.
Na base, observa-se o típico aleb sahariano (cordoes de areia verme-
lha) sobrepostos de camadas arouq (areias brancas) . Entre ambas
náo há urna verdadeira separaçâo, em que camadas paralelas, entre¬
cruzadas, obliquas, erosionadas e exumadas se entrechocam numa
grande barafunda.
Estas dunas podem ter profundidades bastante variadas. Em tor¬
res e adjacéncias acham-se isoladas e sem grande penetraçâo pelo
hinterland. Éste fato pode ligar-se à proximidade da Serra que náo
permite urna expansáo' eficiente e de grandes proporçoes. Já} entre
Torres e Tramandaí, a faixa se alarga um pouco, mas náo constituí
sérios entraves à vida das populaçôes. Apenas obstaculizam um tanto
a vida balneária zonal. De Tramandaí para o Quintâo sáo um pouco
mais largas. Nestes trechos encontram-se em atividade serviços lo¬
cáis de fixaçâo dunar. Déste ponto em diante as dunas tomam aos
poucos um aspecto um pouco mais adelgaçado até um pouco ao sul
de Bojuru. O restante trecho até os molhes de Rio Grande já apre¬
senta dunas desérticas em que as alturas e a profundidade de sua
extensáo sao muito maio'res. O trecho de Rio Grande até a barra do
arroio Xuí apresenta diversas variantes, ora altas, ora baixas com
rnaior ou menor interiorizaçâo.
Feita esta peroraçâo esquemática queremos entrar no ponto ne-
vrálgico da questáo de que ora nos ocupamos, a fixaçâo das dunas.
Antes de tudo, devemos frisar que a fixaçâo dunar se processa pelos
métodos natural e artificial. O primeiro déstes métodos está em de¬
senvolvimiento désde milénios. Em perdidos tempos do pleistoceno
e holoceno quando a colmatagem ia tomando conta dos baixios pra-
ieiros, também a vegetaçâo halófila, posteriormente o manguezal, a
subxerófila, a das matas miúdas corn predominância das palmáceas
e a palustre recobriram a extensa regiâo litoránea rio-grandense.
Um trabalho lento e constante formou o solo que possibilitou éste
desenvolvimiento vegetativo. Podemos, portanto, dividir a cobertura
arbustiva e vegetativa litoránea em 5 tipos principáis: l.° Algas na
86
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
zona das ressacas. 2.° Vegetaçâo praieira psamófita reduzida e ra-
quitica. 3.° Fo'rmaçôes lacustres em que se misturam a halófita e a
náo-halófita. 4.° Pántanos litorais do lado das lagunas e do lado
marítimo com vegetaçâo propria em cada setor. 5.° Formaçâo de res¬
tinga subxeróñla e formaçâo de matinhas campestres incluindo' zo¬
nas 'em que predominam as palmáceas (butiàzeiros e gerivâs).
Em 1953, cf. o' Pe. Rambo, conheciam-se 1072 fanerógamos que se
desenvolvem na orla litorânea. Esteados em A. J. Sampaio podemos
verificar a possibilidade do desenvolvimento vegetativo na restinga:
«E’ claro que a composiçâo do solo influí muito' para o viço da vege¬
taçâo, mas o estado físico, o húmus e a umidade parecem ter maior
influência.»
Estas associaçôes arbustivas foram aos poucos e corn grande per-
sistência tomando conta da grande restinga de Pernambuco e do
Albardâo desde as fases incipientes da colmatagem das áreas con¬
quistadas ao mar. Deu-se urna verdadeira enxurrada de formaçoes
vegetativas higrófilas, xerófilas halófilas e hidrófilas ou aquáticas.
Náo há um verdadeiro têrmo de separaçâo. Misturam-se e auxiliam-
se mútuamente no embate da sobrevivencia.
Os páleo-cómoros de areia interiorizados diversos quilómetros se
encontram recobertos, na generalidade, por urna vegetaçâo mais po¬
bre, como cactáceas, espinheiros e maceguinhas campestres. Com o
desaparecimento desta cobertura protetora éles reiniciam a fase iti¬
nerante em parte ou no todo. (Conf. cliché, 3). Na opiníáo de A.
R. Lamego o poder fixativo' da flora desapareceu na zona da pla¬
nicie interna do Albardâo. Em conseqüéncia déste fato as dunas mar-
cham atualmente corn mais veeméncia para o interior avassalando
zonas de boas pastagens. Nâo houve mudança do solo', permanece o
mesmo tipo de areia, apenas estacionou a expansáo fitogeográfica
que nâo mais conseguiu galgar o cómoro, dominá-ló e fixá-lo. Estáo
ai vegetáis que desciam do interior em marcha sobre o mar que
se encontram quais vanguardas isolados ostentando troncos vigoro¬
sos, hóje com urna ramagem entesada e em lenta fase de extinçâo.
A éste respeito Alberto Sampaio declara: «A diferenciaçâo mais re¬
cente dos climas teria provocado o aparecimento de tipos novos,
adaptados a condiçoes mais secas, de um lado, mais frías de outro.»
E’ ó ciclo morfobiótico das dunas corn séria intromissâo climática.
Em seu «Curso de Botánica, Alberto Sampaio apresenta 4 biótipos
das associaçoes florísticas do cómoro: «l.° Biótipo graminóide, na
rampa da praia. 2.° Biótipo herbáceo. 3.° Biótipo crassicante repre¬
sentado por cactáceas. 4.Ô Biótipo lenhoso', as árvores da restinga
até o interior.» Esta sucessâo nâo se precisa em todas as partes. Há
interpenetraçoes.
A fixaçâo dunar artificial restrínge-se a certas áreas. Vamos
encontrá-la em Capáo da Canoa, Tramandaí e Pínhal mui esparsa-
mente. Tais trabalhos, nessas áreas, sáo recentes. Na generalidade,
consiste em anteparos e taipas de juncos ou colmos de milho que
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
87
sao fixos nas cristas das dunas para impedir o avanço das areias.
Outra modalidade é ainda, nessa área, a plantaçâo de determinados
vegetáis xerófilos e halófilos de radiculaçâo intensa que possa en¬
frentar a mesologia adversa e vegetar sobre ós cômoros ardentes.
Em parte, as mudas sao plantadas pelo Serviço de Proteçâo e Fixa-
cáo das Dunas e} em parte, pelos particulares que recebem gratui¬
tamente as mudas daquele Serviço. A açâo dos particulares restrin-
ge-se a gramear e arborizar a própria propriedade. Ao passo que
a supervisan do SFD se restringe ás zonas adjacentes aos balneários.
Além do mais nao é urna açâo constante para subjugar o avanço das
areias. Podemos aquilatar por ai que nesta zona Nordeste e Central
do litoral rio-grendense o SFD tem apenas a nobre finalidade de
proteçâo dos balneários e náo propiamente a fixaçâo definitiva.
Na praia de S. José do Norte, fronteiriço à séde municipal, e
na praia do Rio Grande, dos molhes ao Cassino, vamos encontrar
de fato urna perfeita organizaçâo do SFD. Apesar de náo ser muito
antiga sua fundaçâo, já funcionava ai em fase experimental quando
a Compagnie Française du Port de 1908 a 1915 construiu os molhes
de Rio Grande. Posteriormente, tendo sido incorporados à Uniâo a
obra dos molhes e canal e ao' Govêrno Estadual as obras do porto
de Rio Grande, aquêle SFD também passou ao Govêrno Estadual
que nâo o vitalizou corn suficiência. Apenas um par de anos para
esta data tomou uma verdadeira estrutura. Ho je é subordinado à
Secçâo de Dragagem. Consta de dois setores: o Viveiro da Barra e
o Viveiro de S. José do Norte. As antigas instalacóes existentes
junto ao Porto de Rio Grande foram transferidas para a Barra em
1955. A Sede está na Barra.
A’ direita da estaçâo do «Trenzinho do Amor», como é apelidado
em Rio Grande o trem Rio Grande-Molhes, encontra-se o Viveiro da
Barra ou 4 J Secçâo. Encontramos ai mudas de cedros-marítimos,
acácia, marítima, lomba-verde, eucalitos, etc. Sua área é de 108m
sobre a linha férrea, 232m70 do lado leste e 283m45 do lado oeste.
Dispunha de 15.000 mudas de eucalitos e 18.500 de acácia, em agosto
de 1955. Constantes invasoes e estragos causados pelos turistas obri-
gou a direçâo do SFD a destacar um policiamento de proteçâo. O
setor da 4.- Secçâo abrange a margena oeste do Canal do Norte e
da orla marítima entre a raiz dos molhes e a praia do Cassino.
O Viveiro de S. José do Norte ou 5.- Secçâo plantou até agosto
de 1955, 45.114 acácias trinervadas, replantou 18.814 e transplantou
16.852 e construiu 1.650m de tapume para atacar as areias. Havia
naquela data 30.000 mudas em latas e 200.000 nos canteiros. Depois
de uma área de 1.650m. Localiza-se no final da Avenida que parte
do porto local.
As funçôes do SFD podem-se resumir nos itens que seguem: l.°
Semear, transplantar e fazer mudas. 2.° Fazer caixas para as mudas.
3.° Preparar o terreno pela lavra ou adubagem. 4.° Plantar e replan¬
tar. 5.° Fazer cercas ou tapumes. 6.° Manter vigiláncia sobre plan-
88
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
taçoes. 7.° Estudar plantas fixadoras. 8.° Conservaçao do material.
9.° Executar obras correlatas.
Após sérias experiências sobre variados tipos de plantas fixa¬
doras chegou a um resultado’ satisf atório . Entre os estudiosos do
assunto podemos alinhar como membres destacados Corthell, Caland,
Bicalho e muitos outros investigadores. Hoje, usam-se corn pleno
sucesso os espécimens infra relacionados:
A. Na fixaçâo: l.° Lcmba-verde (tessaria absinthoides), planta
que cresce ereta, emite raizes horizontais que se ramificam, nâo se
desenvolvendo em terrenos alagados. Farta folhagem no tôpo de um
caule: esguio em vara. Fôlhas estreitas e lanceoladas. Plantado por
meio de estacas de cêrca de 50cm. Atinge 2m50 a 3m de altura. Usada
em terrenos baixos por requerer boa umidade para seu desenvolvi¬
miento. Espraia as raizes superficialmente e délas brotam novos re-
bentos, bem longe da raiz principal ou da planta-máe. Assim, seu
crescimento rápido, em po’uco tempo cobre grandes áreas, supor¬
tando areia e vento. Seria a vegetacáo indicada para estas imensas
paragens inóspitas. Apesar de satisf azer plenamente os requisitos
desta regiáo, seu cultivo foi abandonado por serem seus brotos co-
biçados pelo gado. Somente po’derá ser utilizado em áreas sem pas-
toreio.
2. ° Cedro-marítimo (Tamarix Galica), arbustiva e ornamental.
Desenvolve-se nas areias e alagados. Multiplica-se por estacas. De-
senvolvimento lento. E’ resistente, sobria e de fácil adaptaçâo a
quaisquer condiçoes do solo. E’ planta euro'péia e introduzida no
Rio Grande por embarcadlos, por volta de 1860. Bicalho provocou
sua difusâo e expansâo. Lança raizes em forma de pivot que alean -
eam boas profundidades. E’ usado' com grande éxito em ambos vi-
veiros. Batalhador invicto contra a furia avassaladora das areias.
Nécessita apenas um pequeño amparo em sua juventude contra as
pragas que procuram extirpá-lo.
3. ° Acácía Trinervis (Acacia longifol'ia) (Conf. cliché, 4). Intro¬
duzida do Uruguai onde está sendo empregada corn grandes resul¬
tados há mais tempo. Porte regular, boa copada com 4 a 6m. Serve
de anteparo contra o vento. E’ a planta que está sendo mais em¬
pregada atualmente. Desenvolve-se fácilmente ñas areias. Radícula-
çâo densa, de grande penetrabilidade e dístensao lateral do manto
radicular. Resumindo as vantagens da adocáo desta planta, por ex-
celéncia para as regióes xerófilas e empregada para combaten a ero-
sao superficial, podemos atribuir-Ihe os atributos seguintes: 1. Ele¬
vada produçâo de sementes ou propágulos. 2. Alto poder germina¬
tivo. 3. Alta vitalid'ade geral. 4. Sistema radicular forte e disperso.
5. Densa cobertura do solo. 6. Assenhoreamento rápido do terreno.
7. Desenvolvimiento geral rápido. 8. Cobertura permanente da área
ocupada. 9. Resisténcia ás fortes insolaçoes. 10. Resísténcia ao vento.
11. Resisténcia ao soterramiento pelo pó.
B No Florestamento. — Náo basta fixar as areias, mas precisa-
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
89
se completar a obra pelo florestamento para impedir futuros reiní-
cios dos avanços dunares. Ao arquitetar este planejamento apoiamo-
nos na abalizada palavra de Rawitscher: «A falta de fertilidade nâo
impede o ref lorestamento . Para salvar os solos e reequilibrar as pre-
cipitaçoes o único remedio parece-nos consistir na arborizaçâo dos
campos.» Dentre os tipos mais empregados citam-se em 1.* plana:
a) Os eucalitos em capóes densos e fechados para madeira ou em
capo'netes isolados servindo de abrigo à pecuária. Das 500 espécies
determinadas estáo em uso grande número délas, b) Pinheiro marí¬
timo, árvore tradicional na Gasconha, Landes e regioes de inundaçoes
arenáreas. Esta conifera foi introduzida entre nos pela Compagnie
Française du Port, c) Adamos, em trechos miúdos, para sombra e
lenha.
C. Na Ornamentaçâo. — Aqui as espécies variam com o' gôsto
das pessoas. Já se restringe mais à açâo dos particulares no enfei-
tar a fachada e adjacências dos terrenos. Já na ornamentaçâo pú¬
blica de alamêdas, praças, jardins, logradouros públicos, notamos o
cinamomo, o' flamboyant, o jacarandá, a timbaúva, o coque iro e
outros.
O método de fixaçâo das dunas mais em uso é o de Alexandre
Míroli que resumimos nos itens:
a) Arrasar a crista do medáo, fazendo-a plana a fim de ate¬
nuar a açâo do vento. O Comoro' assim náo «fumega», fenómeno que
se observa na crista da duna em dias de vento intenso em que o
transporte de areia é muito grande. Éste aplainamento impede e
mesmo anula a açâo eolia e favorece as vegetaçôes dunicolares.
b) Plantar sobre o Comoro arrasado, estacas de álamo' italiano,
eqüidistante de lm. Podem-se empregar também outras madeiras.
c) Podar as árvores nos tres primeiros anos, para que o tronco
suba ereto, elevando-se mais, para melhor aproveitamento indus¬
trial da árvore, no futuro.
Míroli experimentou seu método em 1S06 em Córdoba, na Argen¬
tina, em dunas de 10 a 15 m. com resultados positivos.
Além do mais, sáo usados com éxito os renques de árvores
para impedir a açâo desagregadora dos ventos no transporte das
areias. Constituem os quebra- ventos, de emprégo muito comum nos
países de ventos dominantes e nefastos ás culturas. Além do mais,
poderâo servir de incitamento ao combate as vo'ssorocas. Tais filas
externas ou de barlavento sáo em uso também na proteçâo aos vivei-
ros, tanto para defendé-los das ardéncias solares como das fortes
rajadas de vento que ressecam solo e desenraízam as tenras planti-
nhas. Empregam-se corn mais vantagem as espécies folhosas com¬
pactas e de pouca filtragem das correntes aéreas, tais dentrû as co¬
niferas os cipretes. Outros tipos de copas mais largas e abertas sáo
plantados corn maiores espaçamentos. Na fase do plantío usam-se
jacàzinho's ou latinhas para conservar a umidade e manter em torno
do raizame urna térra fofa e fértil. Na fase do crescimento e do de-
9a
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
senvolvimento nao se deve desbastar o arvoredo como se costuma
fazer corn outras especies arbóreas e em outros climas e solos. Os
claros, no caso presente, sonriente poderiam ser um auxiliar para fo¬
mentar a erosâo e o avanço arenáreo. Na época do corte terá que
se agir com inteligencia, derrubandó carreiras em faixas intercaladas
para ter sempre urna cobertura vegetativa. Quando a primeira der-
rubada estiver desenvolvida poder-se-á fazer o corte das outras car¬
reiras intermediárias. E assim por diante. Em zonas mais interio¬
rizadas far-se-á o florestamento de especies lenhosas e de indus-
trializaçâo.
Dentre as vantagens que oíerecem as culturas de cobertura as-
sinalam-se:
1. Reduznn o' deflúvio, e assim, conservam a umídade.
2. Impedem a erosâo desmedida do solo.
3. Melhoram as condiçoes físicas do solo, pelo incremento no
teor de materias orgánicas.
4. Impedem a lixiviaçâo de elementos nutritivos díspo'níveis.
5. Enterradas, originam ácidos orgánicos ou outros compostosv
que contribuem para a libertaçâo de elementos nutritivos
minerais.
A seguir historiaremos, aínda que em leves traços, a atuaçâo
e fases por que passou o SFD. No decreto n.° 5.979 de 18-4-1906
aprovando o contrato com Elmer Lawrence Corthell e assinado em
12-9-1906 para a construçâo da Barra e Porto do Rió Grande, cons-
tava um item «fazer e conservar, na costa leste da embocadura do
Canal Norte, as plantaçoes necessárias para evitar que as areias
vindas pela costa, se lancem no canal marítimo.»
Nos escritos legados por Pieter Caland nota-se a mesma ínsis-
téneia em se plantar árvores nos dois lados do Canal para deter o
avanço das areias e impedir o entulhamento do canal.
Em 1891 existia um serviço de fixaçâo das areias nos cómoros
a SO e NE da Barra. Experimentaram-se entáo muítos tipos de plan¬
tas com altas e baixas nos resultados.
A introduçâo do cedro marítimo foi difícil. O meio hostil nao
permitía seu desenvolvimento . Ja em 1860 na 5d Secçâo havia plan¬
taçoes de cedro. De inicio for am plantadas de galho cerca de 40.000
mudas numa área de 265.000 m2.
A lomba -verde foi experimentada desde 1893. Seguir am-se vários
fracassos. De inicio plantavam-na em zonas baixas, alagadas perió¬
dicamente, e de areias compactas. Os resultados eram mesquinhos.
Corn a mudança de tática, corrigindo erros anteriores, localizando as
plantaçoes em terrenos altos e de areias movediças úmídas resul-
taram éxitos compensadores. ET a planta sahariana do Rio Grande
do SuL Sua denomînaçao deriva-se da ecología em que se encontrar
Crescia com grande exuberancia nos espigoes de urna lomba, ao
sul da barra, e por isso, seu epíteto popular «lomba -verde». E* au-
tóctone.
1 — No dominio das du¬
nas adelgazadas ergue-se
o farol da Solidan. Re-
giáo despovoada. No 1.?
plano tufos de vegetaçâo
praieira.
2 — Vegetaçâo nimia de-
pressáo do terreno em
Capáo Comprido, reco-
brindo completamente
antigas dunas. No fun¬
do a lagoa do Peixe.
3 — Formaçôes palmá¬
ceas (butiázeiros) que se
estendem ao sul de Pal¬
mares donde a denomi-
naçâo daqueïe acampa¬
mento humano. Apresen-
tam troncos robustos ao
passo que a copa é ente¬
sada, sinal evidente du-
ma mudanza climática.
4 — Acacia marítima os¬
tentando seu íarto raiza¬
nte táo propicio à fixaçâo
dos cômoros de areia,
Sâo José do Norte.
5 — No I.? plano a acacia
marítima no assenborea-
ünerto dunar. No 2.9, ta-
pume para fixaçâo ten-
do a cavaleiro urna plan¬
tado de encantos. Arre¬
dores de Sao José do
Norte.
G — Influencia das lesta-
das sobre a vegetaçâo,
era Soîidâo. No 1.9 plano
cobertura graminácea em
sua fase incipiente.
Nota — Todas as fotos
aquí apresentadas sao
obra do Ir. Juvéncio.
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
91
Metódicamente foi iniciado o SFD em outubro de 1919. Já em
1920 foi começada a retençâo das areias junto ao mar e no Canal
do Norte no enraizamento do molhe oeste. Ao mesmo tempo princi-
pia-se o trabalho de fixaçâo no lado leste do Canal do Norte, junto
ao enraizamento do molhe e na zona da 2d Secçâo (perto do Saco
da Mangueira).
Com trabalhos metódicos e persistentes havia-se dominado a fase
itinerante arenárea na 5.- Secçâo.
Por volta de 1922, atacam-se as construçoes das anti- dunas, ao
sul e norte da Barra para deter a invasáo das marés altas e das
areias.
Em 1943, em plena guerra, com o flm de proteger a estrada do
Petrónio (desde o Cocuruto até um quartel provisorio num capao
de aucalito da 5d Secçao próximo à praia), onde se instalaram pegas
de eucalito da 5d Secçâo próximo à praia), onde se instalaram pegas
Inicia-se éste trabalho.
Criado o Departamento Estadual de Portos, Rios e Canais, pela
Lei 1.561 de 1-10-1951, foi aprovado pelo Decreto 3.085 de 26-7-1952
o seu Regulamento com a atribuiçâo anexa de «executar os SFD.»
Sua fôlha de serviços, apesar do mínimo restrito de operários
é elevado. As plantaçoes junto ao molhe oeste-Cassino sâo antigas.
Dos 6.200 ms. de f rente corn 150 a 200 ms. de fundo (zona de loca-
lizaçâo dos cômoros) os primeiros 5.000 ms. sâo ocupados por 50.000
pés de cedro marítimo de uns 25 a 35 anos; no trecho restante de
1.200 ms. há uns 50.000 pés de acácia trinervis ou longifolia de 6
a 8 anos. Sáo dunas semi-fixas. Notam-se apenas pequeñas modi-
ficaçoes itinerantes das cristas sobre a mesma faixa, sem haver
no vos avanços para a zona do interior que é um brejal ocupado
■por juncos.
Na 2.- Secçâo, a uns 700 ms. da ponte do Saco da Mangueira
eomeça um mato de eucalitos e pinheiros marítimos. Sâo' 100.000
pés de 25 a 30 anos com urna extensáo de 6.000 ms. por 150 ms. de
largura. Do outro lado dos trilhos do «Trenzinho do Amor» há urna
extensáo de dunas semi-fixadas por cedros marítimos. Há pequeños
cômoros de cá e de lá a serem fixados. Essas dunas entre a 4.* Secçâo
Velha e Nova se movern na direçâo leste-oeste com 83 ms. anuais.
-Na beirada do litoral do Canal se colocaram grandes quantidades de
pedras para fixar o leito da estrada de ferro, impedir novas forma-
çôes de dunas com as areias projetadas pelas águas do canal e im¬
pedir a erosáo lateral pelas águas fluviais. FormaçÔes arenícolas,
aqui e acolá, realizaram bom trabalho de fixaçâo natural.
Na 5.* Secçâo (molhe leste) desde 1953 a 1955 o Comoro de areia
avançou 50 ms. enchendo a linha com areia e ameaçando as casas.
Em diversos pontos as areias estâo avançando. A velocidade de des-
locamento das mesmas é igual a 167 ms. por ano. Construíram-se
anti-dunas que as retiveram.
Os medoes do lado leste, como no oeste, progridem na direçâo
92
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
NE-SO ou L-O e as areias de leste sâo um grave perigo para o
Canal do Norte. As dunas errantes sa estendem de S. José do Norte
. _ Cocuruto e 5.* Secçâo. Nesta margem do Canal em dias de fortes
lestadas ou nordestadas a linha férrea fica coberta numa extensâo de
7 kms. pelas areias.
Em S. José do Norte duas anti- dunas, nos fundos do atual viveiro
de considerável extensâo estâo sendo fixados com o plantío de acá-
cia trinervis. O viveiro desde 1943 contém as dunas que ameaçavam
devorar a cidade. Há pequeños bosques de pinheiro marítimo, de
acácia, de eucalitos junto à estrada construida pelo Exército durante
a guerra. A duna que ameaçava a igreja e a Prefeitura foi vencida.
Os cômoros fixos envolveram um eucalital até 7 ms. de altura.
Num período de 20 a 25 anos, na frente1 entre a 5d Cecçâo e a
Ponta dos Pescadores, houve sensivel deposiçâo' de areias e vasas, fi-
cando em seco um antigo trapiche. Aínda as areias invadiram a li¬
nha férrea 5.- Secçâo-Cocuruto.
Para proteger o canal deve-se lançar mao da anti-duna. Hagen
lançou a anti-duna de maneira técnica e metódica para deter a duna.
A contra-duna é o meio para fornecer às raízes das plantas
posibilidades para o ataque (Conf. cliché, 5). Faz-se urna cêrca de
chamico e vîmes, suficientemente forte para que o vento nâo a
derrube, mas ao mesmo tempo filtrável para deixar passar as areias.
Estas se fixam em ambos os lados, formam baluartes, enterram cer¬
cas. De-pois ergue-se no cimo desta cumiada novo tapume, o quai
nâo demora a submergir-se como a anterior. Continua-se o mesmo
processo até que as areias impossibilitadas de transpor a crista se
fixem nas ladeiras. Está vencida a duna. Iniciada entâo a fase da
vegetaçâo.
A açâo do medâo nâo dominado sería um perigo quadrupulo:
paisagística e esfacelamento económico da regiâo atingida,
ruina das instalaçoes humanas, subversâo climática, modificaçâo
Os materials empregados sâo bastante variados conforme a me-
sologia. Tenho visto o uso de moiróes de álamo, eucalíto, estacas de
pinho, maricà, etc. ligados por 3 ou 4 fios de arame. Enfiam neste
aramado capim de junco, faxina, haste de milho, sapé, grama, paus,
etc. Em alguns tratos, como S. José do Norte, na base desta cêrca
plantam gravatás do mato. Êstes trabalhos sao realizados em pe¬
ríodos sêcos.
O replantio das sementeiras para latas e para a fixaçâo' do solo
é feita sômente no período úmido. Procuram para esta f inalidade
as baixadas úmidas e abrigadas.
A proteçâo contra a duna é urna luta de muitos povos. Os ho¬
landeses, cu jo pais é dos mais castigados pelo mar e areias vence-
ram-nas corn os pinheiros, plantas rasteiras e outros processes. Pa¬
ra impedir o constante progresse e invasâo praieira das areias os
engenheiros holandeses construirán! diques sobre a linha- da maré-
alta. Êsses parapeitos ou anteparos, cuidados por turmas de conser-
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
93
vaçâo, servem de parachoque em favor da vegetaçâo que fixou os
morrotes de areias movéis. Essa trincheira artificial denomina-se
«duna litoral.» Já 220 kms. das costas francesas e toda costa holan¬
desa e belga é defendida por ela.
A ante-duna Molhes-Cassino tem as características: 1. Alinha-
mento regular, esposando a direçâo' da costa. 2. Situaçâo longitudi¬
nal fora do alcance das ondas que poderiam danificá-la e nao tanto
afastada, portanto, nâo fugindo. à sua finalidade de proteger a pro¬
pria praia. 3. Linha do coroamento aproximadamente horizontal.
Na 5d Secçâo deve-se lançar urna anti-duna para a fixaçâo das
dunas praieiras e errantes.
Na costa do Rio Grande do Sul os ventos NE e SE têm freqüén-
cia de 34% e 17% respectivamente, conforme os dados de 1933 a 1942
e o transporte da areia corn direçâo NE -SO e E-O
Do lado da lagoa dos Patos, desde S. José do Norte até Bojuru
há urna verdadeira cadeia de cómoros prestes a penetrar ñas águas
da lagoa (Conf. cliché, 6). Grandes tratos da mesma já possuem
atualmente baixios enormes que tendem a estrangular a navegaçâo'
interior. Verdadeiros pontais quais enormes pinças, construidos pela
colmatagem das areias e dos sedimentos fluviais, avançam para o
centro da lagoa e obrigam os poderes públicos a manter constantes
obras de dragagem. As ilhas fronteiriças de Rio Grande também
sao completamente dominadas na sua parte central pelos medoes
arenáreos. Tais fatos nao se acentuavam tanto em tempos idos. Faz-
se mister um trabalho de conjunto e de envergadura para recon¬
quistar estes terrenos de primeira gema com risco de ver maiores tre¬
chos engolidos pelo avanço lento e seguro do elemento desértico.
Sámente um trabalho planejado e executado com tino e com as téc¬
nicas modernas poderá salvar vastas zonas, como a do Estreito que já
foi o celeiro de Rio Grande, prestes a desaparecerem para a economía
eoletiva.
BIBLIOGRAFIA
Planicie litorânea, J. J. Bigardía — Bol. Geo. out. 1947 n.° 55; Rio
Grande, Fortunato Pimentel; O Rio Grande do Sul, W. H. Harnisch;
O homem e a restinga, A. R. Lamego; Relatório do' SFD, J. Cavalcan-
te Fo.; A fisionomía do RGS, Pe. Rambo; Les aspects du Sahara,
La Nature n.° 2.785 maio 1928; Le Sahara Français, Robert-Capot-
Rey; O aspecto fitogeográfico atual do Paraná, R. Maack 1953, Ma¬
nual de conservaçâo do solo, TC 284; Consideraçoes sobre Mimosa
púdica no combate à erosáo superficial, A. F. Coimbra F. A. Mag-
nanini; Campo ou mato, Zygmunt Wieliczka 1953.
BIBLIOGRAFIA
Ricciotti (Giuseppe) — Pablo Ai óstol — Biografía
— Introducción crítica — Traduçâo do italiano por Xavier
Zurbini. 550 páginas. Editorial Conmar — Madrid, 1950,
Ricciotti profundo conhecedor do mundo palestínense, do mundo
árabe-oriental, escreve urna verdadeira biografía de Sao Paulo. Ve¬
mos o Santo pregando aos judeus, aos pagaos, aos antioquenhos, aos
gregos, aos romanos, aos hispánicos. E’ o apóstolo das gentes. O
autor nos leva pelos difíceis caminhós das viagens apostólicas pau¬
linas. Na companhia de Paulo conhecemos povos e civilizaçoes orien¬
tais. O trabalho de Ricciotti é o trabalho científico do verdadeiro
historiador e do exegeta atilado. Documentos antigos sáo vistos a-
ravés de acurada crítica e só admitidos quando reconhecídamente
irrefutáveis . Além do estudo da vida, trabalho e soflámen tos de
Paulo, Ricciotti nos leva ao estudo do epistolário paulino. Estudo
sério dos textos através dos pergaminhos gregos, sirios e latinos.
Numa palavra, o livro de Pablo' Apóstol é um grande livro que
nos dá a conhecer a grande vida do Grande Apóstolo.
O estudo de Sao Paulo se torna cada vez mais necessário em
nossos dias pois queremos arquitetar um mundo melhor e esta
obra só é póssível imitando a Cristo, vívertdo como Cristo, vívendo
como Paulo.
A. Kriekemans — Préparation au mariage et à la famille — 1957
Casterman — Tournai — Paris,
Livro traduzido do flamengû para o francés por Cécile Seresia
— 218 páginas,
Conhecemos pessoalmente o Prof. Albert Kriekemans, da Univer-
sidade de Lovaina, que estêve entre nós no lembrado curso de Psi¬
cología em agosto de 1957. Agora visita-nos corn um livro que nos
instruí sobre o casamento e a vida da familia. Profunda psicología
do sexo e do amor. Páginas seguras de orientaçâo para a nossa
juventude e nossos lares.
O livro tem dois grandes capítulos. O primeiro capítulo — in-
titula-se: La préparation au Mariage. Divide-se em subcapítulos que
só o seu enunciado' nos dá idéia clara da materia: Une compréhension.
PONT. UNIV. CAT. DO R. G. S.
95
de la psychologie des sexes. Une éducation sexuelle sérieuse. Une
juste notion et une expérience conséquente de l’amour dans le ma¬
riage. Un choix et des rapports judicieux. Capítulo II: L’éducation
fonctionnelle par la famille et le structure familiale. No segundo
capítulo encontram-se subtítulos como: «L’entente conjugale ou le
mariage parfait et inparfait. La tâche du père. La tâche de la mère.
Les rélations entre parents et enfants. Amis et amies. Hôtes. Do¬
mestiques.
O livro de Kriekemans nos traz, outrossim, urna rica bibliografía
sobre assuntos de vida familiar.
É um livro rico de doutrina, encanto para o leitor, formador do
coraçâo e da vida da juventude que deseja construir um lar segundo
o coraçâo de Deus.
J. E. C.
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
DO RIO GRANDE DO SUL
Porto Alegre
ENTIDADE MANTENEDORA
Uniâo Sul Brasileira de Educaçâo e Ensino (U.S.B.E.E.)
Irmâos Ma ristas
ADM I N I STRACÂO GERAL
_»
Chanceler
Dom Alfredo Vicente Scherer, Arceb:spo de Porto Alegre
Reitor
Prof. Irmâo José Otâo
Vice-Reitor
Prof. Manoel Coelho Parreira
Secretario Gérai
Irmâo Elvo Clemente
Conselho Universitario
Prof. Irmâo José Otâo
Prof. Manoel Coelho Parreira
Prof. Francisco da Silva Juruena
Mons. Alberto Etges
Prof. Antonio César Alves
Prof. Ivo Wolff
Prof. Irmâo Faustino Joâo
Prof. Balthazar Gama Barbosa
Prof. Wilson Tupinambá da Costa
Prof.a Elsa Helm
Académico Milton Roa
Ccnselho Superior
Prof. Irmâo José Otâo — Reitor
Prof. Irmâo Faustino Joâo — Representante da U.S.B.E.E.
Prof. Irmâo Leoncio José — Representante da U.S.B.E.E.
Prof. Irmâo Liberato — Representante da U.S.B.E.E.
Mons. Alberto Etges — Representante do Chanceler.
DIRETORES DAS UNIDADES UNIVERSITARIAS EM 1957
1 — Faculdade de Ciencias Políticas e Económicas: Prof. Dr.
Francisco da Silva Juruena.
2 — Faculdade de Filosofía, Ciencias e Letras: Prof. Ivo
Wolff.
3 — Faculdade de Direito: Prof. Dr. Balthazar Gama Barbosa.
4 — Faculdade de Odontología: Prof. Wilson Tupinambá da
Costa
5 — Escola de Servico Social: Prof.a Elsa Helm
6 — Instituto de Psicología: Prof. Irmâo Hugo Danilo.
PONTIFICIA UNIVERSIDÀDE CATÓLICA
DO RIO GRANDE DO SUL
Porto Alegre
Equiparada pelo Decreto n.° 25.794 de 9 de novcmbro de 1948
FUNDADA E MANTIDA PELOS IRMÁOS MARISTAS
A Pontificia Universidade Católica do R.G.S. compreende:
— INSTITUTOS UNIVERSITARIOS
1 — Faculdade de Ciéncias Políticas e Económicas - —
— Fundada em 1931
2 — Faculdade de Filosofía, Ciéncias e Letras - — -
Fundada em 1 940
3 — Faculdade de Direito — Fundada em 1946
4 — Faculdade de Odontología — Fundada em 1953
5 — Escola de Serviço Social — Fundada em 1945
— INSTITUTOS COMPLEMENTARES
1 — Instituto de Psicología - — Fundado em 1953
2 — Centro de Pesquisas Económicas — Fundado
em 1954
3 — Curso de Orientacóo Educacional — Fundado em
1958
.